quinta-feira, 4 de setembro de 2014

COMENTÁRIO: Fim de ciclo

Por CELSO MING - ESTADAO.COM.BR

Os benefícios dos bons tempos vão rareando para o Brasil cujo governo se comportou mais como cigarra do que como formiga, deu prioridade ao consumo, não investiu e agora vai amargar tempos mais difíceis
Nem todas as explicações do governo sobre o mau desempenho da economia são desculpas deslavadas. Quando a presidente Dilma afirma, por exemplo, que o PIB fraco se deveu à queda dos preços das commodities disse alguma coisa com coisa. O problema aí foi não ter levado isso em conta.
De 2002 a 2012, o mundo passou por um ciclo de alta dos preços dos alimentos e das matérias-primas. A principal explicação para isso foi a enorme demanda produzida pela China, que tem uma profusão de capitais e de chineses, mas é fortemente dependente da importação de energia e de matérias-primas. Nesse período, apontam dados da FAO, apenas os preços dos cereais avançaram 152%.
Foi um tempo de bonança em que fornecedores, como o Brasil, puderam reverter seus déficits no balanço de pagamentos, propiciaram aumento da renda e da arrecadação de impostos.
Há evidências de que esse tempo de vacas gordas acabou. Só neste ano, os preços do minério de ferro caíram 36,5%; os da soja, 16,2% (Veja o Confira); e os do milho, 14,8%. Nesta quarta-feira, as cotações do minério de ferro atingiram US$ 85,70 por tonelada, as mais baixas desde 2005. O impacto sobre as vendas ao exterior começa a aparecer. Nos oito primeiros meses de 2014, em faturamento, as exportações brasileiras de minério de ferro caíram 9,5%, as de milho, 48,5%; e as de celulose, 20,8%.
Analistas de várias tendências advertem que a paradeira da economia europeia, a fraca retomada da atividade no Japão e a desaceleração da China vêm produzindo acumulação de estoques, não só de matérias-primas, mas também de produtos acabados, como aço, veículos e aparelhos domésticos. E estoques de produtos acabados tendem a produzir mais estoques de produtos intermediários e de matérias-primas.
A economia dos Estados Unidos já engata a segunda marcha e pode atenuar esse processo de baixa, que parece inexorável e não tem data marcada para ser revertido. Isso significa que os benefícios dos bons tempos vão rareando para o Brasil cujo governo se comportou mais como cigarra do que como formiga, deu prioridade ao consumo, não investiu e agora vai amargar tempos mais difíceis.
Ah, sim, tem o pré-sal. O País se tornará respeitável exportador de petróleo dentro de mais três anos. As previsões são de que, em 2018, só a Petrobrás produzirá 54% a mais do que os 2,1 milhões de barris diários deste ano. O problema é que também os preços do petróleo estão deslizando. Há uma retomada da produção em alguns países atingidos por conflitos políticos, como a Líbia, e aumenta o bom desempenho do setor do xisto na América do Norte. São fatores que devem ajudar a derrubar os preços. Mas isso não é tudo. Este é um setor cujas previsões enfrentam imponderáveis, como o relativo controle do mercado pelo cartel da Opep, que pode cortar fornecimentos para estancar queda de receita.
De todo modo, o Brasil vive um período de fim de ciclo. A balança comercial deixou de apresentar superávits de até US$ 46 bilhões, como a de 2006, e tende a apresentar déficits ou resultados relativamente equilibrados. Qualquer programa de investimentos já não pode mais tirar proveito dos tempos dourados.
CONFIRA:

Aí está a evolução das cotações da soja em 2014. O complexo (grão, farelo e óleo) tem participação de 18% nas exportações brasileiras.
Copom
A retirada da expressão “neste momento” do comunicado do Copom não deixa de ter ambiguidade. Os juros básicos seguem em 11,0% ao ano, sem compromisso de que permaneçam assim nem de que sejam alterados.
Pra que mudar?
A presidente Dilma admite mudanças na equipe econômica. Mas para que mudar se tudo vai bem?

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