De O GLOBO.COM.BR
Para atender aos novos voos, empresa irá contratar cerca de 300 pessoas
SÃO PAULO — Apesar da queda na demanda de passageiros por voos domésticos, o
fundador da Azul Linhas Aéreas, David Neeleman, disse nesta quarta-feira que
está feliz com o lucro da companhia e que, segundo ele, "vai muito melhor que a
concorrência". Confiante na melhoria da economia e no aumento da procura em
cidades médias, ele anunciou a inclusão de mais dez municípios nas rotas da
companhia. Os novos destinos, segundo ele, devem levar a empresa a atingir a
marca de 150 milhões de passageiros voando pela Azul. Para atender essas novas
rotas, a empresa deverá contratar cerca de 300 pessoas.
— Cada aeronave necessita de pelo menos cinco equipes de cerca de cinco
pessoas cada, fora o pessoal da manutenção — explicou Neeleman, que anunciou
também uma parceria entre a Azul, o Banco Santander e a EJ - Escola de
Aeronáutica Civil para a criação de uma academia de formação de profissionais da
aviação.
As declarações de NeelemannNeeleman contrastam com os números já apresentados
pela Gol, que fechou o primeiro trimestre com prejuízo, e reforçam os dados da
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostrando o crescimento de participação
de mercado de empresas menores, como a própria Azul e Avianca e a Trip. Juntas,
as três passaram de uma fatia de pouco mais de 10% dos voos, em março de 2011,
para 15,39% em março deste ano (crescimento de 53,9%), enquanto a participação
de Gol (incluindo Webjet) e TAM caiu 86,21% para 79,4% no mesmo período.
Mas a continuidade desse processo é posta em dúvida pela própria Anac, que
apontou uma alta de apenas 1,2% na demanda geral por voos doméstico entre
janeiro e março deste ano do ano na comparação com 2011 — o menor crescimento
desde 2009 —, e por analistas ouvidos pelo GLOBO. Segundo eles, a expansão das
companhias menores pode estar sendo feito às custas da rentabilidade dessas
empresas. Para André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company, as
empresas aéreas que crescem nesse cenário adverso podem ter aberto rotas em
destinos ainda não rentáveis ou em vôos que têm sido abandonadas pelas grandes
companhias aéreas, apostando no crescimento da demanda futura.
— Empresas que querem comprar "market share" neste momento tendem a ganhar
participação. Não quer dizer que vão ganhar dinheiro, porque o mercado
brasileiro tem excesso de capacidade e a medida racional hoje é realmente
retirar custos — diz ele.
A redução de custos e rotas tem sido a principal receita das grandes
companhias depois dos prejuízos registrados no ano passado. Juntas, Gol e TAM
tiveram um resultado negativo de R$ 1 bilhão no ano passado (a Gol perdeu R$
710,4 milhões e a TAM, R$ 335,1 milhões). Neste ano, a Gol eliminou parte de sua
malha e demitiu 131 tripulantes. Já a TAM revisou para baixo seu plano de frota
em fevereiro, de 163 para 159 aeronaves.
Enquanto isso, a Azul está expandindo a frota em mais 12 aviões e espera
crescer acima crescimento do mercado neste ano. De acordo com Gianfranco Beting,
diretor de Comunicação e Marca da Azul, isso significa um crescimento de mais de
10% em 2012.
— Nosso crescimento está pautado numa visão focada na estratégia que apostou
num modelo único no Brasil. As pessoas que estão fazendo esse tipo de ilação (de
que o crescimento da empresa não seria sustentável) não têm os números nas mãos
— disse.
Por não abrir os números de seus balanços, há grande desconfiança entre os
especialistas dos níveis de rentabilidade com que a Azul vem operando.
— Os custos do setor estão muito altos e a Azul fala em crescer, mas a que
custo fará isso. Se as duas maiores empresas estão recuando, é porque o mercado
está ruim — diz um analista do mercado.
Para o diretor de avaliação de empresas para a América Latina da Fitch, José
Vertiz, o primeiro semestre será bastante desafiador para as companhias aéreas
brasileiras, especialmente Gol e TAM, por causa do aumento dos preços da
querosene de aviação e da alta do dólar — todos os custos de manutenção e peças
do setor são em moeda americana.
— Para a Gol, que possui a maior parte de sua receita no mercado doméstico,
isso significa custos maiores e receitas menores — afirma
ele.
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