terça-feira, 9 de agosto de 2011

EDITORIAL: Questão urgente

De O Globo

Crescente em todo o país, o consumo de crack é uma tragédia que se consuma em duas frentes.
Uma, a da Saúde, produz números cada vez mais preocupantes sobre a quantidade de usuários entregues ao vício, praticamente irreversível e com um poder de destruição do corpo que leva, se não à morte em pouco tempo, mas seguramente a um horrendo processo de degradação física.
Outra, a da Segurança, dá conta de estatísticas, principalmente nos grandes centros urbanos, que mostram uma relação direta entre a dependência e o aumento da violência decorrente da criminalidade. Em ambas as áreas, a vítima preferencial desse horror social são os jovens — o que só torna o fenômeno ainda mais condenável.
Os dados sobre o aumento do consumo do crack, uma substância derivada da pasta de cocaína e que provoca dependência quase imediata, sugerem que o problema deve ser tratado como assunto prioritário.
A curva ascendente foi detectada por organismos como o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Segundo o órgão, a apreensão desse tipo de entorpecente no Brasil cresceu de 200 quilos em 2002 para quase 600 quilos em 2007 (o equivalente a 82% de todo o crack apreendido na América do Sul).
A droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e tóxicos. No Rio, o vício se espalha principalmente entre a população de rua, afetando em geral menores desassistidos de amparo social.
Em Salvador, até 2009 quase seis mil novos usuários haviam passado a ser atendidos por um programa de redução de danos da Universidade Federal da Bahia. Em Pernambuco, o crack está presente em todos os 184 municípios do estado — um quadro que se estende a quase todo o Nordeste.
Em São Paulo e Minas, é assustador o aumento do consumo. Em Porto Alegre, um levantamento entre pacientes internados por dependência química mostrou, já em 2006, que 43% eram usuários de crack.
Decorrente desse quadro de virtual epidemia, o consumo do crack liga-se diretamente ao aumento de indicadores de violência, principalmente homicídios.
Trata-se de uma tragédia que exige respostas imediatas do poder público e da sociedade como um todo. Neste sentido, é altamente positiva a decisão do município do Rio de recolher compulsoriamente a centros de internação menores flagrados no uso da droga em áreas conhecidas como cracolândias.
A iniciativa, que começou a ser adotada no início de junho, logrou tirar das ruas, até a segunda quinzena de julho, 51 jovens dependentes. Logo em seguida, a prefeitura de São Paulo também anunciou adesão à política de internação compulsória, a ser implementada a partir de um parecer da Procuradoria Geral do Município.
São passos importantes, mas tímidos, por pontuais. As duas cidades e, de resto, todo o país, ainda não têm uma estrutura de atendimento aos dependentes em escala capaz de dar conta da crescente demanda de vítimas do vício. E recolher sem tratar corresponde apenas a manter uma realidade na qual, uma vez de volta às ruas, o usuário se reencontra com a droga.
Também não contribuem para enfrentar o problema críticas a programas de internação, com argumentos segundo os quais, ao recolher menores viciados, o poder público lhes está negando o direito de ir e vir, e "sociologismos" do tipo.
O flagelo é real, mostram os números e uma extensa crônica de tragédias provocadas pela droga. É uma luta sem espaço para a hipocrisia.

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