Por DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Os fatos recente e diariamente revelados sobre bicheiros, empreiteiros,
políticos e governos falam por si sobre a urgência de que o Congresso instale e
leve adiante uma boa de uma comissão parlamentar de inquérito.
Inclusive dentro dos parâmetros considerados ideais pela presidente Dilma
Rousseff quando falou a estudantes de Harvard, na visita aos Estados Unidos, a
respeito da necessidade de se atacar as ações dos corruptos e, sobretudo, as dos
"corruptores".
Nessa categoria já existe até um personagem síntese: Fernando Cavendish, dono
da empresa Delta Construções citada como dona dos grandes negócios com governos
cuja metodologia de desempenho, se for mesmo a considerada por ele como garantia
de presença no submundo do poder - "botar R$ 30 milhões na mão de um político"
-, explica a razão do sucesso.
A coisa (a ideia da CPI) começou naquela base já conhecida: meio à vera meio
à brinca. Com tanta gente envolvida, com tantas contas em aberto a serem
expostas que o cenário parecia o habitual: instala-se a CPI e depois se cuida
para que não prospere, produzindo relatórios inconclusivos e votos em separados
mais inócuos ainda.
Mas aí Lula enxergou uma janela de oportunidade e, como sempre, mirando no
imediato e deixando para lá o permanente, orientou a direção do PT a incentivar
as investigações.
Um bom serviço não fosse a valentia produto de pura chicana com a finalidade
de "pegar" os oposicionistas envolvidos e revestir de lama o panorama onde há
expectativa para breve do julgamento de um processo onde dirigentes do PT (ex e
atuais) figuram como líderes de organização acusada de ser "criminosa". Ato
contínuo, porém, começou a baixar a prudência, para não dizer paúra, na turma do
deixa isso para lá, lembrando que são muitos os telhados de vidro em jogo.
Tarde demais. Os fatos atropelaram as versões e agora não há mais recuo
possível sem o risco de um vexame amazônico. Dizer o quê, se os tentáculos de
Carlos Augusto Ramos, vulgo Cachoeira, alcançam Chico e também Francisco?
Por ora há as assinaturas necessárias. Faltam as indicações dos integrantes
da comissão, a instalação e a definição do roteiro dos trabalhos propriamente
ditos que, nessa altura, só têm caminho de ida. Atinjam a quem atingirem.
A propósito, a expressão correta não é doa "a" quem doer. É doa "em" quem
doer.
Impressões. Há dúvida no Supremo Tribunal Federal de que o ministro Dias
Toffoli, advogado-geral da União no governo Lula, possa vir a se declarar
impedido de participar do julgamento do mensalão.
Bem como é corrente no tribunal o raciocínio de que o ministro-revisor do
processo, Ricardo Lewandowski, não deve atrasar além do estritamente necessário
a liberação de seu relatório.
Dado o risco de prescrição de penas menores caso haja condenação, nem ele nem
qualquer um dos ministros gostaria de passar à História como "coveiro" - sim,
essa é a expressão usada - do processo.
Lewandowski decidiu sair da presidência do Tribunal Superior Eleitoral para
se dedicar à elaboração do relatório que liberará o processo para entrar na
pauta e o que se diz entre os ministros é que ele já não está mais propenso a
considerar, como anteriormente, o prazo de seis meses para concluir o
trabalho.
Atriz convidada. A participação de Marta Suplicy em inauguração de um Centro
de Educação Unificado (CEU) em São Bernardo do Campo junto com Lula e Fernando
Haddad não quer dizer que a senadora passará a circular com o candidato de agora
em diante.
A presença dela foi pontual. Marta só entrará de fato da campanha depois de
oficializada a candidatura petista e, ainda assim, mediante correção de rumos
que ela considera equivocados. Enquanto isso continuará alegando que o trabalho
na vice-presidência do Senado lhe ocupa todo o tempo.
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