terça-feira, 16 de agosto de 2011

ECONOMIA: Gabrielli vê riscos para capitalização de até US$ 91 bilhões com a crise

De O GLOBO
Henrique Gomes Batista (henrique.batista@oglobo.com.br)

RIO - O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, se mostra otimista. Para ele, a crise não vai afetar os investimentos da estatal. Entretanto, ele vê alguns riscos para a capitalização da empresa: "A Petrobras pode não passar imune, dependendo da profundidade da crise. Podemos ter alguma dificuldade na captação de recursos em torno de US$ 67 bilhões e US$ 91 bilhões (a depender do preço do petróleo) por meio de emissão de bonds no mercado, agências de promoções de exportação, bancos comerciais, diversas fontes", afirmou o executivo, que estima que o barril de petróleo, atualmente acima de US$ 100, deverá ser cotado em US$ 80 entre 2012 e 2015. Veja abaixo a entrevista por e-mail, realizada na sexta-feira, antes da divulgação do resultado financeiro do segundo trimestre:
O GLOBO - Como estão as perspectivas de investimentos da Petrobras para os próximos anos? E nos próximos 12 meses?
JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI - São muito boas as perspectivas. Estão mantidas as previsões de investimentos: de US$ 224,7 bilhões para os próximos anos, ou seja US$ 45 bilhões por ano, e de R$ 84 bilhões para o corrente ano, o que representa um aumento de 11% sobre 2010.
Já houve alguma revisão por causa da crise dos EUA/Europa, seja no curto prazo ou no médio prazo? Pode haver?
GABRIELLI - Não houve revisão. Commodities como o petróleo são uma espécie de quase moeda, que tem um componente financeiro muito grande no seu preço e passam a ter uma atratividade grande neste cenário. Não vemos necessidade de revisão, em função da crise, e o principal argumento é que nosso maior mercado é o interno, para onde vendemos 90% de nossa produção, e nossa principal fonte de financiamento de projetos é a geração própria de caixa. E o que garante tudo isso é nossa curva de produção, tanto de petróleo como de derivados, que se manterá crescente por muitos anos, e as perspectivas de crescimento do mercado brasileiro de derivados, entre 3,8% e 4,5%, até 2020,como consequência da expansão da economia brasileira.
Essa crise pode afetar os investimentos das empresas? Pode se repetir o cenário de 2008?
GABRIELLI - É dificil ser preciso nesta resposta. Algumas características dessa crise ainda são muito incertas. O Brasil está muito bem, com uma economia que está crescendo fortemente, puxada pelo mercado interno, temos flexibilidade na capacidade política monetária e fiscal. O Brasil tem muito mais instrumentos que a Europa e os Estados Unidos para lidar com essa crise. O mercado vê isso, por isso temos o real tão apreciado e atraindo tantos investimentos. Somos um potencial alvo para quem esteja buscando investir neste momento.
A Petrobras pode não passar imune, dependendo da profundidade da crise. Podemos ter alguma dificuldade na captação de recursos em torno de US$ 67 bilhões e US$ 91 bilhões (a depender do preço do petróleo) por meio de emissão de bonds no mercado, agências de promoções de exportação, bancos comerciais, diversas fontes. Mas não vamos fazer emissão de ações. Se o preço do petróleo ficar em torno de US$ 80, iremos captar US$ 91 bilhões, se ficar em US$ 95 vamos captar US$ 67 bilhões.
Cada caso é um caso, tanto em 2008 como agora. Embora tenhamos tomado medidas preventivas, não tivemos problemas em nossos investimentos, nem em nossas atividades em 2008 e não esperamos tê-las agora. Nossos resultados foram todos crescentes, na comparação com os anos seguintes, e agora, vamos manter todas as previsões estabelecidas no Plano de Negócios 2011- 2015, recentemente divulgado.
Quais são as perspectivas da empresa para a cotação do dólar, petóleo e inflação? Isso mudou ou deve mudar por causa da crise?
GABRIELLI - Estabelecemos como cenário base a taxa média de um real e setenta centavos por dólar e, para o petróleo Brent, o valor de US$ 110 para 2011 e US$ 80 de 2012 a 2015. Não estamos pensando em alterar as premissas em que baseamos no planejamento, não prevemos mudanças nas previsões de investimento, nas metas de produção e nem cogitamos reduzir o portfólio de projetos. Porém, como somos a maior exportadora brasileira, a desvalorização do dólar frente ao real não é uma boa para nós, mas como grandes importadores, a apreciação do real é positiva, porque pagamos menos reais pelo que importamos. Por outro lado, também somos investidores no exterior e, com isso, os dividendos que recebemos, e nossos investimentos internacionais refletem a desvalorização do dólar. Porém, como também temos dívidas no exterior, precisamos de menos reais para pagá-las em dólar. Por isso tudo, não é uma resposta simples dizer que a apreciação do real é boa ou ruim para a Petrobras. Tudo vai depender da velocidade da variação da moeda e do momento em que ela ocorre.

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