terça-feira, 20 de setembro de 2016

POLÍTICA: Câmara vive ressaca após manobra para votar anistia ao caixa 2

OGLOBO.COM.BR
POR ISABEL BRAGA

Segundo parlamentares, texto do projeto segue sem autoria assumida

Sessão do Congresso Nacional - Luis Macedo/Agência Câmara

BRASÍLIA — A Câmara vive nesta terça-feira a ressaca da tentativa frustrada de aprovar na noite de ontem projeto que criminaliza o caixa 2 de campanhas eleitorais, mas que poderia abrir brecha para livrar da Justiça políticos que cometeram essas irregularidades no passado. Os deputados ainda demonstram perplexidade, criticam a falta de transparência na inclusão do debate na pauta e cobram o texto do projeto que, segundo eles, continua sem paternidade assumida.
— O texto continua sumido. Temos que fazer um teste de DNA para descobrir a paternidade — criticou o deputado Sandro Alex (PSD-PR).
Ainda na noite de ontem, líderes tentaram votar a proposta, mas diante da reação forte do plenário, a ação não prosperou. Nesta terça-feira, muitos tentam entender como se deu a articulação para a manobra. Deputados lembraram que o acordo é que não teria mais sessões da Câmara em setembro, por causa das eleições, mas que foram surpreendidos com a convocação do Congresso e depois da Câmara, com a pauta. A manobra foi revelada na coluna de Merval Pereira publicada no GLOBO de domingo.
O deputado Ságuas Moraes (PT-MT) contou que no início da noite de ontem, quando alguns já comentavam que o texto poderia ser votado ontem, deputados do PT fizeram uma reunião da bancadas para tomar conhecimento do que se tratava. Segundo ele, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), falou sobre o que estava em debate, mas disse que não tinha redação pronta.
— Ele disse que o projeto iria criminalizar o caixa 2 daqui para frente, aumentava a pena, mas que poderia fazer uma anistia para trás. Ele pegou a informação e levou para a gente. E nós afirmamos que alguém teria que assumir a autoria, mostrar o texto, para depois nos posicionarmos — afirmou Ságuas.
Para o deputado do PT, essa foi uma articulação para tentar evitar que políticos de outros partidos sejam pegos, a exemplo do que aconteceu com alguns do PT, na Lava-Jato:
— A gente sabe que a história do golpe aconteceu porque houve acordo para parar a Lava-Jato. Como passou do ponto e não tem mais como parar, tem que procurar uma maneira de anistiar. Acho que os que defenderam o golpe foram cobrar a fatura.
Logo pela manhã, na comissão especial que analisa as dez propostas de combate à corrupção apresentadas pelo Ministério Público, o presidente da comissão, Joaquim Passarinho (PSD-PA) criticou a falta de transparência da manobra, referindo-se a ela como tentativa de golpe. O relator da comissão, Onix Lorenzoni (DEM-RS) também criticou o fato. Outros deputados presentes, entre eles Carlos Sampaio (PSDB-SP), que segundo líderes teria participado das negociações para a votação da proposta ontem, também condenou a falta de transparência e voltou a dizer que defende a aprovação do texto enviado pelo Ministério Público.
Bombardeados nas redes sociais, deputados de diferentes partidos insistiam não terem sido informados pelos seus líderes de que essa proposta estaria em debate ontem. A maioria afirmou que a convocação era principalmente para a sessão do Congresso Nacional, que votaria propostas importantes como recursos para o Fies ( Fundo de Financiamento Estudantil).
— Era para votar o Fies. Isso da criminalização do caixa 2 está sendo debatido lá na comissão especial. Por que trazer para o plenário, dessa forma? — criticou o deputado Jorginho Melo (PR-SC)
Também em plenário, quando a sessão do Congresso foi aberta, vários reclamaram. Nos bastidores muitos chamavam o ocorrido de "operação tabajara".
— Fomos desrespeitados com a inclusão disso na pauta sem qualquer informação — afirmou Hildo Rocha (PMDB-MA).
O líder do PROS, Ronaldo Fonseca (DF), disse que não participou da articulação e que, quando soube do que estava acontecendo, ligou para o líder do governo, André Moura (PSC-SE), para cobrar. Segundo ele, Moura disse que o governo não tinha nada a ver com a questão.
— Pelo que eu entendo, quem faz a pauta é o presidente da Câmara. O (Waldir) Maranhão está como interino, mas o que parece é que ele estava cumprindo missão — afirmou Fonseca.
Embora o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA) tenha admitido que houve uma articulação por parte de várias legendas, deputados tucanos também afirmaram que foram pegos de surpresa.
— Não teve reunião das bancadas para discutir isso. Não sabemos sequer qual é o texto até agora. Fomos chamados para vir votar na sessão do Congresso. Se trouxer benefícios para quem está sendo investigado na Lava Jato, sou contra — afirmou o deputado Miguel Haddad (PSDB-SP).
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) criticou a decisão de incluir a proposta na pauta sem consultar todos os líderes:
— Maia tem que recuperar a tradição de discutir com todos os líderes a pauta de votações. Foi desonesto colocar isso na pauta daquela forma, por debaixo dos panos.Deputados reclamam da manobra para votar anistia do caixa 2.

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