Do UOL, em São Paulo
Guilherme Balza
- Luciano Vicioni/Diário do Grande ABC - 01.10.2000O ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), assassinado em janeiro de 2002
Bruno Daniel Filho, irmão de Celso Daniel, afirmou esperar que os jurados
reconheçam que o ex-prefeito de Santo André (SP) foi morto a mando de Sérgio
Gomes da Silva, “o Sombra”, após impor limites a um esquema de corrupção dentro
da prefeitura do município, tese defendida pelo Ministério Público desde o
início das investigações.
“Minha expectativa é que a tese do MP seja aceita, assim como ocorreu no júri
do Marcos Bispo dos Santos. A morte de meu irmão não foi um crime comum”,
afirmou Bruno. Ele também espera que os réus tragam elementos novos que ajudem a
elucidar o caso.
Cinco acusados pela morte de Celso Daniel serão julgados a partir das 9h30
desta quinta-feira (10) no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo). O
ex-prefeito de Santo André foi morto a tiros em janeiro de 2002, e seu corpo
encontrado em uma estrada de terra no município de Juquitiba, vizinho a
Itapecerica. As circunstâncias do crime até hoje não foram totalmente
esclarecidas.
Irão a júri os réus Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como “Monstro”; Elcyd
Oliveira Brito, o “John”; Rodolfo Rodrigo dos Santos, o “Bozinho”; Itamar
Messias dos Santos; e José Edson da Silva. Todos faziam parte da quadrilha da
favela Pantanal, na divisa de São Paulo com Diadema, que sequestrou e matou
Celso Daniel. A defesa arrolou 13 testemunhas para o julgamento; o Ministério
Público, nenhuma.
Segundo Bruno, Celso Daniel era conivente com o esquema, mas quis impor
limites a partir do momento que descobriu que integrantes do grupo estavam
enriquecendo com o dinheiro desviado. Ele disse que Gilberto Carvalho,
secretário-geral da Presidência da República e secretário de governo da gestão
Celso Daniel, lhe confessou que ele próprio havia transportado em seu carro R$
1,2 milhão arrecadado no esquema.
QUEM FOI CELSO DANIEL
Celso Daniel nasceu em 16 de abril de 1951 em Santo André. Foi professor de
economia e ciências sociais da FGV e PUC e participou da fundação do
PT. Foi eleito prefeito de Santo André em 1989, 1997 e 2000, um ano
antes de sua morte.
Em 1994, elegeu-se deputado federal com 97 mil votos.
Pouco antes de morrer, havia sido escolhido para coordenar a campanha
Lula à Presidência. Era cotado para ser um dos ministros do primeiro
escalão do governo de Lula.
“Ele disse isso a mim e ao meu irmão João Francisco antes da missa de sétimo
dia do Celso. Concluímos que ele fez isso como parte de uma estratégia para nos
desencorajar a fazer a denúncia, já que isso poderia manchar a imagem de meu
irmão”, afirma.
PT
Bruno, que era filiado ao PT, diz que não é possível relacionar o partido com
a morte de Celso, mas acredita que integrantes e aliados da sigla, que
participavam do esquema de corrupção, podem ter tido participação no crime. “O
que posso dizer é que o PT atuou para encobertar o crime. O então deputado
federal Luiz Eduardo Greenhalgh, que acompanhou as investigações, desmentiu que
o Celso havia sido torturado, sendo que isso ficou claro no laudo.”
O irmão do ex-prefeito exilou-se com a família na França, entre 2005 e o
final do ano passado, após receber uma série de “ameaças, perseguições e
intimidações”. “Foram várias, que relatei em um dossiê que encaminhei ao governo
francês para conseguir o refúgio. Algumas dessas ameaças eu relatei à polícia,
que providenciou segurança pessoal para mim”, lembra. A família decidiu voltar
por saudades do Brasil e pelas dificuldades que passou na França.
Atualmente, Bruno é professor de economia da PUC (Pontifica Universidade
Católica). Recentemente filiou-se ao PSOL, onde foi convidado a disputar a
prefeitura de Santo André nas eleições municipais deste ano. “O partido me
convidou, mas não aceitei. Entrei para o partido para dar minha contribuição no
debate público sobre o país, com posições diferentes das hegemônicas”,
afirma.
A reportagem procurou José Dirceu, Gilberto Carvalho e o atual presidente do
PT, mas nenhum quis falar sobre o caso.
OS ENVOLVIDOS NO ESQUEMA DE SANTO ANDRÉ SEGUNDO O MP
Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra” Empresário e amigo de Celso Daniel; é acusado pelo MP de ser o mandante da morte do ex-prefeito e de ser um dos líderes do esquema de corrupção em Santo André | |
Klinger Luiz de Oliveira Secretário de Serviços Públicos da gestão Celso Daniel; apontado pelo MP como líder do esquema de corrupção no município | |
Ronan Maria Pinto Empresário do ramo de comunicações e transporte; apontado pelo MP como outro líder do esquema de corrupção no município | |
Gilberto Carvalho Foi secretário do governo da gestão Celso Daniel e amigo do ex-prefeito, hoje é secretário-geral da presidência da República; segundo o MP, participou do esquema de corrupção | |
José Dirceu Era presidente nacional do PT na época da morte de Celso Daniel; os irmãos de Celso Daniel dizem que Gilberto Carvalho lhes confidenciou que Dirceu recebeu dinheiro do esquema de corrupção em Santo André VEJA TAMBÉM:
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