terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

MUNDO: De volta a Caracas, Chávez contempla renúncia, dizem analistas

Da BBC BRASIL
Claudia Jardim, de Caracas

Analistas dizem que Chávez pode renunciar em favor de vice

O surpreendente retorno a Caracas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, após mais de dois meses convalescente em Cuba, reaviva as especulações sobre o futuro da Presidência e o próprio destino do líder venezuelano.
Analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que, devido a seu estado de saúde, uma vez que seja empossado formalmente no cargo, o presidente poderá optar por renunciar e convocar novas eleições.
Segundo eles, o mais provável é que nos próximos dias Chávez preste juramento perante o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para "validar" seu novo mandato presidencial, para o qual foi reeleito em outubro passado.
Devido a seu delicado estado de saúde, é provável que uma junta de magistrados do TSJ se desloque até o Hospital Militar, onde Chávez está internado, para formalizar a posse. Chávez respira com ajuda de uma traqueostomia, uma das sequelas da severa infecção respiratória que sofreu logo após uma cirurgia contra o câncer.
O líder venezuelano tem dificuldades para falar e, de acordo com seus ministros, "está comandando" e dá instruções por escrito, quando não é compreendido por seus ministros.
Cenários possíveis
A analista política Francine Jacome, do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos (IVESP), acredita que um dos elementos importantes para o governo, com o retorno do presidente, é reforçar a legitimidade do chavismo no poder.
"Há uma necessidade de legitimar o governo e a atuação do vice-presidente (Nicolás Maduro)", afirmou Jacome à BBC Brasil. "Com o presidente aqui, será muito mais fácil para o governo criar a sensação que Chávez está governando."
Desde que Chávez viajou a Havana para ser operado, Maduro assumiu a liderança do governo e o presidente lhe delegou funções nos âmbitos político e econômico. Essa situação foi criticada pela oposição, que o acusou de usurpar a Presidência.
"O cenário mais factível é que o presidente preste juramento e convoque eleições presidenciais. Esse cenário já foi antecipado por ele mesmo antes de viajar à Cuba."
Nicmer Evans, analista político
Depois de tomar posse, um dos cenários prováveis é que o líder venezuelano renuncie e convoque eleições antecipadas, na opinião do analista político Nicmer Evans.
"O cenário mais factível é que o presidente preste juramento e convoque eleições presidenciais", afirmou Evans à BBC Brasil. "Esse cenário já foi antecipado por ele mesmo antes de viajar a Cuba."
Antes de se submeter a sua quarta cirurgia, Chávez apontou o vice-presidente como eventual sucessor e candidato à Presidência caso algo lhe acontecesse na operação. De volta ao país, agora estará nas mãos de Chávez decidir se continua e por quanto tempo à frente do governo.
Na opinião do analista político John Magdaleno, as mensagens enviadas pelo governo "preparam o terreno" para eleições presidenciais. "O mais provável é que haja eleições neste ano", afirmou à BBC Brasil.
Outra possibilidade, seria que Chávez continuasse formalmente na Presidência, dando orientações, mas na prática o governo continuaria sendo administrado por Maduro e os demais ministros do núcleo duro. Esse cenário permitiria ao chavismo consolidar a figura de Maduro como sucessor de Chávez para uma eventual eleição, no médio ou longo prazo.
Mas, na opinião do analista político John Magdaleno, esse é um cenário arriscado, que pode levar o governo a um desgaste político. "As novas autoridades à frente da Presidência não teriam a mesma legitimidade que Chávez e prolongar essa situação de que o governo toma decisões em nome do presidente Chávez, sem provas evidentes de que ele está governo, pode ser contraproducente", afirmou Magdaleno.
'Festa para o comandante'
O retorno do presidente traz tranquilidade aos simpatizantes chavistas no país.
"Levantei de madrugada e quando vi a notícia de que meu comandante estava de volta, já não pude dormir. Estamos radiantes", afirmou à BBC Brasil a aposentada Zoyla Duarte, que chegou logo ao amanhecer ao Hospital Militar de Caracas, onde Chávez está hospitalizado, para dar-lhe as "boas-vindas".
Ela se nega a pensar o futuro sem Chávez na Presidência. "Queremos que ele continue governando, mas só Deus sabe. Acredito que meu presidente vai poder, ele sempre pode tudo", disse a aposentada, que vestia uma camiseta com a fotografia de Chávez estampada.
Desde cedo, fogos de artifício foram ouvidos nos arredores do Hospital e nos bairros periféricos da cidade, em celebração ao retorno do presidente. Bandeiras, fotografias, cartazes e santinhos com a foto de Chávez eram levados por centenas de pessoas que se agrupavam do lado de fora do hospital.

Oposição diz que retorno de Chávez é tratado como 'espetáculo'
"A alegria voltou", disse à BBC Brasil o caminhoneiro Elias Marin, que preferiu atrasar um trabalho para marcar presença na "festa para o comandante", como ele qualificou o clima desta segunda-feira. Questionado se votaria por outro candidato numa eventual eleição antecipada, Marin foi tachativo: "Eleição? Não, claro que não. Isso será em última instância".
Até agora nenhuma autoridade do governo confirmou publicamente que Chávez tomará posse nos próximos dias, nem tampouco a possibilidade de que novas eleições sejam convocadas. "Temos presidente e ele é Chávez", afirmou o ministro de Comunicação Ernesto Villegas, ao comemorar o retorno do mandatário.
A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) qualificou como "espetáculo" o tom com que o governo está tratando o retorno do presidente ao país. "A MUD reitera sua exigência ao governo para que digam a verdade aos venezuelanos e que atuem de acordo com a Constituição", afirmaram os oposicionistas em um comunidado.
A MUD avaliará nos próximos dias se antecipará ou não o anúncio de seu eventual candidato presidencial. Henrique Capriles, ex-candidato presidencial e governador do Estado de Miranda deve ser o nome indicado para representar o anti-chavismo nas urnas.
De acordo com uma pesquisa da consultoria Hinterlaces, 50% dos venezuelanos votariam em Maduro e outros 36% em Capriles. Os restantes estariam indecisos.

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