quinta-feira, 11 de junho de 2015

COMENTÁRIO: Sob o inquestionável signo da crise

POLÍTICA LIVRE
Por Raul Monteiro

Foto: Ricardo Stuckert

O PT realiza seu Congresso Nacional em Salvador, a partir de hoje, sob o signo da crise. Ou da exaustão, como prefere o articulista Elio Gaspari. Crise provocada pela queda de todas as grandes bandeiras que desfraldou ao longo de sua trajetória até chegar ao governo federal e pelo desgaste que passou a consumir suas principais lideranças, a exemplo da presidente da República, Dilma Rousseff, que destruiu a economia do país no curso de quatro anos de mandato, e do ex-presidente Lula, cuja imagem está deixando de ser a do líder trabalhador que conquistou o poder acima de qualquer suspeita.
Numa espécie de reprodução da crise de representatividade que distancia cada vez mais mandatários e cidadãos no Brasil, as principais cabeças petistas se afastaram de tal forma da militância que ajudou a construir e carregar a legenda nas costas até a conquista da Presidência da República que qualquer projeto de reconciliação parece fadado ao insucesso. Arvorando-se de intérprete arrogante do complexo jogo econômico nacional, sem a menor qualificação para tal, Dilma afundou o governo em dívidas, perdeu o controle sobre a máquina, terceirizou a política e, estupidamente, soltou o monstro da inflação, que está prestes a devorar a sociedade.
Quando atinou para o descalabro que provocara, fruto de sua indiscutível incompetência, já era tarde. Sem humildade, teve tempo de recorrer apenas ao receituário que sempre criticou e que agora tenta implementar entre constrangida e aparvalhada. Suas aparições públicas são, curiosamente, a de um personagem em choque. Hoje, está prestes a ser duramente questionada em pleno Congresso do partido cuja convivência com o poder ajudou a prolongar exatamente por estar tentando corrigir, sem a menor convicção pessoal ou técnica, o rumo dos seus erros durante o primeiro mandato. É o retrato grandioso de um equívoco.
Para completar, o maior emblema moral do petismo ou do lulopetismo parece próximo de ver sua imagem até agora imaculada dissolver-se. Depois de enfatizar que nunca soube de nenhum malfeito em seu governo, assim como a sua sucessora, no que até os mais ingênuos deixaram de acreditar, o ex-presidente Lula está sendo colocado em xeque por suas relações perigosas. A Polícia Federal acaba de descobrir que a Camargo Correa, acusada de ser uma das empreteiras que chefiava o cartel que desviava recursos da Petrobras, doou nada menos que R$ 3 milhões, entre 2011 e 2013, ao Instituto que Lula fundou depois de deixar a Presidência.
A “merreca” foi registrada pela contabilidade da empreiteira investigada na Lava Jato sob a rubrica “Doações e Contribuições” e “Bônus Eleitoral”, o que até agora os experientes investigadores da Polícia Federal não conseguiram decifrar. Uma empresa pertencente ao ex-presidente, a LILS Palestras Eventos e Publicidade, também recebeu a “bagatela” de R$ 1,5 milhão da Camargo Correa. No período de 2008 a 2013, a empreiteira embolsou da Petrobras R$ 2 bilhões, recursos que estão sob suspeita. Sem esquecer Dilma, a militância deveria iniciar o Congresso petista cobrando explicações de Lula, o que a CPI da Petrobras, oportunamente, já começa a fazer.
* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |