terça-feira, 8 de maio de 2018

ECONOMIA: Em crise cambial, Argentina decide pedir ajuda ao FMI

FOLHA.COM
Sylvia ColomboEstelita Hass Carazzai
WASHINGTON e BUENOS AIRES

Mauricio Macri inicia negociações após peso se desvalorizar 5% ante o dólar na última semana

O presidente argentino Mauricio Macri - REUTERS

O presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou no início da tarde desta terça-feira (8) que, devido à disparada do dólar na semana passada e às dificuldades do governo em proteger a moeda argentina de uma desvalorização ainda maior, decidiu iniciar conversas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) "para alcançar um acordo que permita superar as turbulências cambiárias dos últimos dias."
O objetivo é conseguir um empréstimo de US$ 30 bilhões.
Macri disse que tomou a decisão para proteger o salário dos argentinos.
O dólar, que se valorizou mais de 5% antes o peso na última semana e havia começado o dia em 23,5 pesos, começou a cair logo após a transmissão. No começo da tarde já estava em 22, e o governo espera que caia ainda mais nos próximos dias.
Ao explicar a razão dos últimos acontecimentos, responsabilizou o estado da economia que recebeu do kirchnerismo em 2015 e “a fragilidade de nossa moeda diante do cenário internacional em transformação”.
As conversas com o FMI, explicou, teriam como objetivo “que nos outorguem uma linha de apoio financeiro”.
Em tom moderado, Macri disse que a conversa com Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, foi para pleitear uma medida preventiva e que a equipe econômica não abandonaria a linha iniciada em dezembro de 2015.
Ele fez o possível para demonstrar tranquilidade. “Ela [Lagarde] nos confirmou que vamos começar hoje mesmo a trabalhar num acordo.” E terminou lançando farpas a Cristina Kirchner. “Jamais vocês voltarão a ser enganados, a ser levados a acreditar em soluções mágicas, a acreditar que aquilo que te dão pode ser permanente”, referindo-se aos generosos subsídios que se mantiveram durante o governo anterior.
​Lagarde confirmou, em nota, que iniciou “discussões” com o presidente Macri sobre como fortalecer a economia da Argentina, que devem ser levadas a cabo em breve. Mas a diretora não deu mais detalhes sobre o potencial empréstimo.

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, em encontro com o presidente da Argentina, Mauricio Macri POOL New/Reuters/REUTERS

GRADUALISTA
Na sexta (4), o banco central argentino anunciou o terceiro aumento de juros em uma semana, para tentar conter a forte desvalorização do peso em relação ao dólar e a inflação, que continua acima da meta estabelecida pelo governo para 2018 de 15% — está ao redor dos 20%.
Macri defendeu que o governo seguirá com sua política econômica gradualista, de não fazer ajustes bruscos. 
Mesmo porque, segundo analistas, isso também seria impossível, uma vez que cerca de 37% do orçamento anual é destinado a gasto público que o governo resiste em cortar, ou porque recebe demasiada pressão por parte de sindicatos ou por medo de perder apoio político.
“O método gradualista depende de financiamento externo, e nos últimos dias, por diversas razões, as condições de financiamento externo para a Argentina se endureceram.”
Macri disse que confia nas decisões de sua equipe econômica, que vem recebendo críticas —o presidente não tem um ministro da economia, mas vários que se dedicam a áreas específicas.
“Esta é a melhor maneira de trabalhar e vamos cumprir nossos compromissos externos e internos. Não vou fazer, como aconteceu em governos anteriores, declarações baseadas na demagogia e na mentira, estou convencido de que o caminho que tomamos vai nos levar a um melhor caminho para todos os argentinos”.
Enquanto a fala do presidente ia ao ar, ouvia-se o som de panelas batendo em alguns bairros. Há a perspectiva de que o novo “tarifaço” de taxas de serviços, programado para ser aprovado ainda nesta semana, de fato se concretize, o que elevaria os preços do gás, da eletricidade e do transporte.
OUTROS CASOS
O ministro argentino da Fazenda, Nicolás Dujovne, deve se reunir com Lagarde nesta quarta em Washington para debater os detalhes.
Atualmente, apenas dois países latino americanos têm operações com o FMI: Colômbia e México. 
Os dois têm acesso a uma linha de crédito, do mesmo tipo que a Argentina pleiteia junto ao fundo. Nesse caso, o montante não precisa ser necessariamente sacado pelo país, mas serve como garantia para outras operações e ajuda a melhorar a estabilidade financeira e reduzir os indicadores de risco do país. 
A linha de crédito da Colômbia, de US$ 11,5 bilhões, foi concedida em 2016, e a do México, de US$ 88 bilhões, em 2017. 
Para conseguir acesso ao dinheiro, o país precisa cumprir alguns requisitos, como bom fluxo de capitais e inflação estável. A linha de crédito vale por dois anos, mas é renovável, a depender dos indicadores econômicos do país.
A Argentina recorreu a um empréstimo do FMI pela última vez em 2003, durante o governo de Eduardo Duhalde. Já o Brasil é credor do fundo desde 2009.

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