Por MIRIAM LEITÃO - O GLOBO
O governo anunciou ontem medidas de incentivo ao consumo, focadas,
principalmente, no setor automobilístico. A indústria, em geral, tem problemas
estruturais que, se enfrentados, poderiam fazer com que o país aumentasse sua
competitividade. Mas toda vez que o setor automobilístico passa por
dificuldades, corre a Brasília, que anuncia logo um pacote.
O Brasil não tem uma política industrial, mas uma política para a indústria
automobilística. Quando está com os pátios cheios, qualquer empresa do mundo
reduz os preços para vender mais; no Brasil, no entanto, esse setor foi ao
governo para diminuir os impostos e para o BC aumentar a oferta de dinheiro. A
instituição reduziu o compulsório, liberando R$ 18 bi apenas para comprar
carro.
É claro que consumo é importante para a economia, mas é na carteira de
veículos que a inadimplência está mais alta.
Incentivar o consumo não afetaria a inflação? Os índices estão subindo,
principalmente os IGPs, mas não muito, porque a economia está fraca. Os preços
no atacado estão sendo afetados pela alta do dólar, que já subiu 7% este
mês.
O governo está reduzindo o investimento este ano em relação a 2011, quando
deveria aumentá-lo, para que o país possa crescer de forma sustentada; não
incentivar o endividamento.
O pacote está errado. É bom comprar carro mais barato, mas de novo, o governo
não tem uma visão de longo prazo, uma visão para a indústria inteira. O setor
enfrenta vários problemas: o preço da energia é alto; a logística, ruim; a
tributação, excessiva e complexa. Mas o governo só pensa na indústria
automobilística, como se fosse a única no país.
Ele precisa pensar, portanto, em medidas de longo prazo. Esse é o sétimo
pacote do mesmo tipo, de curto prazo, que tem como centro a indústria
automobilística.
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