sexta-feira, 10 de maio de 2013

POLÍTICA: Ex-agente do DOI-Codi diz que Ustra torturava e que era ‘senhor da vida e da morte’

De OGLOBO.COM.BR
EVANDRO ÉBOLI

Coronel também é aguardado para prestar depoimento hoje à Comissão da Verdade, mas ele deve permanecer calado
O ex-sargento Marival Chaves presta depoimento à Comissão Nacional da Verdade - Ailton de Freitas / Agência O Globo
BRASÍLIA — A sessão pública da Comissão da Verdade iniciou na manhã desta sexta-feira com depoimento do ex-servidor do DOI-Codi de São Paulo o ex-sargento Marival Chaves, que assegurou que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, então capitão, comandava as torturas na repressão. Marival afirmou que Ustra era "senhor da vida e da morte", escolhia quem iria viver ou morrer. Ustra também é aguardado para prestar depoimento hoje, mas ele deve permanecer calado após obter na Justiça habeas corpus que lhe garante o direito de permanecer calado. A liminar também determinou que seja garantida sua integridade física durante o depoimento. A Polícia Federal montou esquema de segurança no local.
— Um capitão era naquela ocasião senhor da vida e da morte. Nâo tenho dúvida que ele torturava, porque ele circulava por pela área de interrogatório, especialmente quando tinham presos importantes sendo interrogados. Vi ele lá, por exemplo, na antessala do interrogatório, aguardando o momento de serem chamados o Wladimir Herzog e Paulo Markun (jornalista).
O ex-sargento também contou que os corpos de militantes políticos assassinados em centros de tortura eram exibidos depois para os agentes no DOI-Codi. Ele se recorda da exibição dos corpos do casal Antônio Carlos Bicalho Lana e de sua companheira Sônia Maria Moraes, em 1973.
— Eram exibidos como troféu, ainda com sangue jorrando — disse Marival, que já encerrou seu depoimento.
Marival trabalhava na análise de documentos do DOI-Codi. Ele contou que fez curso onde aprendeu técnicas de tortura como o pau de arara. Ele contou que saiu do Exército porque não aguentou conviver com as cenas de atrocidades e negou que tenha sido por denúncias de extorsão.
Antes de iniciar seu depoimento, Marival Chaves, entregou cartas com conteúdo de ameaças de morte que recebeu por ter denunciado atos de tortura no DOI-Codi. Marival trabalhou no DOI durante cinco meses entre 1973 e 1974. O ex-sargento disse também que ocorreram muitas mortes na unidade, mas que é "difícil de mensurar quantas", e que corpos foram jogados no Rio Avaré, em São Paulo.
Ao terminar, o ex-sargento pediu para que outros militares fizessem como ele e contassem o que viram durante a ditadura militar.
Esta é a primeira vez que um depoimento de agente da ditadura é aberto ao público. O depoimento acontece no auditório do Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, onde fica a sede da Comissão da Verdade.

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