quinta-feira, 27 de abril de 2017

MUNDO: Ação militar na Coreia do Norte é improvável, diz ex-embaixador

FOLHA.COM
IGOR GIELOW, DE SÃO PAULO

Embaixador do Brasil na Coreia do Norte entre 2012 e 2016, Roberto Colin se diz "surpreso" com a mudança na retórica americana sobre o país asiático.
"Eu creio, contudo, que uma ação militar é uma impossibilidade de lado a lado, mas uma falha humana, um erro de avaliação, pode levar a uma tragédia", afirmou.
KCNA/AFP 
Foto divulgada pela agência de notícias norte-coreana KCNA mostra demonstração de fogo do Exército

Para o diplomata, 64 anos de idade e 36 de Itamaraty, tão importante quanto entender a renovada resolução do governo americano sob Donald Trump é esclarecer as intenções da China.
O presidente do país, Xi Jinping, vem pressionando o ditador Kim Jong-un desde que reuniu-se com seu colega americano há duas semanas. A partir daquele momento, os EUA passaram a ameaçar mais abertamente Pyongyang e os sinais públicos da ditadura chinesa contra Kim se intensificaram.
"É preciso entender que garantia Xi recebeu. A China sempre preferiu o statu quo como está, tolerando uma Coreia do Norte nuclear, do que ver uma guerra que a inundaria de refugiados ou uma unificação sob o comando do Sul capitalista, que traria soldados americanos para suas fronteiras", afirma.
Editoria de Arte/Folhapress 

Os Estados Unidos têm estacionados na Coreia do Sul 28,5 mil militares. Na prática, o regime comunista do Norte, estabelecido após o cessar-fogo inconcluso da Guerra da Coreia em 1953, serve de tampão para Pequim.
O embaixador concorda, contudo, que algo mudou na posição chinesa. "Não acho que eles vão querer aniquilar economicamente o regime, mas são os únicos que podem fazer isso", diz, lembrando que todo o petróleo e quase todo o fluxo comercial do regime vêm do aliado ao norte.
Desde que mandou executar um tio, militar de alto escalão que representava um polo alternativo de poder, em 2013, Kim parece ter eliminado oposição potencial interna, que poderia ascender com apoio chinês.
"Agora a elite local vive amedrontada, pois não parece haver possibilidade de um pouso suave para o regime", diz o diplomata.
Isso dito, afirma Colin, o interesse dos norte-coreanos é negociar diretamente com os EUA, e não com prepostos. "São os americanos que podem levantar as sanções contra o regime", diz.
Hoje titular da embaixada em Tallinn, na Estônia, Colin teve no posto uma posição privilegiada para observar a ditadura, e destoa dos lugares-comuns geralmente associados ao país.
"A Coreia do Norte é de fato atrasada no campo, mas Pyongyang vive um boom imobiliário, por exemplo", afirma ele. "A única coisa realmente socialista lá é o nome do país. Está tudo mais para uma seita religiosa, embora de natureza laica."
Segundo ele, "40% da economia está nas mãos privadas, e há gente com dinheiro, uma elite tolerada pela liderança e que não quer a queda do regime porque todos perderiam com isso".
Em sua avaliação, também é incorreta a ideia de que o regime seja liderado por loucos. "São tudo, menos irracionais ou suicidas. Ação militar não faz nenhum sentido. Há preocupação com o líder, pois é jovem (33 anos), afoito, e pode cometer erros", diz.
As armas nucleares de Pyongyang servem, na visão do diplomata, mais para manter coesão interna e apoio à ditadura numa sociedade empobrecida do que para de fato ameaçar os vizinhos.

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