terça-feira, 3 de janeiro de 2017

VIOLÊNCIA: Familiares de detentos reclamam de falta informação sobre mortos em massacre

OGLOBO.COM.BR
POR ALÍRIO LUCAS, ESPECIAL PARA O GLOBO

Parentes aguardam reconhecimento dos corpos em frente ao IML de Manaus

Movimentação em frente ao Instituto Médico Legal de Manaus - Alírio Lucas

MANAUS — A movimentação em frente ao Instituto Médico Legal (IML), em Manaus, segue intensa na manhã desta terça-feira. Familiares dos 56 detentos que foram mortos durante a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), que ocorre entre domingo e segunda, reclamam da demora e da falta de informações por parte dos funcionários do órgão. Além disso, os parentes acusam ainda os funcionários de debocharem e tirarem sarro da situação.
Juliano Neves, de 28 anos, conta que foi para a porta do IML na manhã de segunda. Segundo ele, inicialmente falaram que seu primo, Luciano Santos, que cumpria pena por roubo, não estaria entre os mortos e sim entre os foragidos. Mas na manhã de hoje, após passar mais de 24h em busca de informações, recebeu a notícia que seu parente estava entre os mortos.
— Eles não passam nada. Falam que tem uma lista, mas na verdade não tem lista nenhuma. Ontem pegaram os dados e disseram que iam nos ligar por volta de meia-noite, mas não ligaram. Hoje pela manhã tive que passar as características de novo e foi quando confirmaram que ele estava entre os mortos. Isso é desumano. Eles (funcionários) passam debochando da nossa cara. Ficam rindo da nossa cara e dizem que bandido tem que morrer mesmo. Isso é coisa que se faça? — questionou Juliano.
A dona de casa Valdenice Nascimento, 45, também reclama da falta de informações e da demora para liberar a corpo de seu filho, Kairo Nascimento, 23, que cumpria pena de falsidade ideológica. Ela conta que o corpo do seu filho foi identificado ainda ontem e que até agora ninguém a procurou para oficializar a liberação.
— Eu quero enterrar o meu filho. Sei que ele fez algo errado, mas estava cumprindo sua pena. Não acho justo tirarem a vida dele e ainda precisar passar por essa humilhação aqui na porta do IML. Desde ontem não me passaram mais nada. Se já identificaram e fizeram o reconhecimento, custa liberar? Eles estão demorando pra fazer tudo e não pensam que tem uma mãe aqui.
LÍDERES SERÃO TRANSFERIDOS
Esse é o segundo maior massacre em presídios, em número de mortes, na história do Brasil, atrás apenas do ocorrido no Carandiru, em São Paulo, em 1992, quando 111 presos foram mortos.
Na noite de segunda-feira, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que vai pedir a transferência dos líderes da rebelião para presídios federais.
— Para os líderes que participaram do massacre, haverá o pedido de transferência para presídios federais. Aqui, nos colocamos à disposição para ajudar na transferência das lideranças e ainda para a identificação dessas lideranças. Colocamos também à disposição do Instituto Médico Legal (IML) todo o apoio técnico e pessoal necessário para acelerar a identificação dos corpos. Vamos reforçar o apoio à segurança pública. Estamos aqui para auxiliar o estado para que o mesmo possa voltar a normalidade — afirmou Moraes.
Além disso, cerca de 130 detentos ligados a uma facção criminosa de São Paulo começaram a ser transferidos, na noite desta segunda-feira, para a Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa (CPDRVP), no centro de Manaus. A unidade havia sido desativada em outubro de 2016, mas precisou ser utilizada para abrigar esses presos que estão recebendo ameaças de morte.

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