sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

MÚSICA: Há 50 anos, Beatles comandava a invasão da música britânica na América

Do UOL, em São Paulo
Luiz Antonio Mello

Americano genuíno, o rock engoliu o mundo com poucos anos de vida. Registros como as gravações de "That's All Right (Mama)", de 1954 (Elvis Presley) e "Rock Around the Clock", de 1955 (Bill Haley) colocaram os Estados Unidos de cabeça para baixo, deixando os moralistas desesperados com o que classificavam de libertinagem ampla, geral e irrestrita.
O que ninguém imaginava é que do outro lado do Atlântico, no Reino Unido, usando tábuas de passar roupa como instrumentos, muitos grupos de skiffle --gênero musical com forte influência do blues, jazz e country-- ganhavam as ruas no final dos anos 1950. Uma dessas bandas foi o The Quarrymen, formada por John Lennon em 1957 e que tinha como contrabaixo um cabo de vassoura preso a uma caixa de chá. Outro ás do skiffle era Jimmy Page, pai do Led Zeppelin que, em 1961, com 17 anos de idade, já trabalhava como músico de estúdio e tocava numa banda do estilo.
Inspirados em seus ídolos norte-americanos, a febre de bandas de rock começava a tomar o Reino Unido. Nomes como The Shadows e Cliff Richards alucinavam a garotada e, em outra ponta, The Beatles e Rolling Stones começavam a fabricar o navio que iria servir de cabeça de ponte para a tão cultuada Invasão Britânica na América.
Livros, filmes, discos, muito se produziu sobre a Invasão que começou com a explosiva ida dos Beatles aos Estados Unidos em 1964. O grupo se apresentou no lendário "Ed Sullivan Show" em 9 de fevereiro daquele ano que, afirmam todas as biografias, registrou a maior audiência de televisão da história. A América, boquiaberta, começou a assistir cenas de garotas se atirando no chão para lamber as calçadas por onde os Beatles passavam. Se existe um marco zero para a Invasão Britânica é o dia 9 de fevereiro de 1964.
Os Beatles logo dominariam todas as paradas de sucesso, e no dia 4 de abril daquele mesmo ano eles ocuparam as cinco primeiras colocações na lista de "100 Melhores lançamentos" da revista "Billboard", um feito sem precedentes até hoje. A Invasão se consumaria com o desembarque de outros nomes como Rolling Stones, The Who, The Animals e The Kinks, entre tantos outros.
Há quem afirme que a primeira onda da Invasão Britânica teve como co-responsável o norte-americano Elvis Presley, que, ao se alistar no exército, num gesto até hoje mal explicado (ele serviu na Alemanha de outubro de 1958 até março de 1960), teria dado um tiro na asa no rock libertário e anárquico que começava a querer colocar as guitarras de fora nos Estados Unidos.
O público beijou a boca da Invasão Britânica porque ela chegava pregando paz, amor e liberdade em alto e bom som numa terra cansada de pólvora e morte no campo de batalha. Mas uma outra corrente de biógrafos afasta qualquer interferência de Elvis na Invasão Britânica. Para esses, o rock americano começou a patinar e os ingleses, famintos, entraram nos Estados Unidos matando. E não saíram mais de lá.

Enquanto isso, no Brasil...
A Invasão Britânica rompeu as fronteiras da América. Bandas do Reino Unido como Led Zeppelin e Pink Floyd fizeram sucesso mundial. Chegaram aos primeiros lugares nas paradas do Canadá, Japão, Alemanha e Holanda, nos chamados grandes mercados. Para os brasileiros, a beatlemania entrou devastando, seguida do sucesso dos Rolling Stones.

No Brasil, no dia 1º de abril de 1964, a ditadura militar arrancava o presidente João Goulart do poder e instaurava a ditadura. O rock brasileiro, naquele ano, era basicamente feito de versões de clichês norte-americanos, como já vinha acontecendo desde meados dos anos 1950. Era um modismo turbinado pelo mercado de discos que via ali uma mina de dinheiro fácil. Até Cauby Peixoto, em 1957, gravou rock, uma acelerada canção chamada "Rock and Rolll em Copacabana", cheia de gingas vocais, metais e contrabaixo.

A Jovem Guarda foi o jeito brasileiro de interpretar clássicos do rock americano e britânico através das versões produzidas por Rossini Pinto (1937-1985). De acordo com o "Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira" e o "Almanaque da Jovem Guarda", de Ricardo Pugialli, o movimento nasceu em 1965, a partir de um programa da TV Record, de São Paulo, comandado por Roberto Carlos, acompanhado de Erasmo Carlos e Wanderléa. O som era totalmente inspirado no rock do início dos anos 60 de bandas britânicas e norte-americanas, mas as letras eram açucaradas, adolescentes e politicamente alienadas.

Se lá fora a Invasão Britânica celebrava a liberdade, no Brasil os artistas ignoravam o cenário político cor de chumbo e partiam para a dança, lambretas, algodão doce e Cuba Libre. Também chamada de iê-iê-iê, a Jovem Guarda revelou nomes como Ronnie Von, Jerry Adriani, Evinha, Martinha, Lafayette, Vanusa, além de bandas como Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Leno e Lílian, Deny e Dino, Trio Esperança, Os Incríveis, Os Vips e The Fevers.

Com o fim do programa de Roberto Carlos, em 1968, a Jovem Guarda foi perdendo força até sucumbir no final dos anos 1960, quando a Tropicália já era uma realidade musical, roqueira e política que incomodou os militares --que, reagindo brutalmente, prendiam músicos, censuravam canções e baniam aqueles que não concordassem com o slogan "Brasil: ame-o ou deixe-o". Foi o caso de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que foram viver em Londres, epicentro do rock mundial no final dos 60.

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