sexta-feira, 5 de setembro de 2014

COMENTÁRIO: A pretexto de tostar Mantega, Dilma se autofrita

 Por Josias de Souza  - UOL

Dilma Rousseff opera uma revolução nos costumes político-administrativos. Noutros tempos, presidentes livravam-se de problemas fritando ministros. Hoje, Guido Mantega, já bem passado, conserva-se grudado na poltrona de ministro da Fazenda. E a presidente, a pretexto de virar o auxiliar na frigideira, se joga no óleo quente. A autofritura é original. Mas não resolve os problemas. Agrava-os.
De passagem por Fortaleza na quinta-feira, Dilma foi indagada sobre o futuro do seu ministro da Fazenda. Ao final de uma resposta cheia de floreios, a presidente cravou uma coroa de espinhos na cabeça do auxiliar: “Eleição nova, governo novo, equipe nova.'' Quem ouviu ficou com a impressão de que os problemas econômicos do país têm nome e sobrenome: Guido Mantega.
Se isso fosse verdade, a solução seria rápida e barata. Levaria o tempo necessário para redigir uma exoneração. E custaria a folha de papel e a tinta. O diabo é que o problema do governo tem outro nome. Chama-se Dilma Rousseff. Ela chegou ao Planalto carregada pelos brasileiros que acreditaram estar votando numa executiva de alta qualificação. Tornou-se problema ao revelar-se uma gestora centralizadora e precária, a quem o eleitorado hesita em conceder o prêmio da reeleição.
Numa visão simplificada, há sobre a mesa duas encrencas econômicas: inflação alta e PIB estagnado —com tudo o que vem de cambulhada. Por exemplo: o descontrole fiscal, os juros gordos, o câmbio sobrevalorizado, os investimentos mixurucas… Até ontem, Dilma não tinha nada a dizer sobre nenhum desses temas, exceto o seguinte: “Culpa da crise internacional.”
Acossada pela antagonista Marina Silva, que a acusa de desconhecer o vocábulo autocrítica, Dilma pôs-se a apontar para Guido Mantega, insinuando que, reeleita, enviará sua tostada figura para o olho da rua. Todo o mercado sabe que, desde 2011, o comando da economia é exercido no Palácio Planalto, não no Ministério da Fazenda. Mantega tornou-se, não é de hoje, peça de decoração.
Assim, ao declarar “eleição nova, governo novo, equipe nova'', Dilma corre o risco de ser mal entendida. As pesquisas já indicam que a plateia está tentada a corrigir o final da frase. Pode ficar assim: “Eleição nova, governo novo, presidente nova”. Por ora, os comentários de Dilma produziram dois míseros efeitos: a oradora autofritou-se. E condenou seu ministro da Fazenda a brincar de esconde-esconde até dezembro.

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