quinta-feira, 1 de setembro de 2016

COMENTÁRIO: ‘Temer precisará ser menos Temer’, por Lauro Jardim

POR LAURO JARDIM - OGLOBO.COM.BR

Será que ele conseguirá deixar de lado o antigo figurino sempre tão ajustado à sua personalidade?

Pronto. Acabou a interinidade. Dilma saiu da Presidência da República para entrar na História e agora o governo Temer começa para valer. A paciência geral vai diminuir, as cobranças vão aumentar. E Michel Temer terá obrigatoriamente que inaugurar um novo tempo — um tempo de dizer mais “não” do que “sim”, contrariando sua própria natureza.
O Temer talhado para se equilibrar no comando do PMDB talvez não sirva para comandar um governo de reconstrução nacional. Temer precisa agora ser menos Temer. Será que ele conseguirá deixar de lado o antigo figurino sempre tão ajustado à sua personalidade?
Seus auxiliares mais diretos não se cansam de soprar aos jornalistas: “Ele vai ser duro, não aceitará chantagem do Congresso, não baixará a guarda para pedidos que desfigurem a política econômica desenhada por Henrique Meirelles”. Falar é fácil, e políticos são especialistas na arte da promessa. Se o Temer durão emergirá, se saberá a partir desta quinta-feira.
Não há muito tempo a perder. Na terça-feira, o IBGE revelou que o desemprego cresceu no segundo trimestre. A FGV deu outra má notícia no mesmo dia: o IPC, que mede a inflação no varejo, subiu de 0,26% para 0,40% entre junho e julho. São esses bichos de cara feia que Temer precisa encarar. Isso sem falar no PT, que volta à oposição, o seu leito natural.
A primeira prova de fogo, não a mais complicada, será um bom cartão de visitas. A PEC do teto dos gastos deve ser votada nas próximas duas semanas. É obrigatório que seja aprovada sem ser desfigurada. Não faltam no Congresso aqueles que tentarão torná-la um Frankenstein.
O momento de travessia mais delicado deste ano, no entanto, passa pela reforma da Previdência. Ministros do entorno de Temer garantem que o projeto será enviado ao Congresso antes das eleições. Se o fizer, mostra coragem. Afinal, há uma turma poderosa no PMDB que nem quer pensar num tema com esse potencial explosivo debatido em meio ao processo eleitoral. São peemedebistas que pensam numa aposta alta: querem pegar um PT fragilizado e fazer barba, cabelo e bigode, aumentando o número de prefeituras da legenda. É nessa hora, de novo, que Temer poderá mostrar se consegue quer ser um pouquinho menos Temer. É o seu grande desafio.

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