Por CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Ontem, o Bradesco e o Itaú, os dois maiores bancos privados do Brasil,
anunciaram cortes dos juros em algumas das suas operações de crédito. Seguem
iniciativas tomadas nos dias anteriores pelo HSBC e pelo Santander. É
inevitável, agora, que toda a rede bancária vá atrás, em resposta à presidente
Dilma Rousseff - que, além de mobilizar os dois maiores bancos estatais (Banco
do Brasil e Caixa Econômica Federal), exigiu a queda imediata do spread bancário
(diferença entre o que os bancos pagam na obtenção dos recursos e o que cobram
do tomador de crédito).
Ficou comprovado que "a bola não está apenas com o governo", como dia 12
havia anunciado o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),
Murilo Portugal.
Ainda será preciso observar até que ponto essa queda dos juros será relevante
para a redução dos custos financeiros do setor produtivo e dos consumidores.
Esse tipo de reação do sistema bancário quase sempre atende mais às
conveniências da hora do que propriamente às pressões de mercado. Quando é
assim, esses movimentos dificilmente se sustentam.
Além disso, os cortes se limitaram a aparar rebarbas. Não parecem disposições
reais de baixar os juros com firmeza. Acontecem apenas em algumas linhas e sob
certas condições. Tampouco alcançam os escorchantes cartões de crédito e não
preveem renegociação dos juros muito mais altos contratados anteriormente.
A mobilização concertada dos bancos também para esse corte dos juros pode ser
entendida como outra manifestação de sua atuação cartelizada.
Independentemente do sucesso ou não da ofensiva oficial contra o alto custo
do crédito no Brasil, há providências que dependem só do governo para derrubar o
custo financeiro. A redução dos impostos cobrados no crédito é uma delas. Outra
é a aprovação do chamado cadastro positivo, cujo texto já aprovado pelo
Congresso, ainda depende de regulamentação.
Cadastro positivo é a relação de bons pagadores que, na prática, constituem
reduzido risco de crédito. Por isso, podem levar juros mais baixos. Hoje, os
bancos já trabalham com o cadastro negativo levantado pela Serasa
(Centralizadora dos Serviços dos Bancos S.A.), que aponta calotes passados na
praça - não só os financeiros.
O projeto do cadastro positivo está encalhado em Brasília desde 2009, por
atender a motivações paternalistas. Prevaleceu até agora o ponto de vista de que
seria necessário proteger o cliente do banco: bastaria que estivesse fora dessa
lista positiva para que um devedor qualquer fosse tratado como pária do sistema
de crédito. É uma argumentação destituída de lógica porque, como ficou dito, a
Serasa já se encarrega de sujar o nome de caloteiros e inadimplentes.
Mas não só no crédito, os custos bancários são exorbitantes. As taxas de
administração cobradas nos fundos mútuos de investimento caíram uma
insignificância nos últimos anos com a redução dos juros e a queda da inflação.
Nesse particular, o governo guarda no bolso do colete nova frente de pressão
sobre os bancos - informou a esta Coluna alta fonte de Brasília. Não quer rever
tão cedo a remuneração da caderneta de poupança, para fazer concorrência aos
fundos de investimento e para que os bancos se vejam obrigados a baixar suas
taxas de administração.
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