segunda-feira, 24 de abril de 2017

MUNDO: Governo dos EUA pode parar nesta semana; entenda o que está em jogo

FOLHA.COM
MATT FLEGENHEIMER
THOMAS KAPLAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Líderes do Congresso dos Estados Unidos e funcionários da Casa Branca conduziram a nação à beira de uma paralisação das atividades do governo federal que virtualmente todos os envolvidos veem como péssima ideia.
Embora os congressistas pareçam ansiosos para chegar a um acordo antes que o dinheiro do governo termine, na sexta-feira (28), o governo Trump deseja usar o prazo-limite como uma forma de pressão que os democratas —e pelo menos alguns republicanos— não estão dispostos a aceitar, o que gera a perspectiva de uma paralisação nas atividades do governo, algo que antes parecia improvável.
A equipe do presidente Donald Trump está se esforçando por demonstrar progresso quanto às suas mais importantes promessas de campanha, como verbas para construir um muro na fronteira com o México e aumento nos gastos com as Forças Armadas, na esperança de criar uma impressão de sucesso antes do sábado (29), quando Trump completará 100 dias de governo.
Kevin Lamarque/Reuters 
O presidente Donald Trump e sua filha e assessora, Ivanka, durante evento na Casa Branca

Mas qualquer proposta requereria cooperação dos dois partidos, e os democratas não parecem dispostos a ceder.
O impasse está perpetuando uma tendência em Washington, que a esta altura já se tornou tanto banal quanto incompreensível para os veteranos do Congresso: a de recorrer à chantagem, seja por radicalismo, por frustração, ou por uma combinação qualquer desses dois fatores, mas sem que exista um objetivo claro para a manobra.
A última paralisação das atividades do governo aconteceu em 2013, e encapsulou uma era de partidarismo radical e de forte oposição republicana ao presidente Barack Obama. A distinção é que, desta vez, a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Deputados são controlados pelo mesmo partido.
O confronto também surge pouco antes do anúncio de uma proposta de corte de impostos que Trump define como "imensa", na quarta-feira (26), e depois que ele sugeriu reconduzir ao Congresso uma versão reformulada do projeto de reforma da saúde que foi retirado da Câmara no mês passado.
No Congresso, onde concluir uma tarefa de cada vez já é suficiente para sobrecarregar a capacidade da instituição, os representantes eleitos continuam fortemente céticos quanto à sua capacidade de alternar tarefas com sucesso.
Eis algumas das questões que estão em jogo no retorno dos congressistas após duas semanas de recesso:
TRUMP VAI CONSEGUIR O SEU MURO?
Depois de eleito, Trump adotou uma versão modificada para uma de suas promessas centrais de campanha: a de que o México pagará pela construção de um muro ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos. Em algum momento. De alguma maneira.
"Isso vai acontecer no futuro, mas podemos começar cedo", escreveu Trump no Twitter na manhã de domingo (23). "O México vai pagar, de alguma maneira, pela muralha muito necessária na fronteira".
O que a formulação que ele empregou implica é que, por enquanto, serão os contribuintes americanos que pagarão a conta, se o presidente conseguir o que quer.
A postura dele complicou negociações que, de acordo com muitos relatos, pareciam estar correndo tranquilamente no Congresso. Alguns republicanos vêm expressando irritação já há algum tempo diante da ideia de paralisar o governo por causa da muralha de Trump ou de outras prioridades de sua administração, como a de aumentar os gastos com o controle de imigração e com as Forças Armadas, ainda que a maioria dos republicanos expresse algum apoio a esses objetivos.
Mas os representantes do governo assumiram posições mais agressivas, recentemente, e não está claro como importantes líderes republicanos, a exemplo de Mitch McConnell, do Kentucky, líder da maioria no Senado, e Paul Ryan, do Wisconsin, presidente da Câmara de Deputados, contornarão essas dificuldades.
Em conversa telefônica com a Casa Branca no domingo, Ryan disse que "onde quer que cheguemos, será um produto que o presidente pode apoiar e apoiará".
Reince Priebus, o chefe de gabinete de Trump, disse no domingo que a Casa Branca espera que as prioridades do presidente sejam refletidas pelo acordo final.
"Esperamos uma forte elevação nas verbas para as Forças Armadas. Esperamos que a proposta traga dinheiro para a segurança da fronteira", disse Priebus no programa "Meet the Press", da rede NBC. "E isso deve acontecer. Porque o presidente venceu de maneira esmagadora. E todos compreendem que a muralha na fronteira foi parte disso."
O senador Chuck Schumer, de Nova York, líder democrata no Senado, disse que verbas para a muralha não serão aprovadas de maneira alguma. Em um evento em Nova York no domingo, ele disse que as negociações estavam "indo muito bem", e que as exigências de Trump são "o único obstáculo".
QUEM QUER ASSUMIR A RESPONSABILIDADE POR UMA PARALISAÇÃO?
Em 2013, em um momento de intensa fúria conservadora para com Obama, alguns republicanos não se incomodaram em se posicionar como responsáveis diretos pela paralisação, que oferecia uma plataforma para ambiciosos políticos de linha-dura como o senador Ted Cruz, do Texas.
Desta vez, pelo menos até agora, ninguém parece querer deixar suas impressões digitais no impasse.
Uma paralisação não significa que o governo inteiro pare de funcionar. Milhares de funcionários federais seriam licenciados sem remuneração ou solicitados a trabalhar de graça, mas serviços essenciais como as atividades de polícia e os serviços de emergência continuariam funcionando. Ainda assim, o público provavelmente não terá muita paciência com um novo episódio de disfunção em Washington.
Os republicanos do Congresso parecem agudamente conscientes de que a culpa pela paralisação seria atribuída a eles, a despeito das tentativas de Trump de empurrar a responsabilidade para os democratas.
E embora muitos deles não se disponham a falar publicamente a respeito, alguns democratas certamente apreciariam os ganhos políticos que podem ser obtidos caso o governo republicano, que tem controle sobre todas as instituições do país, chegue ao seu 100º dia com as luzes apagadas.
"A paralisação não é um objetivo desejado", disse Mick Mulvaney, diretor de Orçamento de Trump, no programa "Fox News Sunday". "Não é um instrumento. Não é algo que queiramos ter". Mas, ele acrescentou, "queremos verbas para as nossas prioridades".
A COBERTURA DE SAÚDE SERÁ AFETADA?
Tentando pressionar os democratas, Mulvaney ofereceu uma espécie de barganha: US$ 1 em subsídios para a Lei de Acesso à Saúde —pagos às operadoras de planos de saúde para que elas reduzam as franquias dos consumidores de renda mais baixa que adquirem seus planos por meio de mercados criados pelo governo— em troca de cada dólar que o Congresso aprove para a construção da muralha que o presidente quer criar na fronteira.
Trump ameaçou reter o desembolso dos subsídios, como forma de forçar os democratas a negociar. No domingo, ele escreveu no Twitter que a lei da saúde de Obama estava "em sérias dificuldades".
"Os democratas precisam de dinheiro para mantê-la funcionando —de outra forma, ela morrerá muito antes do que qualquer um poderia imaginar", o presidente escreveu.
Quando John Boehner, republicano de Ohio, era presidente da Câmara dos Deputados, a Casa abriu um processo contra o governo Obama contestando a legalidade do pagamento de subsídios, afirmando que o Congresso jamais havia aprovado verbas para eles. A primeira instância decidiu em favor da Câmara, e o caso agora está sendo considerado por um tribunal de recursos.
Os democratas, temerosos quanto ao que poderia acontecer aos mercados de planos de saúde se a incerteza quanto ao pagamento de subsídios continuar, querem que o subsídio receba verbas oficiais como parte de qualquer acordo que mantenha o governo em funcionamento.
As operadoras de planos de saúde alertaram que sem subsídios teriam de aumentar consideravelmente as mensalidades dos planos oferecidos nos mercados oficiais, ou deixar de oferecê-los.
O gabinete de Schumer rejeitou a oferta de Mulvaney quanto ao muro, afirmando que Trump havia dito que quem pagaria por ela seria o México.
OS MINEIROS CONSEGUIRÃO UM ACORDO?
Quando estava em campanha, Trump se posicionou como defensor dos mineiros de carvão, prometendo que lhes devolveria seus empregos.
Quer esse objetivo seja ou não realista, em longo prazo, uma questão mais imediata envolvendo mineiros de carvão aposentados pode causar novos problemas nesta semana.
O senador Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, e outros democratas flertaram com a ideia de paralisar o governo em dezembro por conta de uma disputa sobre os benefícios de saúde de mineiros aposentados que estavam a ponto de perder sua cobertura.
Eles desistiram de fazê-lo, e uma proposta de custeio aprovada na época prorrogou a cobertura de saúde dos mineiros até este mês. Mas agora os legisladores de Estados nos quais o carvão é importante querem uma solução permanente para a questão.
O CONGRESSO PODE EMPURRAR O PROBLEMA PARA A SEMANA QUE VEM?
Há uma maneira de escapar, ao menos temporariamente. O Senado volta ao trabalho nesta segunda (24) e a Câmara nesta terça-feira (25), e pode ser que os líderes legislativos se deem um prazo para pensar.
Os congressistas poderiam aprovar uma proposta que estenderia as verbas do governo por algum tempo, talvez mais uma semana, enquanto uma medida de maior duração é negociada.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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