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Nas gravações anteriores à Operação Monte Carlo, hé indícios de agressões

RIO - Gravações inéditas divulgadas neste domingo pelo “Fantástico”, da Rede
Globo, revelam um lado pouco conhecido do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Em uma
investigação anterior à Operação Montecarlo, grampos indicam que ele teria
comandado um sequestro. Em abril de 2009, Cachoeira estava desconfiado de que
alguém fraudava os caça-níqueis. Araponga de Cachoeira, Idalberto Araújo, o
Dadá, foi checar se procedia o temor do chefe e deu o retorno:
— Excelente! Faz isso aí, manda brasa aí, desbarata esses malandros —
respondeu Cachoeira.
Segundo a PF, as conversas apontam que Elion Alves Moreira foi feito refém
pelo grupo de Cachoeira, para que confessasse a fraude. Outra conversa entre
Dadá e Cachoeira revela o plano:
-— O celular dele tá aqui com a gente, entendeu? Então ele tá sem comunicação
com o time dele.
— Pega ele e leva ele pra outro canto. Até ele contar.
-— Tá bom, então.
Outro grampo mostra que Elion foi agredido durante o sequestro. Dadá conta
que ele levou um "pescoção":
-— Era melhor ele (Elion) ter baixado a bola e não ter levado o pescoção.
Cachoeira responde:
— Exatamente, malandro tem que arrumar a mão na orelha mesmo.
Ao “Fantástico”, o advogado de Elion disse que não houve sequestro. Ele
afirmou que a suspeita da PF foi uma interpretação equivocada dos fatos. Dadá
afirmou que não se pronunciaria sobre a reportagem.
— O Carlinhos Cachoeira é o chefe de uma organização criminosa de perfil
mafioso. Uma pessoa extremamente ousada, inteligente, que não respeita as
autoridades constituídas — afirma a procuradora da República Léa Batista de
Oliveira.
As escutas telefônicas e vídeos aos quais o “Fantástico” teve acesso ajudam a
entender a formação do império do jogo ilegal montando por Cachoeira. O gerente
do contraventor Lenine Araújo de Souza, primo dele, também foi investigado na
Operação Monte Carlo. Gravações mostram a conversa de Lenine com um homem, a
quem cobrava um dos pagamentos pela manutenção de um ponto de jogatina. A
polícia estima que o dono tenha que pagar 30% do faturamento do ponto à
quadrilha. Gravações de 2009 mostram que o grupo atuava no ramo do jogo ilegal
havia pelo menos 17 anos.
Grupo pagava propina a policiais
O grupo de Cachoeira, de acordo com a reportagem do “Fantástico”, pagava
propina a pelos menos 38 policiais. Um policial federal, que foi chefe na
Divisão de Serviços Gerais da PF, chegou a receber dinheiro da quadrilha.
Anderson recebia o dinheiro para manter a quadrilha informada das operações da
PF. Uma das gravações mostra Anderson Aguiar Drumond avisando a Idalberto de
Araújo, o Dadá. araponga de Cachoeira, sobre uma operação para fechar uma casa
de jogos. Anderson, em uma das gravações, pede dinheiro a Dadá:
— Tem jeito de você creditar aquela parcela pra mim?
— Pego o número da conta e deposito. O nome é Anderson, né?
-— Anderson Aguiar Drumond.
Em nota ao “Fantástico”, o advogado de Anderson disse que as provas são
ilíticas, estão fora de contexto e não representam a realidade.
Ainda de acordo com a reportagem, Cachoeira criou uma espécie de tropa de
choque, formada por policiais militares do entorno de Brasília. De acordo com a
procuradora Léa Batista de Oliveira, Cachoeira mandava os PMs fecharem as casas
de jogos dos concorrentes. O “Fantástico” localizou um homem que frequentava os
estabelecimentos comandados por Carlinhos Cachoeira. Ele afirma que os
seguranças dos bingos eram sempre PMs, e que já presenciou espancamento e tiro
nos locais.
— Essa quadrilha era um verdadeiro poder paralelo, deixando a sociedade à
mercê dos policiais civis, militares e federais que eram pagos para protegê-los
em prol da manutenção dos jogos no entorno de Brasília e em outras regiões — diz
o delegado da Polícia Federal Matheus Rodrigues.
Cachoeira, atualmente sem advogado, está preso na Penitenciária da Papuda, em
Brasília, e pode ser condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha. Um
dos irmãos de Cachoeira disse ao “Fantástico” que Cachoeira nega ter praticado
os crimes.
— O chefe da organização criminosa está preso, mas a organização criminosa
não foi totalmente desarticulada. A organização está trabalhando, movimentando,
ameaçando, chantageando, mandando recado — diz a procuradora da República Léa
Batista de Oliveira.
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