Por Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
A CPI do Cachoeira não serviu de antídoto nem dividiu o interesse pelo
julgamento do mensalão, assim como os trabalhos no Supremo Tribunal Federal não
têm interferido no curso das campanhas eleitorais.
Enquanto estas andam mornas, aqueles só fazem esquentar sem que se possa
identificar uma conexão entre um fato e outro. Vistos nessa perspectiva, os
temores do PT parecem tão infundados quanto o espalhafato feito em torno da
alegada má-fé na marcação da data do julgamento em ano eleitoral.
A oposição, ao menos por enquanto, não levou o tema às ruas. Uma referência
feita recentemente de maneira velada pelo candidato a prefeito de São Paulo,
José Serra, lembrando que "nós" - o PSDB por suposto - "não precisamos defender
a honra no Supremo", poderia ser facilmente rebatida com a lembrança de que mais
dia menos dia o tucano Eduardo Azeredo precisará defender-se de acusação
semelhante na Justiça de Minas Gerais.
Talvez por isso a oposição ande arredia em relação ao assunto ou quem sabe
avalie que a situação não valha o esforço, uma vez que o PT não largou de
maneira promissora nas principais capitais do País independentemente do curso do
julgamento.
Para um partido há dez anos no poder central, com dois presidentes altamente
populares e cujo projeto era de construção de hegemonia política conquistando
todos os espaços disponíveis, o PT está se saindo pior que a encomenda nessas
eleições municipais.
Em São Paulo fez uma escolha já assumida como equivocada. Até entre os
adversários corre a constatação de que diante da alta rejeição a Serra e do peso
(no mau sentido) representado por Gilberto Kassab, Marta Suplicy teria enormes
chances de vitória.
Por essa avaliação, se o PSDB soubesse que Fernando Haddad estaria nessa
altura empacado nas pesquisas não teria convocado José Serra à candidatura e
poderia ter feito outra aposta.
Em Belo Horizonte, Patrus Ananias está distante do prefeito Márcio Lacerda,
candidato do senador Aécio Neves, que só tende a se consolidar com o início da
campanha na televisão. Na Bahia perde de longe para a retomada do "carlismo"
representado em Salvador por ACM Neto, na dianteira desde o começo.
No Rio caminha a reboque do PMDB com o prefeito Eduardo Paes ensaiando uma
vitória no primeiro turno e no Recife mantém uma liderança que pode ser ameaçada
pela força do governador. Eduardo Campos inventou um candidato para não ficar
refém das brigas internas do PT e já começa a fazê-lo competitivo.
Noves fora, se fracassar nas capitais o PT não poderá jogar a culpa no
Supremo nem nos ecos do mensalão.
Fôlego. Roseli Pantoja, em cujo nome está registrada uma das
empresas fantasmas utilizada pela construtora Delta, chegou à CPI sem advogado,
sem habeas corpus, sem invocação ao direito de calar e mostrou como faz quem não
deve.
O contraste evidenciou as razões do silêncio dos que a antecederam naquela
cadeira e o depoimento dela deixa a CPI diante da impossibilidade de embromar ou
de cumprir o roteiro já desenhado pelo relator de restringir as ações da
quadrilha investigada à Região Centro-Oeste.
Quando se demonstra que uma das maiores empreiteiras do País com negócios em
quase todos os Estados, tendo sido a maior contratada das obras do PAC, com
direção sediada no Rio de Janeiro operava com empresas fantasmas, o imperativo é
a ampliação das investigações e, sobretudo, a mudança de procedimento em relação
aos depoentes.
A escolha é da comissão: ou dá uma viravolta ou estará marcada pela suspeita
de que patrocina deliberada proteção à Delta e suas circunstâncias
político-partidárias.
Memória. Hoje virou argumento de defesa, mas já houve um
tempo em que caixa 2 era definido como "coisa de bandido" pelo então ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Comentários:
Postar um comentário