segunda-feira, 29 de agosto de 2016

DENÚNCIA: Réu da Lava-Jato acusa PF de coação, intimidação e chantagem

OGLOBO.COM.BR
POR RENATO ONOFRE

No entanto, vídeo contradiz versão de assessor do ex-senador Gim Argello

SÃO PAULO — O assessor do ex-senador Gim Argello (PTB-DF) Paulo César Roxo Ramos, réu na Operação Lava-Jato, acusou os investigadores da Polícia Federal em Curitiba de terem "coagido, chantageado e intimidado" ele ostensivamente em interrogatório. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta segunda-feira, Ramos afirmou que ouviu que "se não falasse o que o delegado queria ouvir" a sua prisão, ocorrida em abril, seria convertida em definitiva.
— Fui coagido, chantageado, intimidado ostensivamente de maneira pouco usual. Acima do que aceitável, entendo eu, pelo código de conduta da carreira do servidor — afirmou Ramos.
Depois da acusação, ainda nesta segunda-feira, a Polícia Federal (PF) encaminhou ao Ministério Público Federal (MPF) cópias dos registros em vídeo do interrogatório, para que fossem juntadas aos autos. Os vídeos mostram que não houve coação à testemunha.
“Diante dos fatos, afigura-se lamentável a deslealdade, imoralidade e falta de ética do investigado e de sua defesa técnica ao imputar falsamente a prática de crime pelas autoridades”, escreveram os procuradores do MPF em petição anexada aos autos durante a tarde.
Ramos foi um dos alvos da 28ª fase da Operação Lava-Jato. A ação, batizada de "Vitória de Pirro", investiga a cobrança de propinas para evitar convocação de empreiteiros em comissões parlamentares de inquérito sobre a Petrobras. O ex-senador Gim Argello seria um dos principais beneficiários.
De acordo com a força-tarefa da Lava-Jato, o ex-assessor auxiliou Argello no recebimento de propina para não convocar executivos de empreiteiras. Ramos teria pego propina em dinheiro vivo, cerca de 250 mil euros, do lobista Julio Camargo para entregar ao ex-senador.
Ao juiz Sérgio Moro, Ramos disse que prestou dois depoimentos durante o período que esteve preso em Curitiba, em abril. No primeiro prestado no dia 14, segundo ele, foi tratado de maneira correta por membros do Ministério Público e da Polícia Federal. No segundo, no dia 15 de abril, já sem a presença de procuradores, ele reclamou ter sido intimidado.
— Primeiro, foi dado sem a presença do Ministério Público. O da véspera o Ministério Público estava presente e fui enquerido com urbanidade. O do outro dia, não. Já estava solto quando fui chamado a depôr. Esse fato me foi omitido — afirmou Ramos a Moro completando: — O tempo todo foi me dito que se não colaborasse, se eu não falasse o que o delegado queria ouvir, que minha prisão seria convertida em definitiva.
Durante o depoimento de ontem à Justiça, Ramos chegou a questionar o representante do MPF, que repetiu uma pergunta.
- Eu estou sendo muito claro e não quero ser induzido a erro aqui - queixou-se.
O juiz Sérgio Moro afirmou que ele estava dizendo algo muito grave e quis saber o que, de fato, queria retificar no depoimento anexado aos autos.
Ramos afirmou a Moro que o delegado colocou coisas na boca dele, como uma menção a existência de caixa 2.
- Eu não disse isso, disse no contexto porque ele (o delegado), disse porque ele ia colocando coisas na boca. Ele me pergunta: “Poderia ser caixa dois?” Eu disse "poderia, se não foi contabilizado, poderia".
Ramos disse que também uma conversa com Valério Neves, que no depoimento dado na Polícia Federal consta como ocorrida em 2014, aconteceu na verdade em 2015. Perguntado por que não procurou o MPF ou a Justiça, respondeu:
- Eu estou seguindo uma linha de defesa, nao sou jurista, nao sou advogado. Em que pese a presença do meu advogado, que agiu de boa fé, (o depoimento inicial à PF) beirou à prevaricação, sob forte emoção e abalo psicológico, naquele momento você quer apenas sair dali - disse.
Ramos afirmou ainda que seu advogado lhe recomendou na época que assinasse o depoimento à Polícia Federal para ser solto e, no decorrer do processo, seriam vistos os detalhes. A Polícia Federal não se manifestou oficialmente sobre a acusação.

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