sexta-feira, 19 de maio de 2017

LAVA-JATO: Em depoimento, Joesley explica contexto de diálogo com Temer

OGLOBO.COM.BR
POR MARCO GRILLO

Dono da JBS destrinchou textos cifrados de conversa gravada com o presidente

O presidente Michel Temer durante pronunciamento - Ricardo Botelho/18-05-2017 / AP

RIO — Durante o depoimento do empresário Joesley Batista, dono da JBS, os procuradores buscaram tirar as dúvidas deixadas pela gravação da conversa entre Joesley e o presidente Michel Temer (PMDB). Os assuntos tratados eram de conhecimento de ambos e, portanto, havia pontos cifrados a serem esclarecidos para o andamento da investigação. Na versão de Josley, o presidente sabia e deu aval para que ele mantivesse os pagamentos ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), para que ele ficasse em silêncio.
Com a oitiva, a Procuradoria-Geral da República (PGR) montou o quebra-cabeça da conversa que aconteceu no dia 7 de março, às 22h40m, no Palácio Jaburu, residência de Temer. O empresário afirmou que dois principais motivos o levaram a solicitar o encontro: perguntar quem seria seu novo interlocutor junto ao governo, após a saída de Geddel Vieira Lima do Ministério, e saber se o presidente ainda julgava necessário o pagamento de propina a Cunha e ao operador Lúcio Funaro — ambos foram presos pela Operação Lava-Jato.
EDUARDO CUNHA
Áudio
JOESLEY - Como o senhor “tá” nessa situação toda do Eduardo (Cunha), não sei o quê, Lava-Jato..
TEMER - O Eduardo resolveu me fustigar, né. Você viu que..
JOESLEY- Eu não sei, como “tá” essa relação?
TEMER - (inaudível) O (Sergio) Moro indeferiu 21 perguntas dele (Cunha) que não tinham nada a ver com a defesa dele, era para me trutar. Eu não fiz nada (inaudível)... No Supremo Tribunal Federal (inaudível).
JOESLEY - Eu queria falar assim... Dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo. O que tinha de alguma pendência daqui para ali (com Cunha), zerou toda. E ele (Cunha) foi firme em cima. Já tava lá, veio, cobrou, tal tal tal, pronto. Eu acelerei o passo e tirei da frente. O outro menino, companheiro dele que tá aqui, que o (ex-ministro) Geddel (Vieira Lima) sempre tava...
TEMER - Lúcio Funaro...
JOESLEY - Isso... O Geddel que andava sempre ali, mas o Geddel perguntou, mas com esse negócio eu perdi o contato, porque ele virou investigado. Agora eu não posso também...
TEMER - É, é complicado, né, é complicado...
JOESLEY - Agora, eu não posso encontrar ele.
TEMER - Isso é obstrução de justiça, viu?
JOESLEY - Isso, isso... O negócio dos vazamentos, o telefone lá do Eduardo, do Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós,a não sei o quê. Eu tô lá me defendendo. Como é que, o que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo...
TEMER - Tem que manter isso, viu?
JOESLEY - (inaudível) Todo mês, também...
TEMER - É... (inaudível)

Depoimento
“Eu ouvi do presidente, claramente, que era importante manter isso (ajuda financeira a Funaro e Cunha). Enfim, a primeira missão minha lá (na reunião no Palácio Jaburu) era essa: saber dele (Temer) se o compromisso (pagamento de propina) ainda era necessário, e ele (Temer) me disse de pronto que sim”
“Eu fui lá (ao Palácio Jaburu) dizer: o Eduardo (Cunha) “tá” preso, o Lúcio (Funaro) “tá” preso. A gente paga lá uma mensalidade pro Lúcio ate hoje”
“Eu fui lá (ao Palácio Jaburu) falar com o presidente exatamente isso: que tinha acabado o saldo do Eduardo (Cunha), que eu tinha pago tudo, que “tava” tudo em dia, mas que tinha acabado. Por outro lado, que eu seguia pagando o Lúcio (Funaro) R$ 400 mil por mês. Eu queria informar isso “pra” ele (Temer) e saber a opinião dele, né. Foi onde, de pronto, ele (Temer) me disse que era importante continuar isso (os pagamentos de propina)”
“Então, agora, ultimamente, esse que “tava” sendo o problema, “pra” garantir o silêncio deles, pra manter eles calmos, pra manter o Lúcio calmo na penitenciária e o Eduardo também. Não sei como ficar calmo na cadeia, mas “pra” ficar em silêncio e não se revelarem. Eu sempre recebi sinais claros de que era impirtrante mantê-los financeiramente, a família, tal, resolvidos”
“Ele (Temer) fez um comentário, aquele questionário que o Eduardo (Cunha) fica fustigando ele e tal. Eu entendi aquilo como um reforço à necessidade de eu manter, vamos dizer, financeiramente, porque, o que eu entendo é que existe ali um grupo onde parte do grupo está preso e parte está no poder, né — disse o empresário”
“O Lúcio (Funaro) é o operador financeiro do Eduardo (Cunha) no esquema PMDB da Câmara. O esquema PMDB da Câmara é composto pelo presidente Michel, Eduardo, enfim, alguns outros membros”

GEDDEL VIEIRA LIMA E RODRIGO ROCHA LOURES
Áudio
JOESLEY - Isso... O Geddel que andava sempre ali, mas o Geddel perguntou, mas com esse negócio eu perdi o contato, porque ele virou investigado. Agora eu não posso também...
TEMER - É, é complicado, né, é complicado...
JOESLEY - Agora, eu não posso encontrar ele.
TEMER - Isso é obstrução de justiça, viu?
Em outro momento, Joesley e Temer tratam sobre o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), escalado por Temer para tratar dos assuntos da JBS no governo.
JOESLEY - Enfim, mas vamos lá. Queria falar como é que é, “pra” falar contigo, qual melhor maneira, porque eu vinha falando através do Geddel, eu não vou lhe incomodar, evidentemente
TEMER - inaudível
JOESLEY - Eu sei disso, por isso é que...
TEMER - É o Rodrigo
JOESLEY - É o Rodrigo? Então ótimo
TEMER - (inaudível) Da mais estrita confiança
JOESLEY - Prefiro combinar assim, se for alguma coisa que eu precisar eu falo com o Rodrigo, se for assunto desses aí...

Depoimento

“Aí eu passei para a segunda parte da minha reunião, que foi perguntar a ele (Temer) quem seria o interlocutor, dado que Geddel tinha caído. Ele me disse que era o Rodrigo Rocha Loures, e eu ainda falei “pra” ele: “Presidente, mas todos os assuntos? Porque a gente conversa assuntos íntimos”. E ele me disse com a palavra: “Rodrigo é da minha mais estrita confiança”. Aí, depois dessa palavra, eu disse: “Tá bom, então, agora “pra” frente, não lhe incomodo mais, sigo falando com Rodrigo”.

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