quinta-feira, 11 de junho de 2015

COMENTÁRIO: Ou muda ou sucumbe

Por Samuel Celestino - BAHIA NOTÍCIAS
O Partido dos Trabalhadores fará o seu 5º Congresso Nacional hoje em Salvador esperando-se as presenças de Lula, já definida, e da presidente Dilma Rousseff que, certamente, chegará com atraso. Ela iria participar de uma importante reunião de cúpula em Bruxelas, envolvendo os estados Latino-Americanos e a União Europeia. Mas agora provavelmente somente irá para o seu encerramento porque a sua presença aqui é imprescindível. Para poder estar presente no Congresso do PT ela teria sido pressionada e refez a sua viagem. Pelas informações disponíveis, o partido, que atravessa uma densa crise interna, com boa parte da legenda tecendo críticas abertas à presidente da República, incluindo-se neste grupo o próprio Lula, tentará mudar seus rumos para estabelecer novos conceitos e ideias de modo a chegar inteiro às eleições de 2018, o que não parece fácil.
O PT elaborou como sempre ocorre, uma “Carta de Salvador”, na qual apresentará mudanças estruturais entre as quais uma nova política de aliança, uma reforma programática que se balizará numa frente democrática vinculada a partidos e a movimentos sociais. Enfim, a proposta se constituirá numa coalizão que possibilite a organização de mobilizações sociais e a construção de uma nova maioria nacional perdida nestes tempos em que a legenda enfrenta dificuldades.
Pretende-se também encaminhar durante o congresso uma postura de pacificação em relação às propostas que a presidente Dilma Rousseff tem apresentado através do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para retomar o processo desenvolvimentista mais adiante, provavelmente em 2016. Trata-se do ajuste fiscal que vai penalizar a população de modo geral, principalmente as classes sociais, da média à base da pirâmide, que serão as que sofrerão maiores dificuldades neste período, a começar pelo aumento do desemprego que, a cada dia, mais se avoluma. É um fato incontestável da depravada política econômica posta em prática pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, com o total apoio de Dilma, a partir de 2013, que levou à esta situação que o país no momento se depara.
Pausar as críticas à presidente, o PT já deveria ter feito há mais tempo porque é uma campanha reflexiva que toca em Dilma, mas, de imediato, passa a refletir também no PT que somente agora passa a entender que o isolamento da presidente irá levar a uma situação de dificuldades nas eleições de 2018, dificultando o desejo de Lula de voltar a concorrer à presidência. Embora político hábil que é, observa que está forma de combate só leva o partido que fundou a descer a ladeira.
O documento a ser apresentado omitirá críticas a Joaquim Levy, embora mantenha uma deslavada mentira segunda a qual a crise em que o país está imerso tem origem na economia internacional, o que é uma balela e não se sustenta, nem se sustentará, por mais esforço que o partido faça, para que a população entenda que assim é. A crise nasceu aqui dentro com uma série de fatores que não se combinavam com o desenvolvimento. Simplesmente, preocupada com a sua reeleição, Rousseff não deu a menor importância. Não há, como se pretender apresentar no Congresso de Salvador, nenhuma crise do capitalismo, até porque, embora se aureolado como um partido de esquerda, nestes doze anos de mandato petista, seus comandantes esqueceram-se da linha socialista que sustentava o Partido dos Trabalhadores desde que foi fundado, no início dos anos 80. A grande marca à esquerda que o PT obteve, com sucesso louvável, foi na área social, no Bolsa Família, na nova classe média, setores hoje imersos em dificuldades com a crise econômica e com a queda em ascensão do emprego.
Nenhuma outra reforma o PT esboçou de 2003 para cá. Ficou zerado. O Congresso que a legenda inicia hoje em Salvador para encerrar no próximo sábado é um momento oportuníssimo para uma renovação do partido. Poderá, se conseguir acertar as suas teses, mudar aos poucos os seus rumos a partir do documento que apresentará aos seus filiados e voltar a ser a legenda que, na primeira eleição de Lula, despertou esperança de tempos melhores. Enfim, o PT não dispõe de tempo para errar. Ou muda ou sucumbe.
* Coluna originalmente publicada na edição desta quinta-feira (11) do jornal A Tarde

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