terça-feira, 20 de agosto de 2013

POLÍTICA: A República rebelde - 1

Do POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Sem a conotação de uma rebelião aberta ou uma insubordinação burocrática, mas também não muito subterrânea e disfarçada, já é possível visualizar na capital da República, segundo os melhores observadores dos costumes locais, uma certa rebeldia de setores governamentais contra determinadas políticas, orientações e discursos oficiais. É a reação da burocracia estatal formada pelo funcionalismo com carreira de Estado, incomodados com as ordens superiores que recebem, contrárias ao que eles consideram a melhor forma de gestão pública. São os servidores, concursados, de alto nível, que sabem que a caravana passa e eles ficam para pagar muitas vezes por políticas e ações com as quais, tecnicamente, não concordam.

A República rebelde - 2
Eles não pensam como agentes do governo, de um governo, de qualquer governo, mas como servidores públicos estatais, sem vinculações políticas e partidárias. A preocupação desses grupos é preservar a imagem da instituição a que servem, sem deixar que elas sirvam a interesses que não os do Estado. O mais visivelmente incomodado é o BC. Depois de passar dois anos e pouco interpretando todos os desejos da presidente Dilma e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, subordinando a política monetária à política de desenvolvimento da dupla que comanda a economia, o BC mudou sua posição em quase noventa graus. Seus últimos comunicados contrariam de maneira frontal o otimismo que Dilma e Mantega continuam a cultivar. Agora, enquanto a presidente e seu ministro comemoravam em seu melhor estilo a queda a quase zero da inflação de julho (meros 0,03% de alta), o diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton, ao avesso, disse a quem quisesse ouvir, que o resultado foi um ponto "fora da curva", indicando que a instituição não vai afrouxar no ritmo da eleição da taxa básica de juros, mesmo com sinais de que o PIB não anda lá essas coisas.

A República rebelde - 3
Semana passada, ao mesmo tempo em que o ministro da Fazenda dizia que a nova escalada do dólar é positiva para a indústria brasileira, o BC realizava uma série de intervenções no mercado para conter a rebeldia da moeda americana. Na quinta-feira, o bem informado, em matéria de BC, repórter Vicente Nunes, do "Correio Braziliense", publicou uma nota em seu blog dizendo que a instituição presidida por Alexandre Tombini estava se considerando traída pelo restante do governo, pois enquanto ela cumpriu o que tinha sido acordado entre as partes, e derrubou a Selic, não teve a contrapartida de uma política fiscal mais austera. Sem outra saída, o BC emitiu uma nota lacônica, obviamente negando a idiossincrasia. Porém, quem frequenta os ares do BC sabe que o funcionalismo de lá, altamente qualificado e comprometido com a instituição, não gosta do que está se passando. E passa seu desconforto para a diretoria, toda ela formada por funcionários de carreira. E esse ambiente de insatisfação não está somente no BC. Há tempos a burocracia da Receita Federal se preocupa com a forma atabalhoada e seletiva com que o governo adota para distribuir incentivos fiscais e desonerações de impostos. No Tesouro Nacional, outro setor de funcionários concursados e de elevado nível, a "contabilidade criativa" do secretário Arno Augustin é vista com profundo desgosto. Uma hora o caldo pode entornar.

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