quarta-feira, 31 de agosto de 2016

ECONOMIA: PIB intensifica queda e recua 0,6% no segundo trimestre

OGLOBO.COM.BR
POR LUCIANNE CARNEIRO / DANIELLE NOGUEIRA / DAIANE COSTA

No ano, economia registra tombo de 4,6%; frente a 2015, queda é de 3,8%

- Paulo Fridman / Bloomberg

RIO - A economia brasileira encolheu 0,6% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano, divulgou o IBGE nesta quarta-feira. Este é o sexto resultado trimestral seguido com queda na atividade econômica. Em relação ao segundo trimestre de 2015, a perda foi mais intensa, de 3,8%, a nona seguida. Já o resultado acumulado em 12 meses registrou variação negativa de 4,9% — maior da série histórica, iniciada em 1996. No primeiro trimestre, a perda tinha sido de 4,7%. No ano, a economia recua 4,6%. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) atingiu o total de R$ 1,53 trilhão.
Mais uma vez, todas as comparações do PIB mostram taxas negativas. Isso ocorre há cinco trimestres seguidos. Essa análise considera as comparações frente ao trimestre anterior, a igual trimestre do ano anterior, resultado acumulado no ano e nos quatro trimestres imediatamente anterior.
A indústria e o investimento mostraram reação no segundo trimestre, o que denota uma mudança de comportamento na economia brasileira, mas o movimento é acompanhado por uma queda ainda intensa dos serviços, que têm peso de 72% no cálculo do PIB.
— A parte da indústria e do investimento deu uma melhoradinha na margem em relação ao que estava acontecendo, mas os serviços não. É uma mudança frente ao que estava acontecendo antes, mas ainda não afetou tanto o PIB por causa dos serviços, que pesam 72% da economia — explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
O setor externo mostrou um desempenho diferente neste trimestre e passou a ter contribuição negativa para o PIB.
— Até pela variação cambial, já que teve uma apreciação. Quando isso ocorre, as exportações ficam menos competitivas e as importações tendem a crescer mais — afirmou Claudia Dionísio.
No primeiro trimestre, a economia recuou 0,4% na comparação com os três últimos meses do ano passado, no quinto resultado trimestral negativo seguido. O dado foi revisado pelo IBGE. Inicialmente, a queda estimada era de 0,3%. Na comparação com igual período do ano anterior, a economia recuava há oito trimestres seguidos.
A expectativa de analistas era de queda de 0,5% no segundo trimestre, frente ao trimestre imediatamente anterior. As projeções, no entanto, variavam entre perda de 0,9% e alta de 0,6%, segundo a Bloomberg News. Na comparação com o segundo trimestre de 2015, o cenário previsto era de uma retração de 3,7%, com estimativas entre recuo de 2,9% e 4,8%.
Pela ótica da produção, a indústria avançou 0,3% frente ao primeiro trimestre, a primeira taxa positiva depois de cinco trimestres seguidos de queda. Os serviços, por sua vez, tiveram queda de 0,8%, enquanto a agropecuária recuou 2%.
Pelo lado da demanda, os investimentos reagiram e avançaram 0,4%, a primeira alta depois de dez trimestres seguidos de recuo. O indicador é medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, que acompanha a indústria de bens de capital e a construção civil). O consumo das famílias caiu 0,7%, acompanhado por perda de 0,5% do consumo do governo. No setor externo, as exportações avançaram 0,4% e as importações recuaram 4,5%.
— Pelo lado da oferta, dessa vez a indústria registrou uma estabilidade de 0,3% pela primeira vez, depois de cinco semestres de queda, assim como a formação bruta de capital fixo, cujo desempenho ficou em 0,4%, depois de dez trimestres de queda — destacou Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
Na comparação com o segundo trimestre de 2015, no entanto, as quedas foram mais espalhadas. Pela ótica da produção, a indústria caiu 3%, ao lado de recuo de 3,1% da agropecuária e de 3,3% de serviços. Pela ótica da demanda, o consumo das famílias caiu 5%, enquanto a queda no consumo do governo foi de 2,2%. O investimento, por sua vez, despencou 8,8%. No setor externo, as exportações de bens e serviços subiram 4,3% e as importações recuaram 10,6%.
Sob a ótica da produção, os segmentos que tiveram os maiores recuos no segundo trimestre, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, foram os de transporte, armazenagem e correio (6,5%) e o de comércio (7,4%). No segmento de transporte, armazenagem e correio, a queda foi influenciada, principalmente pelo transporte aéreo.
— O transporte de carga já vinha caindo no primeiro trimestre de 2016. Ele continuou caindo no segundo trimestre. Mas o de passageiro também caiu, com destaque para o transporte aéreo — disse Claudia Dionísio.
Pela ótica da produção, o melhor desempenho, na comparação com o mesmo trimestre de 2015, foi da produção e distribuição de eletricidade, água e esgoto, que cresceu 7,9%.
— Contribuiu para esse bom desempenho o desligamento de térmicas elétricas, que já ocorre desde agosto do ano passado. É o terceiro trimestre de desligamento das térmicas, e estamos comparando com o segundo trimestre do ano passado, período em que ainda estavam ligadas. Então, este ano, há um custo menor para se produzir energia. Soma-se a isso a volta da bandeira verde, em abril, que tirou a cobrança extra e levou as famílias a afrouxarem o consumo, então o consumo residencial favoreceu — explica Claudia.
NONA QUEDA DA INDÚSTRIA
A queda de 3% da indústria brasileira foi a nona taxa negativa seguida na comparação anual, mas o ritmo desacelerou. No primeiro trimestre, o recuo tinha sido de 7,3%. A indústria de transformação, que tem o maior peso no resultado, caiu 5,4%. Os destaques negativos foram máquinas e equipamentos, a indústria automotiva, outros equipamentos de transportes, produtos metalúrgicos, produtos de metal, artigos de vestuário, refino de petróleo e móveis.
A indústria extrativa mineral também teve queda, mas de 4,9%, enquanto a indústria de construção recuou 2,2%. A produção e distribuição de eletricidade, gás e água registrou taxa negativa de 7,9%.
Pela ótica da oferta, quatro atividades apresentaram crescimento na passagem de trimestre, sendo o maior o da produção e distribuição de eletricidade, gás, água e esgoto (1,1%), seguido pela indústria extrativa mineral (0,7%), administração, saúde e educação pública (0,5%) e atividades imobiliárias (0,1%). Já oito atividades encolheram: transporte, armazenagem e correio (-2,1%), atividade agropecuária (-2%), outros serviços (-1,7%), intermediação financeira e seguros (-1,1%), comércio (-0,8%), serviços de informação (-0,6%) e construção (-0,2%). A indústria de transformação não teve variação.
A taxa de investimento no segundo trimestre de 2016 foi de 16,8% do PIB, pouco menor que a registrada no primeiro trimestre do ano (16,9%). É a menor desde o início da série, em 1996, renovando o recorde histórico de pior patamar em 21 anos. No segundo trimestre de 2015, a taxa fora 18,4% do PIB.
De acordo com o IBGE, a queda da taxa de investimento foi de 8,8% ante o segundo trimestre de 2015, a nona consecutiva. Segundo o instituto, o recuo se deve à queda nas importações e da produção interna de bens de capital (máquinas e equipamentos). Também houve influência do desempenho negativo da construção civil.
No setor externo, as importações caíram 10,6% na comparação com o segundo trimestre de 2015. Já as exportações subiram 4,3%. Ambas foram influenciadas pela desvalorização cambial, que foi de 14,3 no período. Dentre as exporatções, os destaques foram veículos, agropecuária, papel e celulose e metalurgia.
Já a taxa de poupança alcançou 15,8% no segundo trimestre de 2016, em trajetória de recuperação frente ao segundo trimestre do ano passado, quando a taxa ficara em 15,1% do PIB.
De acordo com a última pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central com analistas do mercado financeiro, o PIB deve recuar 3,16% este ano. No ano que vem, o desempenho da economia deve ficar no terreno positivo, com expansão de 1,23%.
Nesta terça-feira, o IBGE divulgou os dados sobre o mercado de trabalho, que mostram o impacto da recessão brasileira no dia a dia das pessoas. O desemprego no Brasil acelerou para 11,6% no trimestre encerrado em julho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. A taxa é a maior da série iniciada em 2012. Um ano antes, o resultado havia ficado em 8,6%. No trimestre encerrado em abril de 2016, que serve como base de comparação, o desemprego já estava em 11,2%.

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