sexta-feira, 19 de maio de 2017

ECONOMIA: Após maior alta desde 1999, dólar cai a R$ 3,25 com BC; Bolsa sobe 1,7%

OGLOBO.COM.BR
POR RENNAN SETTI

Ibovespa havia despencado 8,79% na véspera

Casa de câmbio no Centro do Rio, em 16 de maio de 2017. Foto Monica Imbuzeiro/Agência O Globo

RIO - Após a maior alta desde 1999 na quinta-feira diante da crise política gerada pela delação da JBS que envolve diretamente o presidente Michel Temer, o dólar fechou nesta sexta-feira em queda de 3,92%, a R$ 3,257. Na mínima, a divisa chegou a valer R$ 3,253. Ontem, o dólar saltou 8,16%, a R$ 3,39. No mercado de ações, após desabar mais de 8% na véspera, o índice Ibovespa subiu 1,69%, aos 62.639 pontos.
— O dólar está caindo muito em função da atuação do BC e do Tesouro, com a venda de dólares e a compra de títulos prefixados. Além disso, os ativos já estavam muito estressados. O ambiente externo também está favorecendo esse movimento, já que a divisa americana perde força em escala global hoje — analisou Paulo Petrassi, da Leme Investimentos. — Mas as gravações comprometem demais o presidente Temer. Para o mercado financeiro, a melhor coisa seria a renúncia.
Na quinta-feira, o Banco Central anunciou intervenção de até US$ 6 bilhões no mercado de câmbio por três sessões a partir desta sexta-feira, sendo US$ 2 bilhões por dia. A autoridade monetária fará leilões diários de 40 mil contratos de swap cambial, instrumento que funciona como venda de dólares no mercado futuro. Ontem, o BC já havia oferecido ao mercado US$ 2 bilhões de contratos de swap.
— Os ativos estão todos melhores, e a curva de juros, corrigindo um terço do estresse de ontem. A questão foi que as gravações não se mostraram tão contundentes quanto o que se esperava, e o mercado também exagerou o movimento na quinta-feira de forma grotesca. Além disso, a autoridade monetária agiu, e o mercado sempre respeita. Já houve situações em que não respeitou, quando o dólar disparou em 2015, mas ali tratava-se de uma deterioração de fundamentos. Não é esse o caso hoje — afirmou Eduardo Canto, gestor da asset Aria Capital. — Ontem, houve uma reação exagerada para os fundamentos para o país que, com Temer ou sem Temer, não acabaria.
Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do Modal Asset, também avalia que os áudios se revelaram menos comprometedores do que se antecipava, aliviando parte dos temores dos analistas.
— A atuação do BC e do Tesouro foi super importante também, sobretudo para o mercado de juros, onde todos estão posicionados na mesma direção. Acabou que a recompra de títulos pelo Tesouro não teve muita demanda, mas só de ele ter dado uma porta de saída para os investidores foi muito importante — disse.
Para Portella, embora o mercado esteja colocando no preço o atraso das reformas, a próxima semana será determinante para que os investidores avaliem as condições de o governo Temer recompor sua agenda:
— Se ele conseguir recompor sua agenda política, o mercado pode muito bem voltar para onde estava antes desse estrago. Sobretudo porque o mercado externo está super positivo. se não tivesse havido esse evento, o dólar poderia estar hoje em R$ 3.
Para o economista-chefe do BTG e ex-diretor do BC, Eduardo Loyo, a autoridade monetária já tentou gerar tranquilidade, na manhã de quinta-feira, divulgando comunicado informando que a politica monetária vai continuar se guiando pelos seus objetivos usuais e que não há relação mecânica entre a crise política que se instaurou no governo e a condução da política monetária. No entanto, ele considera que, depois desse choque no mercado, o BC terá de refinar essa comunicação:
— Foi um comunicado muito genérico, impressionista. Com o passar dos dias, precisa refiná-lo. É preciso manter o o foco naquilo que é relevante. E o que é relevante não é a oscilação da taxa Selic a cada dia, em particular dela agora e na semana que vem. Mas o que o mercado entenderá que serão as intenções do BC para a posição da Selic ao longos dos vários meses e portanto o que o BC considera adequado para o funcionamento da economia sob as novas condições impostas agora, em relação a estrutura dos termos de juros.
Ontem, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, desabou 8,79% ontem, aos 61.597 pontos, maior recuo desde outubro de 2008, auge da crise financeira internacional. Na abertura dos negócios, o Ibovespa chegou a cair mais de 10% e o circuit breaker foi acionado, paralisando os negócios por meia hora. Esse mecanismo não era usado há quase nove anos.
As ações que mais caíram ontem hoje registram, mas ainda longe de compensar as perdas da véspera. O Banco do Brasil subiu 3,32% (R$ 27,98), depois de derreter 19,91% no dia anterior. No Bradesco PN, a alta de 1,65% (R$ 27,75) ocorreu depois de um tombo de 13,11%. A Cemig, que despencara 20,43%,subiu 4,42% (R$ 7,32).
As ações ordinárias da Petrobras (ON, com voto) subiram forte durante parte do pregão mas encerraram alta de 0,98% (R$ 14,41), depois de despencarem 13,22% na quinta-feira. As preferenciais (PN, sem voto) avançaram 3,57% (R$ 13,62), depois de um tombo de 15,76%.
A JBS, protagonista da crise, subiu 1,52% (R$ 8,71), após recuo de 9,8% ontem, interrompendo sequência de seis quedas seguidas.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |