A Câmara dos Deputados do Paraguai, controlada pela oposição, aprovou nesta
quinta-feira (21) o início de um processo de impeachment contra o presidente
Fernando Lugo, após a morte de nove camponeses e oito policiais durante um
conflito agrário em Curuguaty (250 km de Assunção), no leste do país, perto
da fronteira com o Brasil, na última sexta-feira (15).
Em uma votação nesta manhã, a Câmara aprovou o julgamento de impeachment por
73 votos a favor e 1 contra. Agora, passará ao Senado, que também é controlado
pelos adversários de Lugo. Caso seja aprovado, o julgamento de impeachment será
realizado no próprio Senado. Lugo está na presidência do Paraguai desde agosto
de 2008.
As próximas eleições presidenciais estão marcadas para 23 de abril de 2013, e
o período presidencial finaliza em 15 de agosto desse ano. Lugo declarou que
continua sendo presidente, mesmo com a aprovação na Câmara dos Deputados de seu
julgamento político.
"Este presidente anuncia que não apresentará renúncia ao seu cargo e que se
submete com absoluta obediência à Constituição e às leis ao enfrentar o juízio
político com todas as suas consequências", disse Lugo em pronunciamento à nação
no palácio de governo.
"Não existe nenhuma causa válida, nem política, nem jurídica, que me faça
renunciar a este juramento", acrescentou.
Lugo, um ex-bispo da religião católica, eleito há quatro anos pelas promessas
de defender as necessidades dos pobres, tem tido dificuldades para levar sua
agenda de reformas por conta da influência da oposição no Congresso.
Pela primeira vez, há a possibilidade do chefe de Estado do Paraguai ser
afastado de seu cargo, por causa do julgamento político no Congresso.
Unasul se reúne no Rio
A Unasul (União das Nações Sul-americanas) se reunirá em caráter de urgência
no Rio de Janeiro para analisar a situação paraguaia. A maioria dos líderes
sul-americanos está na capital carioca por conta da Rio+20.
A informação foi divulgada pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.
"Nós na Unasul defendemos a democracia e esta posição é fixa e não negociável",
afirmou o mandatário colombiano, ao anunciar o encontro emergencial.
Brasil vê golpe
A presidente Dilma Rousseff informou por meio de sua assessoria que acompanha
com “apreensão” a situação política no Paraguai.
Até o momento, o governo brasileiro apenas soube da votação de um
“impeachment” do presidente Fernando Lugo pela Câmara do país. A votação pelo
Senado deve ocorrer hoje (21.jun.2012) à tarde.
Dilma não falou ela própria com Lugo, mas a diplomacia brasileira entrou em
contato. O sentimento dentro do governo brasileiro, embora ainda ninguém do
entorno da presidente fale em público, é que o “impeachment” de Lugo teria o
efeito de um golpe de Estado –pela rapidez e forma com que está sendo conduzido.
O Brasil deverá reagir condenando tal desfecho. (Com agências internacionais e
informações de Fernando Rodrigues)