segunda-feira, 10 de junho de 2013

ECONOMIA: Para compensar alta do dólar, agências de turismo reduzem cotação em pacotes

De OGLOBO.COM.BR
RENATA CABRAL 
SÉRGIO VIEIRA 

Empresas querem evitar queda na procura por pacotes internacionais, que já começa a ser sentida no setor, às vésperas das férias de julho
RIO - A alta do dólar, que teve valorização de 7% em maio e bateu em R$ 2,15 na última quarta-feira, a maior alta dos últimos quatro anos, já assusta quem havia planejado sair do Brasil nos próximos meses e afeta o movimento em operadoras e agências de viagem do país. Com a proximidade das férias de julho, as empresas de turismo, no entanto, não demoraram a agir. Para convencer o turista receoso de que viajar para o exterior ainda é um bom negócio, lançaram mão nesta semana de um arsenal de artifícios como promoções e câmbio reduzido.
A operadora de viagens CVC, por exemplo, anunciou na quinta-feira, dia em que o dólar fechou a R$ 2,12, uma promoção que garante a cotação a R$ 1,99 para quem comprar pacotes para Miami, Orlando, Nova York, Buenos Aires, Bariloche, Santiago e Punta Cana para qualquer época do ano. O incentivo está previsto para durar, a princípio, dois dias, mas pode ser prorrogado. De acordo com a CVC, ao longo de todo o ano, a cotação usada já é um pouco menor do que a praticada no mercado. Mas caiu de forma brusca, do patamar de R$ 2,14 praticado na quarta-feira, para fisgar os clientes indecisos. Apesar da promoção, que ocorre exatamente em meio à alta do dólar, a companhia diz ainda não sentir queda na procura:
“Para a CVC, as pequenas variações não chegam a interferir nas vendas de pacotes de viagens ao exterior, visto que os consumidores costumam se planejar com antecedência e preferem absorver essas diferenças no parcelamento em até dez vezes sem juros”, disse, em comunicado.
Levantamento feito pelo comparador de viagens Mundi, no entanto, mostra uma queda forte na procura por passagens aéreas nas dez mais procuradas cidades americanas (Miami, Orlando, Las Vegas, Los Angeles, Boston, Nova York, Chicago, São Francisco, Seattle e Washington) desde a disparada do dólar. A demanda caiu 25,15% entre 29 de maio e 4 de junho. Na semana anterior, de 22 a 28 de maio (e que não teve o feriado de Corpus Christi), a procura por bilhetes para esses destinos havia subido 20,44%. Entre 15 e 21 de maio, era de 14,46% e, entre 8 e 14 de maio, 13,27%.
Com a valorização da moeda americana, a percepção é de que os clientes estão cautelosos. É o que diz Cristiano Placeres, gerente de operações e mercado da Flytour Viagens. Apesar de não saber precisar o quanto a procura por pacotes internacionais recuou, Placeres afirma que o movimento é usual quando se tem um aumento abrupto do dólar.
— A família brasileira se programa dentro de um gasto. Quando o dólar aumenta e a cota ultrapassa o que tinha programado, as primeiras medidas são aguardar a queda da moeda ou buscar outro destino internacional mais em conta.
Para Gilberto Hingel, diretor de negócios da Litoral Verde, agência que tem sede em Petrópolis, a alta do dólar, por enquanto, ainda traz um impacto “mais psicológico do que real” para os turistas.
— Percebemos o receio do cliente, mas, na prática, para o bolso do turista, ainda compensa ir para o exterior.
Isso porque não só os preços dos hotéis como as compras em geral permanecem mais em conta no exterior, defende o diretor. Segundo Hingel, antes que as vendas caíssem pelo temor com o dólar, a agência lançou nesta sexta uma promoção voltada para os destinos internacionais, com preços reduzidos em até 30%. A decisão foi tomada no fim de maio, quando a moeda americana mostrou tendência de alta.
O custo do dólar já leva alguns turistas a trocarem os destinos internacionais pelos domésticos. Na agência Mar-Tha Rio, em Copacabana, a agente Marta Krautz diz que percebe um aumento na consulta por pacotes nacionais.
— A impressão é que as pessoas estão na expectativa, renovando reservas e esperando que haja uma queda — avalia.
O compasso realmente é de espera. Caroline Nedelciu, gerente Comercial da Raidho Tour, afirma que o movimento com relação a cotações se manteve. Mas grande parte de seus clientes que estavam negociando na semana passada (que aguardavam um possível recuo do dólar) retornaram nos últimos dias desta semana para fechar os pacotes pois perceberam que o viés não era de baixa no curto prazo. Por causa do dólar mais alto, a empresa lançou um pacote para o Dia dos Namorados no Caribe com preços mais baixos.
— Como não podemos mexer no câmbio, preferimos perder na margem [de lucro] a perder clientes — conta Caroline.
Na agência Bancor, que fica na Barra da Tijuca, a vendedora Ana Lídia Ferreira diz que as vendas já caíram cerca de 20% nas últimas semanas:
— Só está fechando quem já tinha férias marcadas e compromissos agendados. Há muitas cotações, mas menos fechamentos — confirma.
Pacotes menores para compensar os gastos
Uma das estratégias dos brasileiros para não deixar de viajar é diminuir o número de dias no destino, explica Fernanda Guimarães, dona da agência Check In Viagens.
— Quando ó dólar aumenta muito, o passageiro deixa de viajar, fica mais cauteloso. Em muitos casos, clientes que iam passar 21 dias na Europa passam 15 — afirma ela, garantindo, porém, que ainda não vê casos de cancelamento.
Fernanda cita ainda as promoções como forma de garantir que os clientes comprem as passagens. A Alitalia, por exemplo, há três dias, oferece para a classe econômica tíquetes com destino a Londres, Paris e Frankfurt de US$ 900 mais taxas por US$ 740 (também mais taxas). Procurada pelo GLOBO, a Alitalia não respondeu o contato.
Já Celso Garcia, sócio-diretor da Central de Intercâmbios, afirmou que o departamento comercial não sentiu nenhuma oscilação na procura por pacotes internacionais nas últimas semanas comparando com o mesmo período do ano passado. Se a instabilidade dos preços persistir, entretanto, as chances de começarem a atingir o negócio será sentida no próximo semestre, diz:
— Ainda estamos numa situação de normalidade. A moeda neste patamar não vai afastar nossos clientes que se planejam com antecedência quando fecham pacotes de intercâmbio. O que preocupa mesmo é se a instabilidade persistir. Aí sim vamos sentir no próximo semestre.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |