Por Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Há muito não se via (não se ouvia) tanto pessimismo em relação ao futuro da
Grécia e do euro.
Ontem, por exemplo, o vice-presidente da Grécia, Theodoros Pangalos, avisou
que a eventual saída do euro lançaria o país numa "falência selvagem".
Comunicado do Fundo Monetário Internacional advertiu, também ontem, para o risco
de "acidente político" na Grécia, que ameaçaria todo o bloco.
A hipótese de que a Grécia adote moeda própria começa a ser admitida
abertamente por autoridades até do Banco Central Europeu - sugerindo que estão
preparados para o tranco.
Banqueiros, em geral tão comedidos em suas análises, não param de advertir
para a possibilidade de acontecimentos nefastos. O último relatório de um dos
maiores bancos da Espanha, o BBVA, alerta que o nível de tensão que vem por aí é
pior do que o de 2008, após a quebra do Lehman Brothers - relatou ontem o diário
madrilenho El País.
O Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, prevê a aproximação de
alguns horrores: a adoção do racionamento de saques nos bancos
(corralito) na Espanha (e não é nem na Grécia) e o desmonte do euro.
Seu novo livro leva o título de O crepúsculo do euro.
Parecem todos ávidos por um desenlace, qualquer que seja ele, para acabar com
a agonia. E, nisso, lembram o chanceler da Alemanha durante a República de
Weimar, Philipp Scheidemann, para quem era "melhor um fim com terror do que o um
terror sem fim".
O que está em questão não é a imposição da austeridade ao povo grego, que
alguns entendem ser excessiva, mas, sim, o risco de desintegração da área
monetária, algo que nenhuma autoridade se atreveria a considerar há semanas.
O fato concreto é a incapacidade das forças políticas da Grécia de fecharem
acordo para constituir um governo, depois de tentativas fracassadas dos três
mais importantes políticos. Hoje, eles tentam de novo. Mesmo se conseguirem,
parece remota a possibilidade de que nova eleição imponha um tie-break
nesse jogo. E isso significa que a Grécia está sujeita a ter de decretar a
suspensão dos pagamentos (falência) sem comando político legitimado pelas
urnas.
Até agora, um dos principais fatores que impediram o desfecho final
foi o temor do que pudesse vir depois. As consequências mais sérias podem
não ser o brutal empobrecimento do povo grego, o bloqueio das contas bancárias e
a quebra de salários. O risco maior é de que os prejuízos não se circunscrevam
ao povo grego, mas se espraiam pelo efeito contágio para as economias mais
vulneráveis, como Irlanda, Portugal e Espanha.
Um dos maiores problemas desta crise é a falta de credibilidade das
autoridades da área. Há meses, por exemplo, a saúde dos bancos da região foi
submetida a um supostamente rigoroso check-up (os tais testes de
estresse). Dirigentes da área proclamaram que só oito bancos teriam reforço
patrimonial, de módicos 2,5 bilhões de euros. Entre bancos da Espanha que
careciam de alguma transfusão de capital não estava o Bankia, que agora mostra
rombo de 10 bilhões de euros e precisou ser socorrido pelo governo.
O Brasil aparece relativamente bem nesta crise. Mas parece inevitável que
pague certo preço em perdas comerciais, desvalorização de ativos, adiamento de
investimentos e menos abertura de postos de trabalho. A conferir.
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