quarta-feira, 12 de julho de 2017

ECONOMIA: Dólar chega a cair a R$ 3,20 com condenação de Lula; risco-país recua

OGLOBO.COM.BR
POR RENNAN SETTI

Na Bolsa, índice Ibovespa ganha fôlego e avança 1,3%

Dólar americano - Mark Lennihan / AP

RIO - O dólar comercial ampliou a queda e a Bolsa ganhou fôlego na tarde desta quarta-feira, após a divulgação da notícia de que o ex-presidente Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e seis meses de prisão por causa do tríplex no Guarujá. Em sua quarta desvalorização seguida frente ao real, a divisa americana recua 1,10% e vale R$ 3,218 para venda. O risco-país medido pelo CDS (Credit Default Swap, espécie de seguro contra calote da dívida soberana) recuou dos 235 pontos para 228 pontos. Na mínima, a moeda chegou a valer R$ 3,208. No mercado acionário, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registra alta de 1,3% aos 64.679 pontos.
Mais cedo, os ativos já reagiam positivamente à aprovação da reforma trabalhista no Senado, por ampla margem de votos, e a comentários considerados brandos da presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) sobre elevação de juros.
Segundo observadores do mercado, a notícia da condenação do ex-presidente anima os investidores porque reduz a possibilidade de vitória de um candidato de plataforma econômica considerada desenvolvimentista nas eleições presidenciais de 2018.
— De uma maneira geral, os ativos reagem à a visão de que o risco-país diminui com essa notícia, muito em função do entendimento de que essa linha, mais à esquerda, de uma política econômica desenvolvimentista, que defende um Estado maior, perderia força caso Lula não possa se candidatar. Isso abriria espaço para um candidato de postura liberal — explicou Rogério Freitas, sócio na Teórica Investimentos. — Logo, os investidores reagem às implicações que essa notícia poderá ter nas políticas fiscal e monetária futuras.
Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, explicou que os investidores se animaram com a notícia porque uma vitória de Lula nas próximas eleições representaria um risco para a aprovação das reformas.
“Uma vez que uma vitória de Lula (em 2018) acabaria com qualquer esperança sobre as necessárias reformas fiscal e econômica, isso seria negativo. Assim, a sentença de hoje provavelmente dará um empurrão nos mercados brasileiros. A expectativa é de que o real se fortaleça e que os juros dos títulos de dívida de longo prazo em moeda local caiam nas próximas 24 horas”, disse o economista em nota enviada a clientes na tarde desta quarta-feira.
— A interpretação é de que a condenação afasta o risco de um novo governo populista. Havia entre os agentes do mercado a percepção de que, como candidato, Lula adotaria uma postura de oposição. Ele dificilmente seria favorável a adoção de ajustes fiscais ou de uma reforma da Previdência — afirmou Patrícia Pereira, gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos.
De acordo com a analista, o comportamento dos juros futuros longos comprova essa análise. O DI com vencimento em janeiro de 2021 perde 20 pontos nesta quarta-feira, recuando de 9,96% para 9,76% ao ano. É o maior recuo diário desde maio desse contrato.
— Esses juros longos eram os únicos que estavam com dificuldade para cair nas últimas semanas porque, justamente, ainda representavam a incerteza com a perspectiva para as reformas nos próximos ano. Hoje, a condenação do Lula diminui essas incertezas — explicou a especialista.
APROVAÇÃO DE REFORMA REDUZ INCERTEZA, DIZ ANALISTA
Após uma sessão tumultuada, o plenário do Senado Federal aprovou ontem, por 50 votos favoráveis e 26 contrários, o texto base da reforma trabalhista. Às 22h19, o plenário terminou também a votação de todos os destaques e emendas que tentavam modificar o texto — todos foram rejeitados. A reforma trabalhista é apoiada pelos agentes do mercado financeiro e era considerada pelos investidores como projeto que definiria se o governo Temer tem alguma força para promover sua agenda.
“Placar mostra que o Congresso está inclinado a aprovar as reformas necessárias. Mostra também que a base de Temer continua expressiva. A (reforma) da Previdência, no entanto, é muito mais complicada”, disse Hersz Ferman, analista da corretora Elite.
Para Roberto Indech, analista da corretora Rico, a aprovação da reforma elimina uma incerteza e, por isso, é positiva:
“Apesar de relativamente já esperada, a aprovação da reforma é positiva para o mercado pois é uma indefinição a menos. No entanto, este fato não demonstra que o governo Temer esteja mais forte.”
No exterior, os pregões sobem após a presidente do Fed, Janet Yellen, sinalizar que não tem pressa na continuação do processo de aperto monetário nos EUA. Em discurso preparado para testemunho no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Janet Yellen ponderou que uma inflação muito baixa pode dificultar a elevação de juros, em meio a crescimento moderado.
Em Wall Street, o índice Dow Jones tem alta de 0,7%, enquanto o S&P 500 sobe 0,68%. A Nasdaq avança 0,85%. Na Europa, o índice de referência do continente Euro Stoxx 50 sobe 1,53%, enquanto a Bolsa de Londres sobe 1,4%. Paris tem alta de 1,71%, e Frankfurt, de 1,49%.
PETROBRAS EM ALTA
No mercado de commodities, o petróleo avança pelo 3º dia seguido depois de dados da API mostrarem queda nos estoques americanos do produto. O barril do tipo Brent sobe 1,01%, a US$ 47,90.
Com o bom humor dos investidores tanto no mercado local como no exterior e com a alta do petróleo, as ações da Petrobras operam em alta de 2,75% (ON, a R$ 13,43) e 2,83% (PN, por R$ 12,68). Hoje pela manhã, a companhia informou que obteve vitória em decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com relação ao processo que questionava as práticas adotadas pela companhia para proteger suas exportações futuras de variações cambiais, a chamada contabilidade de hedge, que seriam contrárias normas vigentes.
O colegiado da CVM, em reunião realizada ontem, acatou o recurso interposto pela Petrobras, em relação ao ao processo. A decisão do Colegiado do órgão regulador do mercado reverte a determinação da área técnica da CVM que determinava a Petrobras refazer e publicar os balanços financeiros de 2013, 2014, 2015 e 2016, em função de suposta utilização indevida da prática de contabilidade de hedge.
As ações dos bancos também sobem, com o Banco do Brasil avançando 0,78%, as do Bradesco subindo 1,50%. O Itaú destoa, caindo 0,54%.
A Vale, por sua vez, cai 0,79% (ON) e 0,57% (PNA), em dia de desvalorização do minério de ferro na China.

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