quinta-feira, 4 de agosto de 2016

MUNDO: Republicanos discutem intervenção em campanha de Trump

OGLOBO.COM.BR
POR HENRIQUE GOMES BATISTA, CORRESPONDENTE

Candidato coleciona erros desde a convenção partidária há duas semanas

Donald Trump fala a apoiadores na Pensilvânia - DOMINICK REUTER / AFP/1-8-2016

WASHINGTON — Da festa da convenção ao caos foram só duas semanas. As últimas polêmicas de Donald Trump deixam o Partido Republicano em pânico, e caciques da legenda discutem uma forma de intervenção na campanha do bilionário. Ele disse ontem que “nunca viu o partido tão unido”, mas até Mike Pence, candidato a vice na chapa, o contestou. Grandes nomes da legenda agora apoiam Hillary Clinton, que espera ampliar a recente vantagem nas pesquisas de mais de dez pontos percentuais.
Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara dos Representantes e um dos primeiros apoiadores de Trump na cúpula do partido, disse ontem em entrevista ao “Washington Post” que o candidato pode estar jogando fora a eleição, a menos que ocorra uma mudança de rumos na campanha. Ele se referia a uma série de problemas: um alinhamento incomum com os interesses da Rússia, o pedido para que Moscou interceptasse e-mails de Hillary, as críticas aos pais de um militar muçulmano morto na Guerra do Iraque e o fato de ter negado apoio a Paul Ryan, presidente da Câmara, e a John McCain, senador e ex-candidato à Presidência.
— A corrida atual é sobre qual dos dois candidatos é o mais inaceitável, porque até agora nenhum dos dois é aceitável. Ele não ganha a eleição se continuar agindo assim — disse Gingrich.
Até Chris Christie, governador de Nova Jersey e um dos parceiros mais fiéis de Trump, criticou o candidato por não ter pedido desculpas à família do militar morto, Humayun Khan. Diversos políticos indicam que Gingrich, Rudy Giuliani (ex-prefeito de Nova York) e Reince Priebus, presidente da legenda, estariam negociando com os filhos de Trump uma intervenção na campanha, algo negado oficialmente. Surgiram boatos, inclusive, de que o partido estudava formas de substituí-lo, o que também foi refutado. Para piorar a situação, Pence, que atuava como “bombeiro” de Trump, reforçou seu endosso a Paul Ryan, mostrando uma divisão dentro da chapa. O candidato a vice disse que Trump o teria “‘incentivado” a fazer isso por Ryan, mas o apoio ampliou a sensação de divisão.
O site “Politico” ainda lembra que seria o momento de ouro para que Trump atacasse Hillary e o governo democrata, após ter sido descoberto o pagamento de US$ 400 milhões ao Irã em troca da liberação de prisioneiros pelo regime de Teerã, segundo informou ontem o “Wall Street Journal”.
Jennifer Lawless, professora da American University, de Washington, vê o temperamento como principal problema de Trump:
— Trump tinha a oportunidade, na convenção e depois dela, de mostrar maior seriedade, mas ele tem feito pior que o imaginado para qualquer candidato — afirmou ela ao GLOBO, que ainda vê chances de uma virada de jogo. — Já vimos em outros episódios analistas dizendo que era o “começo do fim” da campanha de Trump, mas ele continuou forte entre seus apoiadores. Hillary está agora melhor nas pesquisas, mas ele nunca perdeu uma parte importante de seus eleitores, que o apoia não importa o que fale.
CAMPO DEMOCRATA INCENTIVA DESERÇÕES
Ed Goeas, estrategista republicano e presidente do grupo de pesquisas Tarrance, explicou que esta é uma campanha atípica e que apenas 3% dos eleitores gostam dos dois candidatos, enquanto o normal nesta fase seria o número estar perto de 30%. Ele vê mais problemas para Trump por ser rejeitado por 25% dos republicanos, enquanto apenas 10% dos democratas não gostam de Hillary:
— A primeira coisa que a campanha de Trump tem de fazer é focar nos republicanos, para ter internamente um nível de apoio similar ao que Hillary tem entre os democratas. O segundo, e maior desafio, é conquistar os eleitores independentes, pois as pesquisas indicam que 60% deles não gostam de nenhum dos candidatos — disse ele ao GLOBO.
Uma pesquisa da Fox News realizada entre 31 de julho e 2 de agosto apontou Hillary com 49% das intenções de votos, contra 39% de Trump. A diferença de dez pontos percentuais é a maior desde março. Na sondagem anterior, de 26 a 28 de julho, a vantagem da democrata era de seis pontos. A Reuters/Ipsos também divulgou ontem uma pesquisa que aponta Hillary oito pontos à frente.
A campanha democrata começou a incentivar as deserções do ninho republicano, como defendeu o presidente Barack Obama na terça-feira. Ontem, os democratas começaram a publicar falas de republicanos contra Trump e ativaram o site “republicansagainsttrump.org”. O magnata, por sua vez, partiu para o ataque, afirmando que é alvo de uma ação da grande mídia. Sua campanha enviou páginas do “New York Times” alegando que não foram destacadas notícias negativas de Hillary nos últimos dias.
A única notícia positiva do dia para Trump foi o aumento de sua arrecadação de doação: US$ 82 milhões no mês passado, praticamente empatando com Hillary. A maior parte do dinheiro não veio de grandes doadores, mas de pessoas físicas, mostrando que ele pode estar em briga com o partido e ter sido abandonado por muitos, mas segue com um grande apoio de parte do eleitorado.

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