Do ESTADAO.COM.BR
Bianca Ribeiro, da Agência Estado
Bianca Ribeiro, da Agência Estado
Paralisação causará sensível piora do saldo da balança comercial na semana entre os dias 6 e 10 deste mês
SÃO PAULO - A adesão de fiscais agropecuários, na semana passada, às
paralisações em curso da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância
(Anvisa) causará sensível piora do saldo da balança comercial na semana entre os
dias 6 e 10 deste mês. Segundo entidades de classe e analistas, o quadro é
preocupante pois a mobilização dos servidores do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) impacta o desembaraço das vendas e,
consequentemente a conta de exportações, lado da balança que vinha sendo menos
afetado que as importações.
Mesmo prevendo queda nas exportações na semana passada, os analistas do setor
estão reticentes na projeção de números. O economista da Tendências Consultoria
Bruno Lavieri reforça que a balança semanal é muito volátil e os reflexos na
importação e exportação não estão sendo simultâneos. "Em julho, por exemplo, as
importações foram mais afetadas. Em agosto, é possível que o reflexo nas vendas
externas seja maior", diz.
A MCM Consultores também não faz previsão semanal, mas o economista Alexandre
Antunes diz que, após os dados que serão divulgados nesta segunda-feira às 15h
pelo MDIC, a consultoria provavelmente fará uma revisão para baixo do saldo
comercial de agosto, que atualmente aponta para um superávit de US$ 1,5
bilhão.
Em muitos casos, a saída de um produto acaba apenas sendo protelada para
outra semana ou para a ocasião em que a paralisação dos servidores ceder,
compensando no futuro uma queda pontual nas contas comerciais. Antunes lembra,
no entanto, que no caso de produtos perecíveis nem sempre isso é possível.
O vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), Fábio Martins Faria, lembra ainda das perdas econômicas das empresas que
lidam com o risco de deterioração da carga e até de suspensão do embarque,
sofrendo multa diárias por atraso em cumprimento de contratos, além de custos
adicionais de estocagem.
De acordo com Faria, um levantamento preliminar da AEB feito até quinta-feira
(9) dava conta de 150 navios aguardando autorização para atracação nos
principais portos brasileiros. "Isso gera um gasto médio com multas de US$ 30
mil a US$ 40 mil por dia para as empresas", diz. Ele destaca também o custo de
credibilidade junto a clientes estrangeiros que, a par dos problemas de
desembaraço no Brasil, acabam fazendo encomendas a outros países concorrentes do
País na disputa de mercado externo.
"A Anvisa não deixa o navio chegar e o Mapa não deixa o navio partir" diz
Ricardo Martins, diretor do Departamento de Comércio Exterior da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Considerando a média diária de
compras e vendas no acumulado de janeiro a julho, Martins acredita que o
conjunto de paralisações deve gerar pelo menos uma redução de US$ 2,610 bilhões
nas importações e de US$ 2,850 bilhões nas exportações. Para fazer uma conta
preliminar, o dirigente somou três dias da mobilização na semana passada com
médias diárias estimadas de US$ 870 milhões em importações e de US$ 950 milhões
em exportações.
"Esperamos que seja feito algo a respeito, pois o problema de exportação pega
no calo do governo. Se antes a mobilização da Receita estava ajudando a conter
déficit da balança, isso agora prejudica os dois lados da conta e pode ter um
impacto mais profundo no saldo", afirma Martins.
Na primeira semana de agosto, com três dias úteis, as exportações registraram
média diária de US$ 937,7 milhões, 17,6% menor ante agosto de 2011. Nas
importações, a média diária caiu 18,9% e somou US$ 785 milhões, conforme dados
dos Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
divulgados no dia 6 deste mês.
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