sexta-feira, 27 de novembro de 2015

POLÍTICA: Bancada do PT no Senado se diz traída pelo partido e Planalto

OGLOBO.COM.BR
POR CHICO DE GOIS, SIMONE IGLESIAS, CATARINA ALENCASTRO E CRISTIANE JUNGBLUT

Senadores vão procurar Dilma, Lula, e direção petista para abordar desdobramentos da prisão de Delcídio

Sessão em que o Senado decidiu manter preso o senador Delcídio Amaral - Ailton de Freitas / Agência O Globo 25/11/2015

BRASÍLIA — A bancada do PT no Senado se sentiu traída pelo presidente do partido, Rui Falcão, e pelo Palácio do Planalto, e deverá procurar a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, e a direção petista para conversar sobre os desdobramentos da prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Depois da sessão que manteve o petista na cadeia, na noite de quarta-feira, os senadores se reuniram para analisar a situação. Consideraram que governo e o PT tiraram rapidamente o corpo fora e deixaram o problema no colo da bancada. Somado a isso, consideraram que houve total falta de articulação, a ponto de a nota em que Rui Falcão nega solidariedade a Delcídio ter sido conhecida pela bancada por meio do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
— É preciso um freio de arrumação para unificar o discurso. Temos que conversar. Não houve uma articulação, uma coordenação entre PT, governo e Senado. A bancada ficou destruída — disse um petista.
Os senadores se mostraram irritados por não terem sido avisados por Falcão do teor da nota e porque seu conteúdo, praticamente antecipando a expulsão de Delcídio do PT, interferiu na posição dos outros partidos, que recuaram e passaram a defender que a votação fosse aberta. Em nenhum momento, relataram senadores do partido, Falcão discutiu o conteúdo da nota. O líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), tomou um susto ao ver Caiado lendo o texto em plenário. Tentou falar com Falcão por telefone, mas não conseguiu. Pela manhã, o dirigente havia ligado para o líder petista, mas somente para aferir o clima no Senado sobre a prisão de Delcídio.
— Se Rui tivesse falado com a gente, poderíamos talvez até ter tomado outra decisão, defender o voto aberto. De qualquer forma, acho que não se faz isso com um companheiro, é covardia — afirmou um senador petista ao GLOBO.
Nas palavras de outro petista, o dia foi um desastre:
— O governo e o PT jogaram Delcídio aos leões na primeira hora do dia. O governo, logo de pronto, deixou claro que já procurava um líder.
No encaminhamento de voto sobre a questão se a votação seria aberta ou fechada, Costa anunciou que o PT votaria contra. Foi o único partido a se posicionar dessa maneira. Depois que o placar demonstrou que 52 haviam votado pelo voto aberto, num prenúncio de que o Senado não afrouxaria a prisão de um de seus membros, Costa mais uma vez encaminhou sua bancada para votar pela soltura de Delcídio.
O resultado foi que, dos 13 votos, nove foram petistas — que ainda teve duas deserções. O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), liberou a bancada que foi majoritariamente contra o afrouxamento. Depois da sessão, senadores petistas avaliaram que deveriam ter seguido o mesmo caminho dos peemedebistas, já que Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA) avisaram que votariam pela manutenção de Delcídio na prisão.
Antes de se reunir com a cúpula partidária, no entanto, o PT no Senado tem uma preocupação mais instantânea. Delcídio era o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a segunda mais importante do Senado. A discussão que se trava agora é se o partido deve indicar já outro nome ou não, atropelando o líder que está preso.
Outro assunto a ser resolvido é a liderança do governo no Senado, escolha que depende de Dilma. Houve uma conversa preliminar com o senador peemedebista Blairo Maggi (MT), mas ele sinalizou que não quer o posto. Outra possibilidade é fazer com que o senador José Pimentel (PT-CE) acumule a função com a liderança do governo no Congresso.
GOVERNO AINDA TENTA APROVAR AJUSTE
Um dia depois da prisão do líder do governo no Senado, o governo quis demonstrar que está reagindo ao forte baque. No Palácio do Planalto, assessores reconhecem a gravidade do caso, mas dizem que a vida segue e que todo o esforço agora está centrado em retomar os trilhos das votações das matérias econômicas. A articulação política do governo quer votar a mudança da meta na próxima terça-feira e em seguida a repatriação e DRU. Na visão de auxiliares da presidente Dilma Rousseff, o governo enfrenta um surto de microcefalia, o maior desastre ambiental da história e uma grave crise econômica. E por isso não pode se dar ao luxo de se deixar imobilizar por mais esse revés.
— O líder do governo foi preso e a vida continua. O governo não pode mostrar paralisia. O trem não saiu do trilho, apenas teve uma parada brusca e inesperada, mas vai voltar a andar. O governo tem que superar o caso Delcídio e conseguir aprovar as medidas. É um caso de vida ou morte para o governo, que se não aprovar os ajustes, fragiliza-se — ponderou um assessor palaciano.
O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, passou o dia conversando com lideranças dos partidos da base para sentir a temperatura. Apesar da ‘ressaca’, a avaliação é que há condições para reorganizar a base e retomar as negociações para aprovar as pautas do governo. Se não der para votar na próxima semana, tentarão na outra e assim por diante. Mesmo sem a presença de Dilma em Brasília na próxima semana (ela viaja para Paris, Japão e Vietnã), a articulação palaciana mantém a determinação de escolher o novo líder do governo no Senado na semana que vem.
Sobre uma possível delação premiada de Delcídio, fontes palacianas dizem que não há motivos para Dilma se preocupar. Classificam a atuação do senador como pessoal e desvinculada do governo. Lembram que Dilma sempre apoiou integralmente a operação Lava-Jato, já disse que todos os crimes cometidos têm que ser investigados doa a quem doer e continuará fazendo isso.
— Mil pessoas já tentaram envolver a Dilma na Lava-Jato. Ninguém conseguiu e nem vai conseguir. Não há nada que o Delcídio diga que possa incriminar a presidente. O governo está tranquilo, Dilma está segura — afirma um auxiliar presidencial.

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