Por Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Apesar do baixo nível da atividade produtiva, o consumo interno continua,
digamos, de muito bem para melhor.
Os números apontados ontem pelo IBGE mostram que, em junho, o volume de
vendas no mercado varejista avançou 1,5% sobre o mês anterior (veja no gráfico),
o que perfaz um crescimento acumulado de 9,1% no primeiro semestre de 2012 e de
7,5% no período de 12 meses terminado em junho. É um desempenho impressionante
num quadro internacional de recessão, o que não é pouco.
Esse resultado não deixa de surpreender. No início deste mês, a Associação
Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou estatísticas que indicavam retração
grave no mercado de consumo em maio, de nada menos que 5,5% ante o mesmo mês do
ano anterior. Não há explicação para essa divergência estatística. Apenas as
diferenças de metodologia não a justificam. Os números do IBGE parecem mais
confiáveis.
O problema da economia brasileira não está na demanda, cujo desempenho, como
se vê, está mais do que satisfatório. Está, sim, na oferta, especialmente da
indústria, que não acompanha o aumento do consumo interno. Mostra que não basta
estimular o consumo, é preciso ter condições de enfrentar a concorrência tanto
no mercado externo quanto no interno. Não é demais repetir que o fator que deixa
a indústria brasileira para trás é o altíssimo custo Brasil, que só agora o
governo Dilma ataca com alguma eficácia.
Outro dado divulgado ontem foi a evolução do Índice Geral de Preços, o
IGP-10. Esse 10 indica que o índice mede a variação de preços no período de 30
dias terminado no dia 10. Não é um indicador de inflação que serve de referência
para definir a política de juros. No entanto, antecipa um indexador importante,
o IGP-M, que reajusta grande número de preços e valores, sobretudo dos aluguéis,
dos contratos financeiros e das tarifas públicas.
O avanço do IGP-10 em agosto foi bem mais elevado. Foi de 1,59% (sendo de
0,96% em julho). Mas o número mais preocupante é a escalada dos preços dos
produtos agropecuários no mercado atacadista, de nada menos que 6,23%.
Essa alta reflete o impacto do choque dos alimentos em consequência da seca
que atacou os principais centros produtores de grãos do maior país agrícola do
mundo, os Estados Unidos.
É inevitável que parte dessa alta no atacado seja repassada para o varejo
(custo de vida). E esse é o principal fator que pode levar o Banco Central a
rever sua disposição de manter o processo de afrouxamento monetário (baixa dos
juros) à proporção de meio ponto porcentual por mês. Há dois dias, o diretor de
Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, já admitia que não
estava em condições de prever em quanto este choque dos alimentos poderia
desviar a inflação (evolução do IPCA) do centro de sua meta de 4,5% neste
ano.
De qualquer maneira, esta é mais uma oportunidade para se notar como não faz
sentido usar a variação do IGP-M como critério de reajuste dos aluguéis
residenciais. Agora, o inquilino vai ter de pagar mais pela moradia simplesmente
porque o centro-oeste dos Estados Unidos enfrenta a maior seca dos últimos 50
anos.
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