terça-feira, 28 de julho de 2015

CORRUPÇÃO: Preso na 16ª fase da Lava-Jato, presidente de estatal liderou Programa Nuclear Paralelo

OGLOBO.COM.BR
POR JULIANA CASTRO

Othon Luiz Pinheiro da Silva pediu licença do comando da Eletronuclear em abril
Othon LuizPinheiro da Silva, presidente licenciado da eletronuclear - Gustavo Miranda (11/03/2014) / Agência O Globo

RIO - Preso nesta terça-feira durante a 16ª fase da Operação Lava-Jato, o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, recebeu em 1978 a incumbência de iniciar os primeiros estudos para um submarino nuclear brasileiro e liderou o Programa Nuclear Paralelo entre 1979 e 1994. Executado sigilosamente pela Marinha, o projeto resultou no desenvolvimento da tecnologia 100% nacional de enriquecimento do urânio pelo método de ultracentrifugação. Engenheiro e vice-almirante reformado, Othon disse em entrevista ao GLOBO, em março do ano passado, que o objetivo inicial do projeto foi desenvolver a tecnologia de propulsão nuclear e admitiu que o governo militar da época tinham interesse bélico no programa.
O Brasil desenvolveu na década de 1970 dois ambiciosos planos nucleares - um público e outro secreto. O projeto oficial foi anunciado em 1974 a partir de um acordo com a Alemanha. Em face dos resultados não satisfatórios, os militares brasileiros desenvolveram a partir de 1979 o Programa Nuclear Paralelo, que foi mantido durante um longo período fora do conhecimento público e fora do alcance dos inspetores da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA). Em setembro de 1987, o então presidente José Sarney anunciou o domínio do enriquecimento do urânio, alcançado pelos pesquisadores envolvidos no projeto. No ano seguinte, o programa foi incorporado às pesquisas oficiais.
O nome de Othon Luiz Pinheiro da Silva já havia aparecido na Lava-Jato. O ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini afirmou que coube à UTC, com participação do empreiteiro Ricardo Pessoa, convocar uma reunião para acertar propina ao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear, entre eles Othon Luiz Pinheiro da Silva. O depoimento de Pessoa, da UTC, reforçou o teor da delação de Avancini. A construção de Angra 3, alvo das investigações da Lava-Jato porque teria havido ajuste prévio de licitações nas obras, e a operação de Angra 1 e 2 ficam a cargo da Eletronuclear.
Othon pediu licença do cargo de presidente da Eletronuclear em abril, após notícias veiculadas na imprensa de que teriam sido feitas negociações para pagamento de supostas propinas a ele nas obras da usina nuclear de Angra 3. Enquanto isso, a presidência interina é exercida por Pedro José Diniz de Figueiredo, que estava na Diretoria de Operações da estatal. Othon estava à frente da Eletronuclear desde outubro de 2005.
Nascido em 25 de fevereiro de 1939 em Sumidouro, no interior do Rio, Othon é engenheiro naval formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com mestrado na área nuclear no Massachusetts Institute of Technology (MIT). De 1982 a 1984, acumulou com suas funções na Marinha do Brasil o cargo de diretor de Pesquisas de Reatores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), ocasião em que foi construído o Reator IPEN-MB-01 (único reator de pesquisas projetado e construído com equipamentos nacionais).
Em 1994, foi para reserva na Marinha do Brasil no posto de Vice-Almirante do Corpo de Engenheiros e Técnicos Navais, o mais alto posto da carreira naval para oficiais engenheiros. Por seu trabalho, Othon recebeu em 2011 da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) o título de cidadão benemérito do Estado do Rio.

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