De OGLOBO.COM.BR
Com agências internacionais
Encontro com vice-premier da Irlanda do Norte é símbolo de avanço da paz
LONDRES - Em encontro histórico, a rainha Elizabeth II apertou a mão do
ex-terrorista do grupo separatista armado IRA e vice-premier norte-irlandês,
Martin McGuinness, nesta quarta-feira, em Belfast. Para muitos, o breve
cumprimento - feito primeiro a portas fechadas e depois em público - enterra
para sempre a política do “nunca, nunca, nunca” que por anos imperou na Irlanda
do Norte.
O encontro aconteceu pouco antes das 11h (horário local) no Teatro Lírico de
Belfast. McGuinness, que também é o líder do Sinn Fein - considerado o braço
político do IRA, e a rainha estavam acompanhados do presidente irlandês, Michael
D. Higgins, e do premier norte-irlandês, Peter Robinson. O princípe Philip
também esteve na reunião e repetiu o gesto da mulher, mesmo tendo perdido um tio
assassinado pelo IRA, em 1979.
O aperto de mãos é um símbolo do avanço da paz e da determinação de ambas
partes em superar as desavenças e os choques que deixaram milhares de mortos no
passado. Não deve ter sido uma decisão fácil nem para McGuinness nem para a
rainha. Há 15 anos, o gesto seria algo impensável.
- Tenho plena consciência do que representou para uma comunidade
profundamente ferida pela violência do Estado britânico durante tantos anos -
disse o vice-premier norte-irlandês, que ao se despedir da rainha teria dito, em
irlandês, “fique com Deus”. - Para mim, é uma oportunidade de oferecer a mão da
paz e da reconciliação.
Indagado sobre os efeitos do encontro, o premier britânico, David Cameron,
disse que o aperto de mãos elevou as relações entre Irlanda do Norte e Reino
Unido a um “novo nível”. O gesto, no entanto, não agradou a todos. A parte
linha-dura dos republicanos irlandeses interpretou o cumprimento como uma
traição. Perto da casa de McGuinness cartazes de “Como se atreve” e “Judas”
foram pendurados.
- A imensa maioria das pessoas nas duas comunidades sabe que o futuro
significa trabalhar juntos, nos entendermos, mas sem esquecer o passado, sem
deixar que o passado domine o futuro - disse Michael Gallagher, cujo irmão foi
morto pelo IRA e cuja filha morreu em um atentado de dissidentes em
Omagh.
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