quarta-feira, 21 de setembro de 2016

ECONOMIA: Gasolina mais barata à vista: Petrobras pode reduzir preço

OGLOBO.COM.BR
POR BRUNO ROSA / RENNAN SETTI

Diminuição pode ocorrer até o fim do ano. Último reajuste foi há um ano

- Domingos Peixoto / O Globo

RIO - No mesmo dia em que apresentou seu Plano de Negócios para o período de 2017 a 2021, fontes próximas à direção da Petrobras informaram que a estatal estuda reduzir o preço da gasolina para garantir a paridade com o preço internacional. A diretoria analisa os possíveis cenários, e a queda de preço poderia ocorrer até o fim do ano. A última vez em que a petroleira reajustou o preço da gasolina e do diesel foi em setembro do ano passado.
Na apresentação do plano, o presidente da estatal, Pedro Parente, ressaltou que não precisa perguntar ao governo sobre reajuste de combustíveis:
— A principal diferença é que, se quisermos mudar o preço hoje, mudamos. Se quisermos mudar amanhã, mudamos. Avaliamos as condições de mercado. Não temos que perguntar nada a ninguém. Podemos fazer os movimentos que consultam os interesses da empresa. É decisão de natureza empresarial — disse Parente, que afirmou que, até a última reunião de diretoria, ainda não havia necessidade de reajuste.
Segundo Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a possível redução dos preços dos combustíveis visa a arrumar distorções que os preços mais caros no Brasil estão causando. Ele cita o aumento da importação de diesel e gasolina pelas distribuidoras. Na última semana, a estatal vendia gasolina 20% mais cara no Brasil em relação ao exterior, e o diesel com preço 40% maior.
— Com isso, a Petrobras está perdendo vendas. As importações só não são maiores porque não há infraestrutura. Daqui a pouco vai sobrar gasolina e diesel nas refinarias da Petrobras, mas, claro, esse não era o melhor momento, já que a empresa perdeu receita nos anos anteriores vendendo combustíveis mais baratos em relação ao mercado internacional — disse Pires.
FOCO NA REDUÇÃO DO ENDIVIDAMENTO
A informação sobre a possível redução do preço de combustíveis até o fim do ano foi antecipada pela GloboNews e confirmada pelo GLOBO. A falta de previsibilidade da política de preços é um dos fatores que afugentam os investidores, segundo especialistas. A adoção de preços de mercado é considerada uma das condições para que o Plano de Negócios tenha êxito, já que ele é apoiado na venda de ativos, na atração de parceiros estratégicos para o desenvolvimento de projetos, de modo a reduzir o endividamento da estatal. A meta da estatal é arrecadar US$ 19,5 bilhões com desinvestimentos e parcerias entre 2017 e 2018, número maior que os US$ 15,1 bilhões previstos entre 2015 e 2016. Nesta fase de “austeridade”, como definiu Parente, a estatal pretende sair da área de biocombustíveis, fertilizantes, petroquímica e gás de botijão. Além disso, buscará sócios para refinarias, operações de logística e transporte de líquidos e gás. Na lista estão campos de petróleo na Bacia de Campos e o pré-sal. O anúncio do plano foi bem recebido pelo mercado. As ações preferenciais, sem direito a voto, da Petrobras subiram 3,45%, a R$ 13,50.
Para se ter uma ideia do tamanho do programa de venda de ativos, de US$ 19,5 bilhões, o valor de mercado da Petrobras somava, ontem, US$ 57,5 bilhões. Com a estratégia, a Petrobras calcula que US$ 40 bilhões em investimentos em dez anos seriam feitos por outras empresas. Segundo analistas e fontes do setor, há muitos desafios para que a estatal seja bem-sucedida na venda de negócios tão diversos e em setores em que praticamente não há concorrentes, como refino e gás.
O pacote de venda de ativos faz parte do Plano de Negócios, que prevê investimentos de US$ 74,1 bilhões, queda de US$ 25% em relação ao plano anterior (2015-2019), de US$ 98,4 bilhões, como antecipou O GLOBO. É o menor volume desde 2006-2010, na gestão de José Sergio Gabrielli. Os analistas do mercado classificaram o plano de “agressivo” e “desafiador”.
Luana Siegfried, analista da consultoria Raymond James, considerou o prazo curto para atingir a meta de venda de ativos:
— Enxergamos de forma cética essa meta. Mas reconhecemos que a gestão de Pedro Parente está tendo muito mais sucesso na venda de ativos. É difícil fechar nesse número, mas ela pode vender parcela interessante, e isso já seria positivo.
Com o plano, que prevê redução de 18% nos custos operacionais para US$ 126 bilhões entre 2017-2021, a Petrobras espera reduzir seu nível de endividamento em 2018 e recuperar o grau de investimento, o selo de boa pagadora concedido pelas agências de classificação de risco. O objetivo é reduzir a alavancagem — a relação entre dívida líquida e geração de caixa — de 5,3 vezes, em 2015, para 2,5 vezes em 2018. A produção de petróleo e gás ficaria estável até 2018, em torno de 2,07 milhões de barris de petróleo. Segundo Parente, a produção chegaria a 2,77 milhões de barris diários em 2021:
— Tem dois anos de preparação, de mais aperto e austeridade para que a gente possa crescer em condições saudáveis. E nos três anos seguintes vamos voltar a crescer de maneira disciplinada. Nos primeiros dois anos vamos apertar o passo para alcançar a nossa saúde financeira. Estamos antecipando a meta de alavancagem em dois anos.
Segundo o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, a redução da “alavancagem virá da melhoria da receita, da redução dos custos e do programa de parcerias e desinvestimentos”. Por isso, a estatal não pretende ter captações líquidas até 2021. Desde que perdeu o grau de investimento, ela tem de arcar com juros altos para contratar empréstimos. Entre 2017 e 2021, a empresa pretende usar US$ 158 bilhões do caixa como fonte de financiamento, de um total de US$ 179 bilhões, explicou:
— Queremos encurtar o colesterol ruim. Esse colesterol ruim se chama alavancagem. A empresa não pode ficar com esse nível fora dos padrões internacionais. A busca de parcerias é decisiva para o plano, porque não vamos ter captações líquidas nesse período. O foco agora é rentabilidade. Uma das variáveis do plano é ter a certeza de que cada real investido voltará em retorno para a companhia.
A área de Refino e Gás Natural é a que sofrerá as maiores mudanças nos próximos dois ano. Jorge Celestino, diretor da área, disse que a ideia é fazer algo semelhante com o que foi feito em Exploração e Produção (E&P), segmento em que a Petrobras tem sócios em campos de petróleo. A Petrobras quer ainda “consolidar os ativos termelétricos e rever o posicionamento do negócio de lubrificantes”. No caso das refinarias, Celestino destacou que os estudos estão avançados:
— Estudamos alguns modelos de negócios no que tange a um conjunto de ativos ou ativos separados. Os estudos estão em fase avançada. O que estamos fazendo aqui é buscar parceiros.
A Petrobras continua interessada em vender fatias em campos de petróleo. Solange Guedes, diretora de Exploração e Produção (E&P), citou a Bacia de Campos, cujas áreas estão no que ela chamou de produção com declínio controlado:
— A estratégia relevante é que, além de estarmos com o declínio controlado, daremos ênfase a parcerias estratégicas.
Segundo o plano, a área de E&P vai receber US$ 60,7 bilhões em investimentos entre 2017 e 2021. Desse total, 66% irão para o pré-sal, cessão onerosa e partilha (Libra). O restante será destinado ao pós-sal. Como pretende cortar gastos nos próximos dois anos, Solange disse que até 2018 a companhia vai acessar volumes já descobertos e ampliar o valor dos ativos existentes mediante a participação de parceiros:
— A Petrobras irá avaliar com atenção as oportunidades dos leilões no Brasil e no exterior. Olharemos com atenção oportunidades no pré-sal, assim que houver a retomada dos leilões.
Parente destacou os desafios no país. Ele citou a Operação Lava-Jato, afirmando ter “repercussões importantes”. Outros focos de atenção são as disputas judiciais em curso no Brasil e nos EUA, a renegociação da cessão onerosa e o impacto da política de conteúdo local nos custos e prazos de plataformas, além do atraso na construção destas.
O plano prevê a recuperação no preço do barril de petróleo. Segundo a estatal, o Brent passará de uma cotação média de US$ 45 neste ano para US$ 71 em 2021.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |