terça-feira, 8 de maio de 2018

INVESTIGAÇÃO: Empresas privadas são citadas em operação que prendeu doleiros

FOLHA.COM
Italo Nogueira
RIO DE JANEIRO

Delações levam à prisão ex-diretor do grupo Bozano e de um suposto operador da Casa & Video

Movimentação na sede da Polícia Federal no centro do Rio em razão da Operação Câmbio, Desligo - Fabio Teixeira/Folhapress

A delação feita pelos dois principais doleiros do país, Vinicius Claret e Cláudio Barboza, atingiu não só possíveis operadores financeiros de políticos, mas também de dois grupos privados.
Foram alvos da Operação Câmbio, Desligo, na semana passada, o economista Oswaldo Prado Sanches, diretor do grupo Bozano até o mês passado, e Flávio Dib, suspeito de ser o responsável por transações envolvendo a Casa & Video e seu antigo acionista, Luigi Milone.
Os dois são suspeitos de terem feito operações dólar-cabo com Claret e Barboza entre os anos de 2008 e 2016.
A dupla de doleiros é funcionária de Dario Messer, espécie de banqueiro da operação de ambos, ainda foragido.
Sanches foi até o mês passado diretor da companhia Bozano, empresa da família do milionário Julio Bozano, um dos homens mais ricos do país. É por meio dela que ele participa dos diferentes negócios de que é sócio, nos setores de petróleo, aéreo e financeiro, entre outros.
De acordo com o Ministério Público Federal, é atribuído a Sanches a movimentação de US$ 15,9 milhões (o equivalente a R$ 56,5 milhões) por meio dos doleiros. Quase a totalidade das operações tinha como objetivo obter reais em espécie no Brasil. Para isso, eram feitos pagamentos em dólares no exterior em contas indicadas por Claret e Barboza.


Os pagamentos de Sanches no exterior vinham de uma conta do banco Morgan Stanley, agência em Nova York, em nome de Bozano Ltd, de acordo com Claret. O doleiro atribui em seu depoimento as operações para o suspeito como sendo de interesse do banco Bozano Simosen.
O banco Bozano Simosen foi vendido em 2000 para o Santander, mas a operação só foi totalmente concluída em 2011.
Claret, principal contato de Sanches, afirmou à Procuradoria que o grupo Bozano é cliente da família Messer desde a década de 1990.
O juiz Marcelo Bretas determinou o bloqueio de R$ 59,7 milhões em contas vinculadas à companhia Bozano e outra três empresas ligadas a ela. A fortuna de Julio Bozano é estimada em R$ 5,7 bilhões, segundo a revista Forbes, que faz ranking de fortunas.
A operação também levou à prisão de Flávio Dib das Chagas Moura, segundo os doleiros, responsável por operações dólar-cabo de interesse da rede varejista Casa & Vídeo e um de seus sócio, Luigi Milone.
Segundo o sistema financeiro da dupla, Dib movimentou US$ 11,5 milhões (o equivalente a R$ 41 milhões) para a empresa e seu sócio entre 2008 e 2014. A suspeita é que a empresa recorria ao dólar-cabo para pagar a importação de produtos. Ao recorrer ao sistema de dólar cabo, há a suspeita de que incorra em evasão de divisas e sonegação fiscal.
A rede varejista já foi alvo da Operação Negócio da China, em que Milone foi acusado e condenado por evasão de divisas, falsidade documental e descaminho na importação de produtos. As provas do caso, porém, foram anuladas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A empresa entrou em recuperação judicial em 2009 e passou a se chamar Mobillitá. No curso do processo, o nome da rede foi dado a outra empresa, sem relação com Milone.
OUTRO LADO
A defesa de Oswaldo Prado Sanches afirmou que só vai se manifestar sobre as suspeitas após analisar todo o processo. Já foi pedida a soltura do executivo sob alegação de que os fatos são antigos e não há risco para as investigações.
A companhia Bozano disse, em nota, "que foi surpreendida com a prisão cautelar do ex-diretor".
"A Companhia, que não é alvo da investigação e que não atua no mercado de câmbio, está à disposição das autoridades investigativas para colaborar com os esclarecimentos que se fizerem necessários, registrando, desde já, que os fatos tidos como suspeitos não guardam relação com a sua atuação empresarial", afirma a nota do advogado Pedro Ivo Velloso.
A Casa & Video disse que não tem relação com a antiga empresa de mesmo nome.
"Logo, a Casa & Video, criada no âmbito da recuperação judicial da Mobilitá, não possui responsabilidade alguma pelo período em que a atividade empresarial era exercida pela Mobilitá", afirmou a empresa, em nota.
O advogado Antônio Pitombo, que defende Luigi Milone, afirmou que "os fatos são velhos".
"Isso tudo já foi apurado no processo judicial da Casa e Video. O número é leviano", declarou. A Folha não localizou a defesa de Flávio Dib.

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