segunda-feira, 19 de agosto de 2013

CIDADANIA:Companheiro de jornalista detido em Londres vai procurar o Senado e autoridades americanas

De OGLOBO.COM.BR
ANA CLÁUDIA COSTA (EMAIL)
VIVIAN OSWALD (EMAIL)

David Miranda, parceiro de Glenn Greenwald, chegou ao Rio nesta manhã
Antonio Patriota vai conversar com chanceler britânico ainda hoje sobre o caso
Partido Trabalhista pede revisão da Lei de Terrorismo e deputado britânico diz que vai solicitar explicações à polícia
David Miranda, companheiro do jornalista Glenn Greenwald, chega ao aeroporto internacional do Rio - Marcelo Piu / Agência O Globo
RIO - O brasileiro David Miranda classificou de insuficiente a declaração do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e cobrou um pronunciamento mais duro da presidente Dilma Rousseff sobre sua detenção no aeroporto de Heathrow, em Londres, pelo caso Edward Snowden. Miranda, que é companheiro de Glenn Greenwald - jornalista que revelou os programas de espionagem dos EUA com base nos documentos de Snowden - chegou ao Rio na manhã desta segunda-feira demonstrando cansaço e nervosismo. Além das nove horas retido em uma sala com seis agentes britânicos, Miranda afirma ter ficado sob custódia da polícia por mais duas horas no aeroporto de Londres.
- Vou pedir ao governo e à presidente que façam um pronunciamento sobre a detenção de um brasileiro que não tem nenhuma relação com o terrorismo. Fiquei quase 11 horas detido. Quero uma ação do governo brasileiro. A declaração do Patriota não é suficiente.
Enquanto o ministro da Relações Exteriores, Antonio Patriota, diz que vai conversar com chanceler britânico, William Hague, sobre o caso ainda hoje, o Partido Trabalhista pediu a revisão da Lei de Terrorismo do Reino Unido, que serviu de base para a detenção do brasileiro.
Miranda, que faz comunicação social na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), chegou ao Aeroporto Internacional Tom Jobim demonstrando cansaço e nervosismo. Ele contou que teve seu passaporte confiscado e teve que ficar em uma sala com seis agentes no aeroporto de Londres. O brasileiro relatou que também seu pen drive, um celular, um computador, um videogame e uma câmera fotográfica foram confiscados. No momento, ele não conseguiu falar com o advogado.
- Eles alegaram que era a Lei de Terrorismo. Vou procurar o Senado e as autoridades americanas - disse.
Para o jornalista americano Glenn Greenwald, que esperava o companheiro no aeroporto no Rio, o ato de deter Miranda foi um tentativa de intimidação uma vez que se ele não respondesse as perguntas poderia ser preso. Glenn disse que está com muita raiva diante do ocorrido e que tal situação somente mostra o caráter verdadeiro dos Estados Unidos.
- Agora vou ser mais radical com minhas reportagens no The Guardian. Tudo isso foi uma tentativa clara de intimidação - afirmou.
Pelo Twitter do Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, anunciou que vai conversar ainda nesta segunda-feira com o chanceler britânico sobre o caso. Na mensagem, o diplomata criticou a ação das autoridades do Reino Unido, afirmando que a detenção não tem justificativa legal.
“Hoje mesmo deverei conversar com o Chanceler William Hague, do Reino Unido. Consideramos que não é justificável detenção com base em lei que se aplica a suspeitos de terrorismo”, diz o post no @MREBRASIL.
O Partido Trabalhista britânico pediu uma investigação urgente sobre o uso dos poderes antiterroristas para deter o brasileiro. O artigo 7 da lei de terrorismo, de 2000, se aplica em aeroportos, portos e áreas de fronteira, permitindo aos agentes deter e interrogar indivíduos.
- Qualquer indicação de que os poderes contra o terror estão sendo mal utilizados deve ser investigada e esclarecida com urgência - disse a parlamentar Yvette Cooper.
O deputado britânico Keith Vaz, presidente de uma comissão parlamentar, afirmou que vai pedir explicações à polícia e classificou a detenção do brasileiro de fora do comum.
- É uma reviravolta fora do comum para uma história muito complicada - disse Vaz à rádio BBC. - É certo que os serviços policiais e de segurança devem questionar as pessoas. O que precisamos fazer rapidamente é estabelecer os fatos. Agora temos uma reclamação do Sr. Greenwald e do governo brasileiro. Eles disseram que estão preocupados com o uso da legislação de terrorismo para algo que não parece estar relacionado com o terrorismo, por isso precisa ser esclarecido e rapidamente.
Miranda retornava ao Rio de Janeiro de uma viagem a Berlim, quando foi parado por oficiais e informado que seria interrogado com base no artigo 7 da lei de terrorismo. O jovem de 28 anos ficou detido por nove horas, o máximo que a lei permite antes que seja solto ou formalmente preso.
De acordo com autoridades, a maioria das investigações com base nesta lei - 97% - dura menos de uma hora, e apenas uma a cada duas mil pessoas fica detida por mais de seis horas. Miranda foi solto sem nenhuma acusação.
O jornalista blogueiro Glenn Greenwald revelou em reportagens do “The Guardian” e do O GLOBO como funciona um gigantesco aparato de espionagem virtual da Agência de Segurança Nacional Americana (NSA), que tem o Brasil como um dos países mais vigiados na última década.
O brasileiro havia viajado para a Alemanha onde foi se encontrar com a documentarista Laura Poitras para dar prosseguimento ao documentário que Greenwald está fazendo sobre as informações da NSA. Na volta da Alemanha ele faria uma escala de apenas duas horas em Londres.
Governo britânico mantém silêncio sobre detenção
Até o momento, os ministérios relacionados ao caso, o Foreign Office (de assuntos internacionais) e o Home Office (do Interior) não quiseram se pronunciar. Os porta-vozes das respectivas pastas encaminharam os jornalistas à Polícia Metropolitana de Londres - Scotland Yard, que, por sua vez, não quis dar novos detalhes sobre o caso.
Fontes da Scotland Yard disseram ao GLOBO que aparentemente não houve a formação de uma investigação a partir do depoimento e dos objetos confiscados de Miranda. E não se sabe se haverá. Em princípio, tampouco foram obtidas provas que confirmassem as suspeitas das autoridades.
Oficialmente, a polícia sequer confirma a apreensão de aparelhos eletrônicos do brasileiro. Nesta segunda-feira, limitou-se a repetir a nota imprensa divulgada no domingo em que confirmava a sua detenção.
O Itamaraty cobrou uma resposta do governo britânico no próprio domingo e publicou uma dura nota criticando a atitude das autoridades britânicas. Um porta-voz do “The Guardian” disse ao GLOBO que o jornal vai cobrar respostas das autoridades.
Anistia internacional condena a detenção de David Miranda
A ONG Anistia Internacional condenou nesta segunda-feira a detenção de David Michael Miranda. Em nota, a ONG afirma que o brasileiro foi vítima de vingança do governo britânico contra as denúncias divulgadas por Greenwald.
"A detenção de David é ilegal e indesculpável. Ele foi detido sob uma lei que viola qualquer princípio de equidade e sua prisão mostra como a lei pode ser abusiva por razões mesquinhas e vingativas", diz o texto da organização.

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