quinta-feira, 27 de abril de 2017

LAVA-JATO: Léo Pinheiro: Documentos entregues à Justiça somam R$ 17 milhões de propina em obra do Rodoanel

OGLOBO.COM.BR
POR CLEIDE CARVALHO

Advogados apresentam documentos que comprovam repasses ligados à obra

O ex-presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro, ao ser preso por agentes da Polícia Federal - Parceiro / Agência O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, entregou à Justiça do Paraná documentos que comprovam pagamento de propina nas obras do trecho 5 do Rodoanel, em São Paulo. Os pagamentos somam cerca de R$ 17 milhões entre 2008 e 2009 e foram feitos a uma empresa de locação de equipamentos, que teria servido de intermediária. A defesa de Pinheiro entregou outros contratos, supostamente falsos, de consultoria e assessoria técnica, que teriam justificado pagamentos de mais R$ 10,3 milhões pelo Consórcio Novo Cenpes, responsável pelas obras do Centro de Pesquisas da Petrobras, na Ilha do Fundão.
Os pagamentos referentes ao trecho 5 do Rodoanel foram feitos durante o período em que Paulo Vieira Souza, o Paulo Preto, foi diretor da Dersa. Os contratos para a obra do Rodoanel foram assinados pela Dersa em 2006, mas delatores da Odebrecht afirmaram que Souza foi o responsável pela criação do cartel de empreiteiras que dividiu obras viárias em São Paulo entre 2004 e 2008.
Sete delatores da Odebrecht afirmaram ter pago R$ 1,2 milhão como propina do Rodoanel, também direcionado para campanhas políticas. Disseram ainda que em 2007, quando o governador José Serra assumiu o governo de São Paulo, Paulo Preto teria solicitado mais 0,75% do valor do contrato para não fazer alterações contratuais que prejudicassem as empresas. Afirmaram que ele pediu recursos para campanhas de Gilberto Kassab (PSD) e dos senadores José Serra (PSDB) e Aloysio Nunes (PSDB). Os políticos negam ter sido beneficiados.
Na Lava-Jato foram identificados pagamentos de R$ 4,6 milhões do Consórcio Rodoanel Sul 5, responsável pelo trecho 5, na conta de uma das empresas de fachada de Adir Assad, a Legend Engenheiros. O OAS era a líder do consórcio.
Os documentos foram apresentados por Léo Pinheiro junto com um pedido para que o juiz Sérgio Moro aceite ouvi-lo pela segunda vez no processo que envolve o repasse de recursos por meio de Assad, já condenado na Lava-Jato a nove anos de prisão. O processo está em sua fase final antes da sentença a das alegações finais do Mininistério Público Federal e dos acusados. Os advogados do empresário afirmam que ele apresentou os documentos e pode detalhar mais sobre eles em um novo interrogatório.
Léo Pinheiro negocia acordo de delação premiada e, assim como a cúpula da Odebrecht, promete falar sobre todos os partidos e políticos que cobraram propina ou foram beneficiados por valores relacionados a obras feitas pela empreiteira. No último depoimento prestado a Moro, afirmou que o tríplex do Guarujá, que está em nome da OAS, pertence ao ex-presidente Lula e que as modificações feitas no imóvel, assim como o upgrade de uma unidade padrão para a cobertura do prédio, foram pagas com propina de contratos da Petrobras.
Assad foi condenado por Moro a nove anos de prisão. Segundo as investigações, ele é especialista em fornecer notas frias, para que as empresas possam fazer dinheiro vivo para repassar a políticos. Ele cobra um percentual sobre o valor da nota, que é lançada como despesa e pode ser paga pela empreiteira dentro da contabilidade legal. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, Assad também negocia delação premiada e se propôs a contar à Lava-Jato como teria feito R$ 100 milhões em pagamentos para Souza entre 2007 e 2010, durante a gestão do governador José Serra.
Ao solicitar o novo depoimento, os advogados afirmam que Léo Pinheiro dará informações adicionais sobre as provas juntadas aos autos e, caso o juiz Sérgio Moro indefira o pedido, pedem prazo suplementar de mais 15 dias para fazer as alegações finais da defesa. Os advogados responsáveis pela delação de Léo Pinheiro assumiram também a defesa da área criminal. O escritório anterior, que era contra acordos de delação, pediu para sair.
‘DELAÇÕES SÃO FÁBULAS’, DIZ EX-DIRETOR
Em nota, o engenheiro Paulo Souza disse que as delações são “fábulas, mentiras e calúnias” que o acusam em “tramas frágeis”. Ele ataca diretamente um dos delatores, o executivo Luiz Eduardo Soares, que falou à Justiça sobre pedidos de propina feitos pelo engenheiro. “Quero crer que se trata de um gesto de desespero, de pessoas sem caráter, com o apoio de uma empresa criminosa, que tentam pagar sua liberdade com minha honra”, afirmou.
Procurada na manhã desta quinta-feira, a Dersa informou que “vem tomando conhecimento destas denúncias pela imprensa e que, obedecendo ao seu compromisso ético com a população de São Paulo e com seus acionistas, mantém controle e fiscalização permanente em todos os contratos de seus empreendimentos”.
A empresa também afirmou que “em 2011, organizou seu Departamento de Auditoria Interna, instituiu um Código de Conduta Ética, cuja adesão é obrigatória para todos os funcionários e contratados, e também abriu canais para o recebimento de denúncias que garantem o completo anonimato da fonte”. Por fim, informou que “se mantém à disposição dos órgãos de controle para colaborar com o avanço das investigações.”
Veja a íntegra da nota:
Fábulas, mentiras e calúnias. Esse é o resumo dessas delações, que me acusam de absurdos com tramas tão frágeis, que desdenham da competência das autoridades e não sobrevivem a uma segunda leitura.
Registro apenas três, de vários exemplos:
1. O senhor Luiz Eduardo Soares diz que retirou em minha casa R$ 4 milhões em espécie, enquanto para a mesma situação o senhor Benedicto Júnior declara o valor de R$ 7 milhões.
2. Não conheço, nunca vi, nunca falei com o senhor Jonas Barcelos.
3. O senhor Luiz Eduardo Soares disse que se reuniu comigo em abril de 2011 na DERSA. Impossível. Eu nunca me reuni com ele. Meu último dia de trabalho na companhia foi 30 de março de 2010, um ano antes.
Quero crer que se trata de um gesto de desespero, de pessoas sem caráter, com o apoio de uma empresa criminosa, que tentam pagar sua liberdade com minha honra.
Oportunamente vou por abaixo, com verdades e provas, esse roteiro fantasioso.

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