Por Alberto Tamer - O Estado de S.Paulo
A vitória de François Hollande, na França, e a decisão dos governos da zona
do euro de socorrer novamente a Grécia, mesmo sem ter cumprido o compromisso de
austeridade, representam um novo sinal para que a Europa retome o crescimento e
saia da recessão. Mas a economia mundial, e muito menos o Brasil, devem esperar
resultados a curto e médio prazos. O que se prevê, agora, é o retorno de um
longo e desalentador debate entre François Hollande e Angela Merkel em torno do
dilema, investir para crescer e sair da recessão ou continuar mantendo um severo
plano de austeridade e "reformas estruturais". Martin Wolf, economista do
Financial Times, assinala que "em pouco mais de um ano essas reformas
levaram à queda de governos na zona do euro, sem qualquer resultado
positivo".
Para ele, a Alemanha deveria aprender com a própria historia. O país saiu do
caos da 2.ª Guerra e reconstruiu sua economia exclusivamente pelos investimentos
maciços do Plano Marshall oferecido pelos vencedores.
E não é só Grécia, Espanha, Portugal, Itália, é a França, a segunda economia
do bloco europeu, US$ 2,7 trilhões, com uma dívida de 90% do PIB e desemprego de
mais de 10%.
Vai conseguir? A resposta se Hollande vai conseguir não é
mais importante do que sua decisão de enfrentar a intransigência alemã, que
predominou sobre Nicolas Sarkozy e lhe rendeu a derrota. Afinal, ele recebe uma
economia deprimida e tem poucos recursos para reanimá-la. No fim da tarde de
ontem, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira previa liberar 5.2 bilhões,
mas vai dar menos 1 bilhão para o frágil e cambaleante governo grego. Ou a
Grécia era socorrida novamente, ou não conseguiria pagar os 3,3 bilhões que
vencem na próxima semana. Vai receber mesmo sem ter cumprido a promessa de
cortar 11 bilhões no orçamento.
Vitória de Hollande? Outro fato de grande importância que
reflete a nova posição da França. Logo após a reafirmação de Hollande contra a
austeridade fiscal isolada, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy,
convocou uma reunião extraordinária para o dia 23. Motivo: acelerar um acordo
entre a Alemanha e a França para uma política de crescimento no Pacto de
Estabilidade Financeira. Um fato curioso: Van Rompuy fez a convocação pelo
Twitter. Ele e seu colega, José Manuel Barroso, nunca esconderam a posição
favorável ao crescimento para evitar recessão.
Tudo bem, mas.... Tudo indica que há uma nova
conscientização na Europa de que a crise não é só fiscal ou endividamento. No
entanto, mesmo que a tese de Hollande vença, nada se pode esperar para este ano
e talvez até o próximo. Medidas para maior crescimento, além de demorarem para
ser implementadas tardam para refletir na economia. Essas medidas dependem de
investimentos maciços em obras, infraestrutura, criação de empregos. É preciso
convencer o setor privado a investir. Falava-se na necessidade de 200
bilhões.
1 trilhão. É pouco, afirma o ex-presidente do Banco de
Reconstrução Europeu, Jacques Attali e o diretor da OMC, Pascal Lamy. Para eles,
a Europa só se salva se investir essa quantia nos próximos anos. Mas de onde
viria esse dinheiro? Da criação de títulos voltados exclusivamente para projetos
já existentes em infraestrutura e não ligados aos próprios governos. Essa é a
nova proposta de Hollande que certamente terá a oposição da Alemanha. Assim,
tudo pode mudar a longo prazo, o que importa é o presente, Como dizia Keynes, "a
longo prazo estaremos todos mortos... ou se as circunstâncias mudam, eu mudo
também.. Só que na Europa o único que quer mudar é o pobre Hollande sem mais
recursos a oferecer além da sua boa vontade.
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