sexta-feira, 21 de junho de 2013

ECONOMIA: Dólar vai a R$ 2,27, e Banco Central e Tesouro têm ação coordenada

De OGLOBO.COM.BR
BRUNO VILLAS BÔAS 
JOÃO SORIMA NETO 
MARTHA BECK 

Bolsas caem no mundo com desconfiança sobre os Estados Unidos e China
RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA - Um dia depois de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) indicar uma mudança na política monetária, com a perspectiva de início da retirada de estímulos à economia ainda neste ano, os principais mercados tiveram um dia de ressaca, com fortes quedas em ações, moedas e commodities (como petróleo, minérios e grãos). As incertezas em relação ao cronograma para o fim das recompras mensais de US$ 85 bilhões em títulos pelo BC americano — que significam, na prática, que a era de dinheiro farto no mercado está perto de acabar — se somaram a preocupações com o aperto de liquidez no mercado chinês. As taxas cobradas no mercado de crédito e no interbancário dispararam. A combinação destes dois fatores levou a uma corrida dos investidores por ativos considerados mais seguros e a uma retirada de recursos aplicados em mercados emergentes.
No Brasil, nem mesmo a atuação conjunta do Banco Central e do Tesouro Nacional foi capaz de evitar uma nova escalada do dólar, que fechou em alta de 1,71%, a R$ 2,258, o maior patamar desde 1º de abril de 2009, depois de ter alcançado R$ 2,27 no dia. O Banco Central fez intervenções no mercado, com a oferta de quase US$ 6 bilhões. Mesmo com essa artilharia, o real foi a quarta moeda com maior desvalorização no dia, com baixa de 1,68%, levando em conta uma cesta de 14 principais moedas pesquisadas pela Bloomberg.
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O Tesouro brasileiro fez leilões extraordinários de compra e venda de títulos para acalmar os investidores. O governo se dispôs a recomprar 6 milhões de papéis, mas retirou efetivamente das mãos dos investidores 1,241 milhão de títulos. Na prática, considerando o resultado da venda de títulos ontem, o governo conseguiu captar recursos no mercado e fazer emissão líquida de R$ 395 milhões.
Títulos do Tesouro americano sobem para 2,41%
Embora a operação tenha sido considerada bem-sucedida por técnicos do governo, o Tesouro anunciou que realizará novos leilões de recompra de papéis prefixados (NTN-Fs e LTNs) e de NTN-Bs (corrigidos por índice de preço).
Segundo Luiz Monteiro, sócio e gestor de renda fixa da Queluz Asset Management, a elevação do câmbio corrói os ganhos dos estrangeiros em títulos públicos. Esses investidores decidem então sair do país, vendendo os títulos e pressionado os juros para cima.
— Sempre que há necessidade de dar liquidez ao mercado, o Tesouro oferece uma porta de saída aos investidores. Isso é importante porque se você deixa os juros subirem demais nestes contratos, isso deixa o crédito mais caro — disse.
A Bovespa alcançou a marca histórica de 1,65 milhão de negócios no mercado de ações. O Ibovespa, índice de referência do mercado, chegou a ficar abaixo dos 46 mil pontos, com queda de 4%, mas com a derrocada das ações, especialmente de empresas endividadas em dólar, investidores foram às compras no fim da tarde para aproveitar os preços baixos. O índice encerrou a sessão em alta de 0,67%, aos 48.214 pontos.
— Há um movimento de venda de ações em todas as Bolsas do mundo, com investidores saindo de posições de risco. O mercado começa a fazer caixa para migrar para a segurança dos títulos americanos (Treasuries), assim que a taxa de juro começar a subir. O que se viu foi um pânico generalizado nos mercados de renda variável para evitar mais perdas — afirma Beto Domenici, diretor de Multi-Assets & Portfólios da Rio Bravo Investimentos.
Nos Estados Unidos, os títulos do tesouro americano, os chamados treasuries, com vencimento em dez anos, subiram de 2,33% para 2,41% ontem. No mercado acionário, no entanto, o cenário foi de perdas. Os principais índices tiveram perdas superiores a 2%. A S&P caiu 2,5%, a maior queda diária desde novembro de 2011. Os mercados europeus terminaram o pregão com mais de 3% de queda.
Perdas de US$ 1,8 trilhões nos mercados
No mercado de commodities, houve uma verdadeira liquidação de ativos após a alta do dólar. O ouro atingiu a mínima de dois anos, com queda de 4,96%, a US$ 1.284. O petróleo em Londres despencou 3,74%, para US$ 102,15. Os mercados agrícolas também não foram poupados, com recuo nos preços de milho, trigo e soja. Segundo cálculos da Bloomberg, a fortuna perdida pelos investidores ontem nos mercados chega a US$ 1,8 trilhão.
No Brasil, o resultado da escalada do dólar e da saída de investidores do país foi um aumento nas apostas de altas maiores dos juros nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) para assegurar que a inflação encerre o ano dentro da meta, de até 6,5% ao ano. Com o dólar subindo, ficam mais altos os preços de matérias-primas e de produtos importados.
Os contratos negociados no mercado futuro indicam que a taxa básica de juros, a Selic, deve chegar a 10,25% até o fim do ano. É a primeira vez que o mercado aposta numa taxa de dois dígitos ainda neste ano. Se a previsão se confirmar, seria o maior patamar desde janeiro do ano passado, quando os juros estavam em 10,5% ao ano. De acordo com a expectativa do mercado, em cada uma das próximas duas reuniões, a Selic seria elevada em 0,75 ponto percentual. Considerando contratos de mais longo prazo, a expectativa dos analistas é que os juros podem superar os 12% em outubro do próximo ano, período das eleições presidenciais.

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