sexta-feira, 27 de novembro de 2015

CASO PETROBRAS: Delcídio diz à PF que Dilma o consultou em 2003 sobre nomeação de Cerveró na Petrobrás

ESTADAO.COM.BR
POR ANDREZA MATAIS, RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO E JULIA AFFONSO

Preso por suspeita de tramar contra a Lava Jato, senador petista negou ter procurado ministros do Supremo para interceder por ex-diretor da estatal

Delcidio. Foto: André Dusek/Estadão

O senador Delcídio do Amaral (PT/MS) disse à Polícia Federal que em 2003 foi consultado pela então ministra de Minas e Energia Dilma Roussef ‘acerca da possível nomeação’ de Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional da Petrobrás. Na ocasião, Delcídio cumpria seu primeiro mandato no Senado. Ele disse que ‘se manifestou favoravelmente’ à indicação de Cerveró para o cargo ’em face da experiência que tiveram conjuntamente no âmbito da Diretoria de Gás e Energia’ Cerveró acabou nomeado.
Delcídio do Amaral foi preso na última quarta-feira, 25, em Brasília, sob suspeita de envolvimento em uma trama para barrar a Operação Lava Jato. Segundo a Procuradoria-Geral da República, em conluio com o advogado Edson Ribeiro, ele pretendia comprar o silêncio de Cerveró – preso e condenado na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro.
O senador teme a delação do ex-diretor de Internacional da Petrobrás. Outros dois delatores, Paulo Roberto Costa e Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, o citaram. Baiano disse que o petista recebeu US$ 1,5 milhão em propinas do esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.
Os investigadores afirmam que o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, que também foi preso, fazia parte da estratégia e se encarregaria de providenciar mesada para manter a família do ex-diretor de Internacional da Petrobrás.
Em conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, o senador se compromete a fazer gestões junto a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para agilizar a concessão de habeas corpus para o ex-diretor da Petrobrás, réu da Lava Jato.
Delcídio fez longo depoimento na Polícia Federal, onde está preso, nesta quinta, 26. “A então ministra Dilma já conhecia Nestor Cerveró desde a época em que ela atuou como secretária de Energia no Govero Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul”, declarou o senador. “Como a área de exploração de gás era bastante desenvolvida naquele Estado, havia contatos permanentes entre a Diretoria de Gás e Energia da Petrobrás e a Secretaria comandada pela Dilma Rousseff.”
Delcídio disse que em 1999 foi nomeado diretor de Gás e Energia da estatal petrolífera ‘atendendo a convite do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso’. Ele disse que conhece Cerveró ‘desde a época em que trabalhou na Petrobrás, esclarecendo que a área em que ele (Cerveró) atuava dentro da empresa (Gerência Executiva de Energia) ficava subordinada à Diretoria de Gás e Energia’.
O delegado Thiago Delabary perguntou a Delcídio se ele tinha ‘algum interesse’ na soltura de Cerveró. “Sim”, respondeu o senador, que fez uma ressalva. “Substancialmente, por motivos pessoais, em razão de ter trabalhado com ele (Cerveró) na Petrobrás, por conhecer a família e presumir o sofrimento a que vinha sendo submetido. Por questões humanitárias.”
Ele afirmou que soube ‘apenas pela imprensa’ da negociação entre Cerveró e o Ministério Público Federal. Disse que teve ‘uma experiência negativa’ em decorrência do acordo de delação de Paulo Roberto Costa que lhe atribuiu envolvimento em irregularidades no Programa de Geração de Energia da Petrobrás e que a Procuradoria-Geral da República ‘arquivou tal notícia’.
O senador disse que se encontrou com o advogado Edson Ribeiro ‘nos últimos três meses em uma ou duas ocasiões a fim de tratar de créditos que ele (Ribeiro) afirmava ter junto à Petrobrás’. Ao menos um desses encontros ocorreu no Hotel Royal Tulip, em Brasília, no início de novembro – no dia 4, Bernardo Cerveró gravou a conversa com Edson Ribeiro e o senador no hotel.
Segundo Delcídio, ‘os advogados qiue defendem os interesses de diretores da Petrobrás são remunerados pela estatal, sendo que Edson Ribeiro havia defendido Nestor Cerveró em alguns processos e estava com dificuldades de receber os correspondentes honorários’.
“Fui procurado (por Edson Ribeiro) para que intercedesse junto à Petrobrás nessa questão de pagamento de honorários”, afirmou o senador.
Segundo ele, nas reuniões com o advogado ‘houve a participação de Bernardo, filho de Nestor Cerveró, com o propósito de expor ao declarante as dificuldades que seu pai vinha enfrentando’.
“Que, precisamente Bernardo pretendia que o declarante, valendo-se de sua posição, buscasse conversar com os ministros do Supremo Tribunal Federal a respeito de habeas corpus que estavam tramitando na Suprema Corte.
Apesar de ter afirmado a Bernardo que já havia estabelecido contato com alguns ministros do Supremo o declarante afirma que isso não ocorreu e que se constituiu na verdade em ‘palavras de conforto’.”
Delcídio relatou que esteve há ceca de um mês com o ministro Dias Toffoli ‘a fim de tratar de assuntos institucionais relacionados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE, Corte que Toffoli preside), os quais não guardam qualquer relação com Nestor Cerveró’.
Delcídio afirmou à PF que ‘não disse (a Bernardo Cerveró) que esteve com Teori (Zavascki, ministro relator da Lava Jato no Supremo) nem com qualquer outro ministro do STF, não solicitou a Toffoli, nem a Renan (Calheiros, presidente do Senado), tampouco ao vice-presidente da República Michel Temer que estabelecessem contato com o ministro Gilmar Mendes para tratar de assuntos relacionados a Cerveró’.
Não negou ter afirmado a Bernado Cerveró ‘que providenciaria essa interlocução, mas de fato tratou-se de palavras de conforto’.
Ele reiterou. “Jamais procurou por qualquer ministro do STF, conforme lhe fora solicitado por Bernardo uma vez que tal iniciativa seria infrutífera.”
No trecho 20 minutos e 48 segundos do áudio em que faz menções a ‘José Eduardo’ e ‘STJ’ ele disse que se referia a conversa mantida com o ministro da Justiça ‘no qual houve comentário por parte dele (Delcídio) no sentido de que possivelmente haveria decisão favorável a Marcelo Odebrecht (empreiteiro preso desde 19 de junho na Lava Jato) em habeas corpus que tramitava no Superior Tribunal de Justiça’.
Citou, ainda, preocupação de Michel com Zelada’, trecho gravado na conversa com Bernardo Cerveró. “Se referiu ao vice-presidente Michel Temer que, segundo informações que se tinha na época mantinha relação com Jorge Zelada (ex-diretor da Petrobrás, sucessor de Cerveró, que também foi preso na Lava Jato)’.
A PF quis saber das relações de Delcídio com o banqueiro André Esteves. Num primeiro momento do depoimento, o senador disse que ‘não se via em condições de afirmar se o André citado no diálogo é o empresário André Esteves’.
Mas, depois, quando o delegado federal leu a ele trecho do diálogo gravado, à altura de 27 minutos e 14 segundos até 28 minutos e 24 segundos, em que faz menção a ‘André’ e ‘banqueiro’, Delcídio do Amaral confirmou que se tratava efetivamente de André Esteves.

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