quinta-feira, 16 de abril de 2015

COMENTÁRIO: Um enigma na prisão

Por Samuel Celestino - Coluna ATARDE
BAHIA NOTÍCIAS
A prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, era um acontecimento esperado e de certo modo demorou a acontecer. Dos personagens envolvidos na Operação Lava Jato, o tesoureiro era, dentre todos, o mais enigmático. Publicamente, transmitia a imagem de ser um homem de personalidade retraída, indiferente ao que acontecia, a não ser negar seu envolvimento no escândalo da Petrobras e outros mais. De certo modo demonstrava dificuldades para esconder a sua tensão. Sabia, perfeitamente, qual seria o desfecho da sua postura gelada.
Enfrentou uma CPI durante sete horas e manteve-se frio, respondendo sempre do mesmo modo, embora ouvisse perguntas capazes de abalar qualquer mortal. Dava a impressão, mera impressão, que passara por uma lavagem cerebral e que fora treinado para exercer o papel que lhe cabia: encher as burras do PT. Como se tratava de uma questão de tempo, ontem a Polícia Federal bateu na porta da sua casa em São Paulo. Ele já esperava. Estava pronto. Inabalável, saiu preso.
O tesoureiro Vaccari Neto, dentre todos os que foram levados para o Paraná pela Polícia Federal, é o de personalidade mais complexa. Denunciado criminalmente pela PF como operador do PT no grande esquema cartelizado que sacudiu o País e o governo Dilma Rousseff, estabeleceu um traço de união entre o seu partido e a diretoria de Serviços da Petrobrás, então comandada dor Renato Duque. Sobre ele recaem, como sempre ocorre com os envolvidos, crimes variados, principalmente corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o Estado de S. Paulo, ele “é o foco de sete frentes de investigação pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato”.
Ainda na manhã de ontem, a Polícia Federal e o Ministério Público fizeram uma revelação até então desconhecida. O tesoureiro agia levando dinheiro da Petrobras para o PT há dez anos, desde 2004. Significa que, mesmo com o desenrolar do escândalo do mensalão que levou inúmeros petistas à prisão, entre eles José Dirceu - que poderá voltar por mais tempo para a cadeia – Vaccari Neto já agia. Entendiam, imagina-se, que eram intocáveis. Erraram.
Não foi somente João Vaccari que a Polícia Federal recolheu. Cumpriu um mandado de condução coercitiva contra a sua mulher, e sua cunhada Marice Correia de Lima, esta última tida como envolvida no escândalo de corrupção e é também investigada pela Lava Jato. Caiu assim, na manhã de ontem, o rei de ouro do PT, que atravessa uma fase como jamais o partido imaginou. Aliás, sem necessidade de maiores observações, nota-se que a bandeira vermelha da legenda desbotou e desapareceu das manifestações populares, pelo menos das duas últimas que marcaram um forte abalo no governo da presidente Dilma. Manifestações que não tiveram conotação partidária. Claro que o partido não teria condições de ir às ruas. Mas é fato que a bandeira vermelha desapareceu abrindo espaço às cores verde-amarelo. Os movimentos, portanto, estiveram muito acima dos partidos políticos, hoje de maneira geral em amplo processo de desgaste.
O Brasil atravessa um período de imensas dificuldades, consequência da falta de competência de Dilma Rousseff que não soube conduzir o seu primeiro mandato. Já repeti esta realidade em diversos textos, mas é sempre bom reprisar. Gerou, como consequência, problemas econômicos que vieram explodir. Presumia-se o que pudesse ocorrer mais adiante. Naturalmente depois das eleições, sem tempo para repercutir nas urnas, porque a mentira se sobrepôs à vontade popular esmaecida.
Agora, há cerca de dez dias, ocorre no País uma realidade mais amena, diante da reclusão, ou compreensão da presidente que a sua presença no primeiro plano da República gerava mais problemas do que soluções. Os partidos procuram se alinhar, estabelecendo dificuldades para um PT fraco, mas, é fato, que emergiu um personagem que estava recluso no Palácio do Jaburu: o vice-presidente Michel Temer, até pouco tempo persona non grata à Dilma.
Com dificuldades em escolher um interlocutor político capaz de fazer uma conexão entre o Executivo e o Legislativo, a presidente foi em busca, por orientação dos conhecimentos políticos do vice que, se tem defeitos, é de certa forma, um político de fala mansa, educado, e com boa formação jurídica. Até aqui ele tem conseguido aplacar a ira do Congresso contra Dilma e estabelecer pontes, enquanto ela passou (por enquanto) a ser uma mera figurante na república, competindo-lhe representar o país, como aconteceu na semana passada na Cúpula das Américas. Espera-se que a fórmula dê certo. O país está a exigir.
* Coluna publicada originalmente na edição desta quinta-feira (16) do jornal A Tarde

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