Do ESTADAO.COM.BR
Fábio Fabrini, de O Estado de S. Paulo - alterado às 08h37
Governador do DF avalizou exploração de linhas por contraventor, via Delta,
antes de licitação
BRASÍLIA - Novas escutas da Polícia Federal indicam que o governador Agnelo
Queiroz (PT) deu aval para que o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, explorasse linhas de ônibus no Distrito Federal antes de a
licitação para o serviço ser lançada.
Conforme as interceptações telefônicas, obtidas com autorização judicial, os
diretores da Delta Construções, empreiteira suspeita de envolvimento no esquema
do contraventor, chegaram a marcar uma reunião com o petista para 29 de
fevereiro, dia em que foi deflagrada a Operação Monte Carlo, com a prisão de
Cachoeira e vários integrantes do grupo.
Numa das conversas, de 27 de fevereiro deste ano, o araponga Idalberto
Matias, o Dadá, relata ao ex-diretor da empreiteira no Centro-Oeste, Cláudio
Abreu, que interlocutores de Agnelo, entre eles o ex-servidor da Casa Militar
Marcello Lopes, o Marcelão, lhe deram sinal verde para que a empresa entrasse no
negócio. "Tivemos uma reunião com o camarada lá ontem, o ‘xará’, eu e o
Marcelão. Ele falou para avisar para você que quarta-feira está marcada a
reunião. Se o assunto for ônibus, o governador quer fechar com a empresa. Se for
outro assunto, ele está à disposição", informou Dadá.
Os dois também citam uma suposta interferência de assessores do
vice-governador do DF, Tadeu Filippelli (PMDB), em favor da Delta. Em outro
telefonema, interceptado horas depois, Abreu diz ter recebido de pessoas ligadas
ao peemedebista o mesmo aval: "Fechou o circuito, porque o pessoal do Filippelli
já tinha ontem (26/2) falado para nós que já estava fechado. E agora vem o
governador falar isso também. Então, ficou bom demais, né?".
A licitação para o serviço de ônibus foi lançada em 10 de março, mas o
Tribunal de Contas do DF (TC-DF) a suspendeu em maio, alegando falhas no edital.
A decisão foi tomada antes da abertura de propostas, o que, segundo a Secretaria
de Transportes do DF, impossibilita saber quais empresas estavam no páreo.
Às vésperas da suposta reunião com Agnelo, Abreu foi ao Rio de Janeiro e
acertou a participação do principal acionista da Delta, Fernando Cavendish, e do
diretor executivo da empreiteira, Cláudio Abreu, no encontro. "Eu e o Fernando
vamos estar amanhã com o governador. O negócio está marcado lá, amanhã à tarde,
e parece que o governador mandou o homem pagar a gente", diz ele a um
funcionário, em conversa de 28 de fevereiro.
No dia seguinte, a PF deflagrou a Operação Monte Carlo, a partir da qual os
áudios obtidos pela PF escasseiam. Não fica claro, pelos grampos, se o encontro,
de fato, ocorreu.
Questionado pelo Estado nesta terça-feira, 26, Agnelo negou
ter negociado com a empresa ou se reunido com seus dirigentes. Sua assessoria,
no entanto, não informou a agenda do governador naqueles dias. A Delta explicou
que seus diretores "jamais, em tempo algum" estiveram reunidos com o petista.
Em nota, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), alegou ter
dado "provas documentais" à CPI do Cachoeira de que não houve aproximação ou
favorecimento à empreiteira Delta ou ao grupo do contraventor Carlos Cachoeira.
Agnelo argumentou que, ao contrário, gravações da PF nos primeiros dois meses
deste ano mostram que Dadá, Abreu e Marcelão tramaram a derrubada do governador
e se referem a ele com palavrões. Filippelli respondeu, por meio de sua
assessoria, que não se manifestará sobre diálogos de terceiros, que citam seu
nome "irresponsavelmente".
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