quinta-feira, 4 de setembro de 2014

COMENTÁRIO: A resiliência de Dilma

Por MERVAL PEREIRA - OGLOBO.COM.BR

Enfim, uma série de notícias boas para a presidente Dilma, apesar de as pesquisas continuarem mostrando uma tendência a que seja derrotada no segundo turno por Marina Silva. Até mesmo nesse caso, porém, a distância dela para sua principal competidora está sendo reduzida, uma conseqüência da melhora da avaliação de seu governo.
As pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas ontem mostram um movimento ascendente da candidata à reeleição, mesmo que leve, e no mínimo uma paralisação do crescimento de Marina, que todos os indícios levavam a crer que continuaria seu movimento ascensional, tendo crescido no Rio e em São Paulo nos últimos dias.
O resultado dá novo fôlego para a campanha de Dilma e mostra que, a essa altura da corrida presidencial, uma desconstrução de Marina não beneficiará o candidato do PSDB Aécio Neves, que não dá mostras de poder se recuperar. O PSDB não construiu um discurso conectado com os anseios das ruas, embora possa oferecer um projeto mais consistente aos descontentes.
Tudo indica que a propaganda mais agressiva da campanha oficial está tendo resultado, colocando uma dúvida na cabeça de parte do eleitorado sobre as condições de Marina exercer a presidência da República, seja pela inexperiência, ou pela falta de apoio político. É uma situação paradoxal por que já está comprovado que apoio político como o que tem a presidente Dilma não lhe garantiu condições de governar bem.
O eleitor que fica em dúvida sobre Marina busca em Dilma uma segurança que ela não pode oferecer, ao passo que o candidato do PSDB Aécio Neves, que tem sem dúvida uma experiência exitosa à frente do governo de Minas, não consegue atrair para a sua candidatura os eleitores que querem tirar o PT do governo.
Tudo indica que a previsão do ex-presidente Lula se realizará: teremos o segundo turno mais longo das últimas eleições. Uma melhora contínua da avaliação de seu governo está sendo obtida através da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, atingindo uma taxa de 36% de ótimo/bom, que equivale aos índices de votação que recebe nos dois institutos: 37% no Ibope e 35% no Datafolha. 
O eleitor petista é mais firme do que o dos seus adversários: segundo o Ibope, 61% dos que votarão em Dilma se dizem decididos em definitivo, já nos de Marina essa convicção é de 50%, e nos de Aécio 46%. Em ambas as pesquisas a diferença no segundo turno de Marina para Dilma está em sete pontos percentuais, o que mostra um a redução da distância entre as adversárias, mais um dado na recuperação da presidente.
As menções a Marina crescem mais na região Sul (de 27% para 40%), onde apresenta seu melhor desempenho. Entre eleitores cuja renda familiar é maior que 5 salários mínimos, o crescimento das intenções de voto em Marina (de 28% para 37%) é acompanhado pela queda das menções a Aécio (de 32% para 24%). A preferência por Dilma aumenta nos municípios de periferia, indo de 29% para 38%.
Também no nordeste a diferença a favor de Dilma vem caindo, com a presidente marcando em média 45% das intenções de votos, quando já teve um piso maior de cerca de 60%. Marina aparece com uma votação homogênea na região, em torno de 30% dos votos, o que obriga a presidente Dilma a melhorar sua atuação em outras regiões do país. 
Dos poucos números ruins para a presidente é a expectativa de vitória entre os eleitores, independente de suas intenções de voto. Menos da metade (47%) hoje consideram que ela será a vencedora, índice esse que já foi de quase 60%. Mesmo assim, os que crêem em uma vitória de Marina Silva, embora tenham crescido de 17% para 28%, ainda não representam a maioria, o que demonstra que a “onda Marina” ainda não convenceu.
Até mesmo a rejeição à presidente caiu, segundo o Ibope, embora ela continue tendo a taxa mais alta: já foi de 36%, agora é de 31%. O que ficou demonstrado nessas últimas pesquisas é que a candidatura da presidente Dilma, apesar do sentimento de mudança que domina o eleitorado e dos resultados pífios de seu governo, continua tendo uma resiliência marcante, que se deve à estrutura partidária que a apóia.
Não é por acaso que também ela já admite mudanças num eventual segundo governo. É graças a sua máquina partidária, que representa o que há de mais distorcido no sistema de coalizão brasileiro, que a presidente está resistindo ao ataque da “nova política”, que se apresenta ainda como favorita no segundo turno, apesar de todas as contradições e fragilidades de Marina Silva.

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