quarta-feira, 3 de setembro de 2014

COMENTÁRIO: Guardião, mas nem tanto

Por CELSO MING - ESTADAO.COM.BR

Nesta terça-feira, na sua nova função de rebatedor das críticas à política econômica do governo Dilma em tempo eleitoral, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu de afirmar que “a inflação se combate com política monetária firme”
Nesta terça-feira, na sua nova função de rebatedor das críticas à política econômica do governo Dilma em tempo eleitoral, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu de afirmar que “a inflação se combate com política monetária firme”. Ou seja, que a inflação se combate com racionamento de moeda à economia, com política de juros.
Isso aí foi dito por quem, até agora, pouca importância deu à política monetária como instrumento contra a inflação. Mesmo com os juros básicos (Selic) ao nível dos 11,0% ao ano, o governo Dilma preferiu usar a política monetária para outros fins.
Na sua primeira parte de governo (de agosto de 2011 a início de 2013), os juros foram derrubados para ajudar a puxar pelo consumo. A partir de abril de 2013, foram operados como força subsidiária, não propriamente para combater a inflação, mas para evitar que saísse do controle. As armas mais importantes para segurar os preços passaram a ser o achatamento do câmbio (âncora cambial), para impedir o repasse da alta dos importados para a inflação; e o represamento dos preços administrados, especialmente dos combustíveis, da energia elétrica e dos transportes urbanos.
O Banco Central (BC) atuou mais como pau mandado do que com política própria. Durante certo tempo, denunciou o estouro das contas públicas, pelas suas fortes consequências inflacionárias. Mas foi enquadrado e aí, sem maiores explicações, preferiu recitar o mantra de que “se criam condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”.
Até hoje, seu discurso é o de que a administração do câmbio se limita a impedir a excessiva volatilidade das cotações. Ninguém acredita nesse lero-lero. O BC trata de segurar a inflação com leilões de swap cambial, equivalentes à venda de dólares no câmbio futuro, num total que se aproxima dos US$ 95 bilhões.
Até agora ninguém entendeu, também, por que a inflação “tende a entrar em trajetória de convergência para a meta (de 4,5% ao ano) nos trimestres finais do horizonte de projeção”. A simples necessidade de que, passadas as eleições, o governo inicie o processo de descompressão dos preços administrados, que correspondem a cerca de 25% dos preços da economia, aponta para a quase impossibilidade de convergência da inflação para a meta em 2015 e possivelmente também nos primeiros meses de 2016.
A mais recente contradição é a de que, numa fase de arrocho monetário (alta dos juros), o BC admite expandir o crédito por meio do afrouxamento dos depósitos compulsórios sobre depósitos a prazo. (Depósito compulsório é a parcela dos recursos aplicados pelos clientes que os bancos têm de recolher ao BC.) Ou seja, de um lado, fecha a torneira, de outro, abre.
Não há nenhuma indicação de que o Banco Central alterará o nível dos juros, nem na reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) agendada para hoje nem nas duas últimas de 2014.
A política acochambrada da atual administração solapou a credibilidade do BC, a ponto de trazer ao debate eleitoral a necessidade de garantir por lei, e não apenas de fato, a autonomia do guardião da moeda.
CONFIRA:
Os preços do petróleo, em queda desde junho. Ontem a cotação do WTI, o petróleo mais leve, dos Estados Unidos, desabou 3,2%.
Apesar das convulsões
Essa baixa acontece num momento de grande tensão geopolítica que, em outros tempos, produzia efeito oposto. Desta vez, prevalecem dois fatores que tendem a reduzir a demanda e dois que aumentam a oferta. Entre os primeiros estão o crescimento econômico mais fraco da China e da Europa. A oferta está sofrendo o impacto da retomada das exportações pela Líbia e do aumento de produção nos EUA.

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