sexta-feira, 25 de maio de 2012

COMENTÁRIO: Cachoeira e as coisas da vida


Por Sandro Vaia - Do blog do NOBLAT


Como disse o renomado filósofo contemporâneo Wagner Love, quem nunca capotou com o carro?
Tomando-se como ponto de partida essa profunda e dilacerante reflexão existencial, poderíamos replicá-la para outros cenários onde se desenvolve a penosa e enriquecedora experiência humana em busca de uma explicação para o sentido da vida.
Se nos debruçarmos , por exemplo, sobre o desenrolar de uma das mais populares e rumorosas experiências políticas deste começo de século-a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga o contraventor Carlinhos Cachoeira- podemos estender a indagação filosófica de Wagner Love a outros ramos da atividade humana.
Por exemplo:
Quem nunca mandou um torpedo carinhoso e tranquilizador a um aliado político de peso assegurando-lhe que “você é nosso e nós somos teu”?
Quem nunca emudeceu diante de uma comissão de inquérito exercendo o direito constitucional de não testemunhar contra si próprio, tendo ao lado a montanha de sabedoria jurídica de um ex-ministro da Justiça pronto a comprovar quanto o silêncio pode ser de ouro - ou quanto de ouro pode valer um siêncio?
Quem nunca foi dono de uma empreiteira de obras públicas com contratos em 24 estados da federação e que, depois de dizer que políticos são amaciados com dinheiro e de dançar na boquinha da garrafa com um de seus contratantes, desaparece de cena e entrega de graça sua empresa que fatura 3 bilhões aos donos de um frigorífico que por acaso passavam por perto?
(Como até Wagner Love sabe, há uma grande sinergia entre vender carne de boi e construir estádios e obras públicas em geral).
O fato é que, com ou sem a filosofia Wagner Love, entre equívocos e silêncios, a CPMI caminha para um impasse que pode definir a sua irrelevância absoluta.
Gerada artificialmente por um cálculo político equivocado, ela começou sem um roteiro claro e definido, e não dá mostrar de estar perto de encontrar a sua porta de saída.
Ao partido do governo interessava encalacrar Demóstenes Torres, desafeto de tantos anos, e Marconi Perillo, governador de Goiás.
Sonhou que o turbilhão dos escândalos novos encobriria o impacto dos escândalos velhos, como o do Mensalão.
A oposição entrou de cabeça sonhando envolver os governadores do DF, Agnelo Queiroz, e do Rio, Sérgio Cabral.
Nada deu certo. Os governadores continuam blindados e as ações da construtora Delta, se circunscritas ao Centro-Oeste, não prometem grandes emoções. Ou se vai à Delta nacional ou a CPI morre por inanição antes do tempo.
Se tudo continuar assim, Carlinhos Cachoeira terminará a história do mesmo tamanho que começou, como o único vilão, tendo como consolação não só a teoria Wagner Love, como a de sua namorada, a romântica Andressa: “Afinal, quem está livre se ser preso”?
Assim, montar esquemas para enriquecer com dinheiro público continuarão sendo coisas normais da vida, como capotar o carro ou ser preso.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br

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