Do UOL, em São Paulo
Roberto Pereira de Souza
- Leandro Moraes/UOLMP vê improbidade administrativa na concessão de incentivos fiscais ao Itaquerão
O promotor Marcelo Camargo Milani (Patrimônio Público) ingressará nesta
sexta-feira pela manhã com uma ação civil contra o prefeito Gilberto Kassab
(PSD) por improbidade administrativa no processo da obra do Itaquerão. Segundo o
documento, o mandatário renunciou a R$ 42 milhões, que deixaram de ser
arrecadados pelo Município, como cota de 5% de ISS, sobre o valor da construção
do estádio.
Se a ação for aceita pela Justiça da Capital de São Paulo, o prefeito ficará
inelegível até o fim do processo. Além da Prefeitura, o Corinthians, a
construtora Odebrecht, a Arena Fundo Imobiliário e a BRL Trust (gestora do F.I.)
também serão enquadrados como réus solidários até no pagamento de multa
estipulada em R$ 1,74 bilhão.
A proposta de ação, contra os responsáveis pelo Itaquerão, foi divulgada no
momento em que a construção do Itaquerão chega ao 12º mês. A conclusão da obra
está prevista para dezembro de 2013 para ser sede de abertura da Copa 2014. Mas
o promotor não parece preocupado com as planilhas dos engenheiros da
Odebrecht:
“A construção é ilegal, a cessão do terreno é ilegal e a concessão dos
incentivos fiscais também está fora lei. O Corinthians não é dono de nada”,
disse o promotor Camargo Milani, quinta-feira à noite, enquanto anexava
documentos que serão enviados à Justiça.
Milani comentou que “a obra é uma ação entre amigos em prejuízo do povo, que
pagará a conta”.
O vice presidente do Corinthians e um dos principais responsáveis pela
construção do Itaquerão, Luis Paulo Rosenberg, falou por telefone com
UOL Esporte e fez algumas perguntas.
“Por que isso agora? É uma obra importante para o Governo Federal, Estadual.
Vou esperar a citação e me inteirar do conteúdo. Multa de R$ 1,7 bi? Por quê?”,
questionou Rosenberg.
Questionada sobre a ação de improbidade administrativa proposta pelo MP, a
assessoria de Kassab disse que a “Prefeitura prestará todos os esclarecimentos
quando receber a intimação do MP”. A assessoria da construtora Odebrecht também
vai aguardar “a citação oficial para prestar qualquer esclarecimento sobre o
assunto”.
Para o promotor Milani, as respostas estão em seu texto a ser enviado, nesta
sexta-feira, à Justiça.
“O prefeito cometeu improbidade administrativa ao renunciar a R$ 42 milhões,
que deixaram de ser arrecadados pelo Município, como cota de 5% de ISS, sobre o
valor da obra. Esse valor deveria ser pago pela Odebrecht, pela Arena Fundo
Imobiliário e pela BRL Trust. Esse dinheiro tem que voltar para a Prefeitura”,
disse o representante do MP. “Por que motivo o prefeito concedeu esse benefício
à construtora Odebrecht?”
O MP denuncia a falta de um estudo isento de impacto orçamentário como
determina a Lei de Diretrizes Orçamentárias para a concessão dos incentivos.
“Antes de optar pela isenção fiscal, o prefeito deveria fazer um estudo
orçamentário detalhado do impacto da ausência desse dinheiro nos cofres
públicos. A prefeitura não fez esse estudo. A isenção deverá ser compensada por
outras receitas, nem que seja a criação de um novo imposto”, explicou
Milani.
Outro aspecto crítico na captação do dinheiro para a construção do Itaquerão
é a emissão do títulos públicos (CIDs), de incentivo a projetos realizados na
zona leste.
A venda dos títulos municipais faz parte da engenharia financeira montada
para financiar o Itaquerão. O projeto para 48 mil pessoas custará R$ 820
milhões, captados da seguinte maneira: R$ 400 milhões como empréstimo junto ao
BNDES e R$ 420 milhões com a venda dos CIDs.
“Antes de licitar, a Odebrecht e o Corinthians já falavam que usariam R$ 420
milhões dos CIDs. Isso é ilegal, inconstitucional. É um engodo para burlar não
só a Constituição Federal, bem como a lei de licitações e a lei de
responsabilidade fiscal”, enfatiza o promotor em sua petição.
As obras do estádio começaram em 30 de maio de 2011, mas o projeto de lei de
incentivos fiscais foi aprovado em 22 de junho do ano passado. Em depoimento, o
vice-presidente do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg, confirmou que o CID seria
usado na obra (bem antes da licitação que escolheria a Odebrecht como
beneficiária).
“O estudo de viabilidade econômica foi feito por uma empresa privada e não
pela Prefeitura. Como não foi feito por órgão público, temos o desrespeito à Lei
de Responsabilidade Fiscal e a improbidade administrativa”, falou o promotor
Milani.
O promotor pede que a Justiça conceda liminar para a cobrança imediata dos R$
42 milhões devidos pelo que chama de “renúncia fiscal ilegal”.
“Fixei um valor de R$1,74 bi de multa e peço à Justiça a cobrança imediata do
Imposto sobre Serviço que Kassab não quis receber da Odebrecht”, conclui
Milani.
MPF também será comunicado
O promotor confirmou também que vai enviar ofício ao Ministério Público
Federal. “O MPF pode abrir uma investigação sobre o financiamento da obra pelo
BNDES, que está analisando pedido de empréstimo no valor de R$ 400 milhões. A
BRL Trust, gestora do fundo, foi aberta em 2011 com capital de R$ 600 mil. Como
uma empresa com menos de um ano de vida pode cuidar de uma obra de R$ 1 bilhão?
”, questiona Milani.
O promotor usa a ação de improbidade administrativa para questionar também a
cessão real de uso do terreno (CDRU), desde 1988. A lei assinada por Jânio
Quadros prevê a retomada da área pela prefeitura, caso o Corinthians não cumpra
o acordo judicial para entrega de contrapartidas.
Como há atraso na entrega de contrapartidas, um acordo judicial foi assinado
em maio de 2011, fixando o valor de R$ 12 milhões nas ações sociais devidas. O
primeiro lote de ações (semestrais) não foram aceitas pela promotoria de
Urbanismo.
“Por isso, o Corinthians está em débito e o terreno pode, sim, ser retomado
pela Prefeitura”, explicou Milani.
CONCORRÊNCIA SIMULADA
-
Em março deste ano, a prefeitura de São Paulo abriu uma concorrência para projetos de construção de um estádio na zona leste da capital paulista interessados em receber incentivo fiscal de R$ 420 milhões. O problema é que, da forma como a licitação foi aberta, só o Corinthians e a empreiteira Odebrecht tinham chance de vencer.
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